segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

NEWMAN/HAAS: FIM DE UMA ERA NA INDY*

* Por Jeff Olson, do AUTOSPORT.com

A voz no telefone é o típico Oriol Servià. Alegre, otimista, brincalhão. “Oriol?”, pergunta quem está ligando. Uma longa pausa. “Sim, é ele. Ele sou eu”. Ele é o Servià de sempre, mesmo dias após perder o emprego.

Existem razões para o bom humor de Servià apesar da falência da Newman/Haas Racing, a lendária equipe americana fundada em 1983 por Carl Haas e Paul Newman que produziu carros para lendas como Michael e Mario Andretti, Nigel Mansell, Cristiano da Matta e Sébastien Bourdais e permaneceu surpreendentemente forte mesmo próxima de uma súbita despedida. Servià foi o quarto colocado na temporada 2011 da Indy pelo time e seu companheiro James Hinchcliffe foi o Estreante do Ano.

Repentinamente, na semana passada, a equipe anunciou que não alinharia carros para a temporada 2012. No último minuto, um contrato de patrocínio foi perdido e Servià recebeu a informação – não inesperada, mas ainda devastadora – pouco tempo depois de um voo de Chicago para Barcelona: bem-vindo, você está desempregado.

Hoje, porém, Servià está bem-humorado com o que acontece ao seu redor. No início do dia, participou de uma sessão fotográfica e fez um “road test” para uma revista. O tema do anúncio eram carros quentes e ele teria de dirigir e analisar os quatro melhores. Você não pode ficar mau humorado após torturar o asfalto com um McLaren MP4-12C, uma Ferrari 458, um Lamborghini Aventador LP700-4 e um Porsche 911 Turbo.

O emprego que se dane. Carpe diem. Acelera.

Além disso, ainda se mantém otimista em relação à Newman/Haas, ainda convencido de que o fim de uma das equipes mais bem-sucedidas na história do automobilismo norte-americano não é definitivo. Os donos do time decidiram que as atividades serão suspensas em 2012, mas insistem que as portas da loja em Lincolnshire, em Illinois, não se fecharão. Não importa o quão terrível pareça.

“Em seus corações, eles queriam continuar”, afirma Servià. “Foi o que eles fizeram durante todas suas vidas. Mas pelo marketing, 2012 ficaria difícil. Sabia que [a solução do problema] era possível quando entrei no avião, tinha esperança. Nessa altura, a coisa estava meio a meio e achei que a equipe poderia conseguir [o patrocínio]. Com a chegada dos novos carros, você precisa ter milhões para locações, chassis e peças de reposição. Se você não tem um grande patrocinador disposto a se comprometer com tudo isso, você não pode continuar.”

O problema por trás da nova Indy – o chassi Dallara e os motores turbo Honda, Chevrolet e Lotus – está prestes a bater no ventilador. A turma do fim dos tempos prevê um desastre quando os carros forem entregues às equipes no fim deste mês. Os que guiam o trem do otimismo estão convencidos do sucesso da transição.

Você tem uma dica sobre a lealdade de Servià.

“A situação na Newman/Haas é um pouco diferente das outras equipes. As outras equipes terão de economizar seus dólares. No ano passado, já foi difícil garantir um acordo de patrocínio e [o orçamento] será apertado para outros times no ano que vem, mas cada equipe está em uma posição diferente e a maioria deles estão em uma situação melhor que a nossa. A Newman/Haas tem uma grande administração. Se um bom patrocinador entrasse no momento certo, eles ainda estariam funcionando.”

A verdade é o que aconteceu à Newman Haas é provavelmente permanente, e a equipe não será a última das pequenas na Indy a fechar as portas devido ao custo do novo carro. Rumores dão conta que algumas equipes ameaçam recusar o chassi da Dallara, enquanto outras estão à beira da falência. Os pessimistas preveem um grid de 15 carros na prova de abertura em Saint Petersburg, no dia 25 de março. Os otimistas lhe dariam datas para o resto do calendário de 2012, mas a categoria ainda tem que liberar a programação, uma peculiaridade notada por ambos os lados.

Os defensores de Randy Bernard argumentam que tudo vai bem. Para eles, a recente decisão de tirar Brian Barnhart do cargo de diretor de provas foi um passo positivo e a maioria das equipes está bem preparada, do ponto de vista financeiro, para a transição. Eles admitem que o processo tem sido penoso e que a tragédia de Las Vegas agravou ainda mais as dificuldades de vender o esporte como publicidade às corporações, mas apoiam firmemente a mudança e insistem que a transformação funcionará.

Servià se coloca neste ponto. Para ele, o único ponto negativo é a queda de uma lendária equipe que resistiu a uma tragédia (ou voltou dela) durante os últimos quatro anos. Antes na brindada Champ Car (e portadora de marcas como Texaco, K-Mart e McDOnald’s), a equipe perdeu seu imutável líder Paul Newman em 2008, lamentou a morte do mecânico Davey Evans durante um bizarro ataque em um bar de Indianápolis no mesmo ano e lutou recentemente com a frágil saúde de Haas. Mas mesmo com uma fração do orçamento das equipes de ponta, a Newman-Haas continuou a ser bastante competitiva. Até o fim.

“De uma certa forma, fomos a surpresa da temporada [2011]”, afirmou Servià, cuja expressão transita do otimismo ao sentimentalismo. “Fizemos algo que apenas uma das Penskes e duas das Ganassis puderam. Eles não tinham tanto orçamento, mas conseguiram. Agora quando você tem um carro novo e caro e perde um acordo de patrocínio, simplesmente a coisa não vai seguir.”

Naturalmente, enquanto surgem os clamores pelos serviços da dupla, Servià e Hinchcliffe seguirão em frente. Servià é um dos melhores no jogo e o que obteve em 2011 apenas reitera a questão. Ele foi o piloto que mais completou voltas, o que mantém intacta sua reputação de piloto preciso. Servià raramente bate, é consistente e nunca teve o luxo de um acordo de longa duração com uma equipe A, embora seja bom o suficiente para uma. Ele mantém os pés no chão.

Mas e a antiga equipe? E a categoria? Até o mais otimista entre nós sabe que nem tudo serão rosas e borboletas. No mínimo, será uma longa e difícil transição. Na pior das hipóteses, a Newman/Haas não será a última a abandonar o campeonato.

“Todo ciclo tem um fim”, afirma Servià, calmamente. “Quando algo é bom, ninguém quer que termine. Nunca vou me cansar de dizer: ‘Foi uma das melhores equipes em que trabalhei’. Era um grupo fechado e motivado. Eram mais eficazes que outros times, mas tiveram de parar. É muito triste, mas todos nós temos de prosseguir.”

Momentos após a conversa, alguém bate na minha porta. A FedEx me entrega uma caixa e logo reconheço. Todo ano, Carl Haas envia um presente de fim de ano para as pessoas no meio. Toranja do Texas, sensacional como sempre, mas nesta época, particularmente agridoce.

Fim do mundo? Difícil. Fim de uma era? Definitivamente.

Um comentário:

Igor * @fizomeu disse...

torço para que a tradicional newman-haas volte à categoria em breve, mas acho muito difícil isso acontecer.. uma pena!!!