* Por Bruno Vicaria
É uma grande pena o que aconteceu com Maria de Villota na última terça-feira. Uma infelicidade sem tamanho. O acidente que aconteceu no Aeroporto de Duxford não apenas interrompeu a carreira dessa jovem e bonita espanhola (que carregará uma sequela horrível para o resto da vida), como também ligou o botão de alerta na Fórmula 1.
O primeiro sinal é mais um aviso: a Fórmula 1 é um esporte veloz e machuca. Não importa a quantidade de testes de segurança feitos em laboratório. Quando tem de acontecer, acontece, os pilotos não estão 100% protegidos e que este acidente sirva de lição para que a categoria não esmoreça em busca da melhor segurança de seus representantes.
Já o segundo é uma crítica: carro de Fórmula 1 foi feito para andar em pista. Independente do que aconteceu, se foi falha humana ou mecânica, é uma estupidez sem tamanho proibir testes. Existem centenas de circuitos, quiçá milhares, espalhados pelo mundo todo, mas uma regra besta com o objetivo falho de economizar alguns trocados faz com que as equipes busquem brechas e andem em locais totalmente despreparados.
Se fosse esse teste realizado em um circuito, dificilmente haveria algum obstáculo na altura da cabeça do piloto. O acidente talvez seria inevitável, mas, certamente, Maria sairia andando tranquilamente.
O quanto a Marussia economizou nisso tudo? Provavelmente terá de dar assistência para Villota por um bom tempo, quem sabe até o resto da vida dela. Será que saiu barato? A conta do hospital poderia muito bem ter sido enviado à FIA, mas a entidade certamente lavaria suas mãos.
A Fórmula 1, que preza tanto e cobra dos circuitos uma grana preta e um tipo de padrão caríssimo para poder correr neles, não pode deixar que testes sejam realizados em retas de aeroportos, que, podem ter falhas de asfalto e, certamente, não possuem a mínima infra-estrutura para isso. Pode servir para máquinas que voam alto, mas não para as máquinas que voem baixo.
Aliás, proibir os testes uma prova da FIA de que não confia nem um pouco nas equipes do grid. Se fosse estabelecido um certo tipo de congelamento no desenvolvimento de partes do carro, ou um formato padrão de alguns ítens, ou até mesmo uma promessa, uma palavra das equipes garantindo que nada será feito contra a lei da F-1, os testes poderiam ser livres. Vemos categorias mais pobres e em crise como a Fórmula Indy realizar testes constantemente e isso não inflaciona o orçamento de ninguém lá.
Afinal, não estamos mais nos anos 80 e 90, não existem mais máquinas de dinheiro sendo despejadas na categoria, o viés tecnológico, uma desculpa utilizada para a F-1 poder gastar até as tampas, já não faz mais sentido. A última inovação útil, chamada Kers, demorou anos para ser aceita, por ser pesado e atrapalhar a velocidade dos carros. Mas, peraí... Velocidade não é tecnologia.
Talvez fosse momento para a F-1 repensar até mesmo seu conceito, olhar para trás, para os anos 70, 80, para soluções criadas por outras categorias, como Fórmula Indy e MotoGP, deixar de lado essa busca tecnológica por um tempo, quem sabe ser mais liberal (ou radical), congelando os carros por três, cinco anos, permitindo a times pequenos utilizarem modelos de outras equipes, não insistir na ideia de que cada um tenha de ter o seu carro, o seu desenvolvimento.
Vivemos em momentos de crise, sim. Mas precisamos tomar cuidado para que as soluções adotadas não levem a uma crise ainda maior, talvez sem precedentes. Uma mulher perdeu a vista nisso tudo, mas o pior cego é quem não quer ver. E este cego não carrega sobrenome Villota.
Um comentário:
Fodástico o texto, curti.
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