* Por Lívio Oricchio
De alguma forma os interesses da Fórmula 1 serão afetados com o veredicto de culpado a Gerhard Gribkowsky, o diretor do banco alemão Bayern LB. O economista recebeu sentença de oito anos e meio de prisão por aceitar propina de 27 milhões de libras (R$ 75 milhões) de Bernie Ecclestone, em 2005, a fim de convencer os donos do Bayern LB a vender sua participação de 48 % na Fórmula 1.
Ecclestone trabalhava para o grupo de investimento inglês CVC Capital Partners se tornar o principal proprietário dos direitos comerciais da Fórmula 1. Em 2001, o alemão Leo Kirch tomou empréstimo do Bayern LB para adquirir uma porcentagem da Slec, empresa que explorava comercialmente a Fórmula 1. Com a quebra do grupo de Kirch, o banco tornou-se, sem querer, sócio da Fórmula 1. O grupo CVC interessou-se em ser o novo dono da Fórmula 1 e em 2005 fez proposta para adquirir a participação do banco. Ecclestone pagou Gribkowsky e o negócio acabou facilitado.
A justiça alemã pode chegar em Ecclestone depois de condenar o ex-diretor do banco. “Paguei, sim, mas 10 milhões de libras e a título de comissão”, defende-se o homem-forte da Fórmula 1. Se a justiça não conseguir provar nada contra o inglês a própria CVC, ainda hoje sócia majoritária da Fórmula 1, pode ser obrigada a afastar Ecclestone da direção executiva do seu evento.
A participação do inglês hoje é pequena na empresa que explora comercialmente a Fórmula 1. O afastamento de Ecclestone seria contra a vontade da CVC. Atua mais como representante da CVC na Fórmula 1. Seria para passar a ideia de não compactuar com comportamentos de legalidade duvidosa. Tudo como se a própria CVC não soubesse da iniciativa de Ecclestone de induzir Gribkowsky a agir de acordo com os seus interesses empresariais.
É bom não esquecer que a Fórmula 1 tem quase tudo pronto para entrar na bolsa de valores de Cingapura. E quem desejaria comprar ações de um produto onde seu principal líder é acusado pela justiça ou, se não for o caso, agiu sem ética? É preciso esclarecer tudo e provar a inocência de Ecclestone para prosseguir conduzindo o negócio. Ou eventualmente sua culpa.
Outro desdobramento bastante desfavorável da condenação de Gribkowsky para a Fórmula 1 é o risco de a Mercedes simplesmente abandonar a competição. O jornal alemão Handelsblatt publicou que o grupo Daimler, a quem pertence a Mercedes, reproduzindo o pensamento de sua direção, “não tolera prática de corrupção ou imorais de seus empregados ou parceiros nos negócios”. E completou: “A consequência pode ser a equipe Mercedes deixar a Fórmula 1”.
A própria relação da Mercedes com Ecclestone atingiu nas últimas semanas o ápice do desentendimento, mas por outras razões. Para estender o Acordo da Concórdia, contrato que estabelece as obrigações e direitos das equipes em relação aos donos dos direitos comerciais, Ecclestone ofereceu à Mercedes um valor bem mais baixo que o da maioria dos demais times, por alegar que sua participação no Mundial se resume às temporadas de 1954 e 1955 e desde a volta ao campeonato, 2010, 2011 e agora 2012.
A direção da Mercedes até mesmo se chocou ao saber que, além de a oferta ser baixa, não foi convidada para fazer parte da empresa que detém os direitos comerciais da Fórmula 1 e, portanto, com voz ativa da definição dos rumos do negócio. Apenas Ferrari, McLaren e Red Bull tiveram esse privilégio.
Portanto, há um profundo desgaste nas relações da Mercedes com Ecclestone agravadas ainda mais com o escândalo da propina ao diretor do banco Bayern LB. Não é possível para a Fórmula 1 abrir parte de seu capital na bolsa de Cingapura com tantas incertezas e evidências de cisão interna no comando, como está claro hoje. O horizonte político da competição certamente preocupa todos os seus profissionais e investidores.
Mudando de assunto, é grande o interesse a respeito do desempenho da equipe Red Bull no próximo fim de semana em Silverstone. Se a impressionante vantagem evidenciada em Valência for confirmada, resultado do lançamento de uma nova versão do modelo RB8-Renault, as demais 11 etapas do campeonato deverão ser distintas das disputadas até agora. Parece ser possível a Sebastian Vettel e Mark Webber se imporem sobre os adversários como não ocorreu este ano com ninguém.
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