quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

A SUBJETIVIDADE DA REGRA*

* Por Renan do Couto

Eu ia escrever esse post na semana do GP da Índia, mas acabou passando. Lembrei do tema com essa foto, de Felipe Massa e Lewis Hamilton no GP do Brasil. O clique é do Beto Issa.

Já entenderam do que se trata o post?

Reparem na posição de Massa: as quatro rodas estão além da linha branca. Ele está desrespeitando os limites da pista e, certamente, levando vantagem por isso. Hamilton fará o mesmo. Todos sabem que, no Bico de Pato, é preciso colocar o carro todo na zebra para ganhar tempo, para fazer a curva com perfeição. Massa, que anda bem como poucos em Interlagos, sabe mais do que ninguém como esse detalhe é importante.

Colocar as quatro rodas além da linha branca na entrada dos boxes não rendeu a Massa um grande ganho. Não deve ter sido nada além de meio décimo. Hamilton continuou colado nele.

A punição é correta na medida em que Charlie Whiting, no briefing, alertou os pilotos quanto à regra dos limites da pista naquele ponto (vejam a imagem). Os pilotos da Mercedes estavam atentos e acusaram Massa de não cumprir o regulamento. Beleza, drive-through aplicado, como tinha de ser. (Outra questão: Massa foi punido em 20s por uma manobra que não lhe deu nem meio décimo. É preciso rever, também, as penalizações da F1. No DTM, ele teria 1s acrescido ao tempo final de prova e pronto).

O problema mesmo é a subjetividade da regra.

Romain Grosjean foi punido no GP da Hungria por causa da ultrapassagem mais bonita do ano. Passou a Ferrari de Massa por fora em uma curva de alta velocidade, a mais rápida do circuito. Colocou as quatro rodas além da linha branca, é verdade, por muito pouco. Não andou mais rápido por causa disso. A interpretação dos comissários foi: Grosjean só tentou a ultrapassagem porque sabia que ali havia asfalto; fosse grama, terra, brita ou lama, não tentaria. OK.

Eu estava nessa corrida da Hungria. Na coletiva de Massa, a primeira pergunta feita em inglês foi: “Você acusou Grosjean, pediu uma punição?” Massa rebateu dizendo que o francês fora punido por causa de outro incidente, com Jenson Button. “Não, foi por causa da ultrapassagem sobre você”, alertamos. E o brasileiro falou que nem viu que a Lotus colocou as quatro rodas fora da pista: “Então a punição foi errada. E ele colocou só duas rodas fora.” Para todos verem como foi sutil o lance. (Atualização: só para ficar claro, depois da corrida, Grosjean recebeu um segundo drive-through pelo choque com Button, mostrado no vídeo abaixo).

Punir Grosjean foi tão absurdo que até a FOM cornetou a FIA ao recuperar uma imagem da primeira volta e mostrar que Kimi Räikkönen, em uma disputa de posição, saiu da pista no mesmo ponto. Ele levou tanta vantagem quanto Grosjean. Vamos em frente.

No mesmo GP da Hungria, vários pilotos saíram da pista com as quatro rodas na saída da curva 11. Não ganharam posições, mas, se tentassem manter o carro no traçado, acabariam perdendo um pouco de aceleração. Só forçaram desse jeito porque sabiam que ali havia asfalto; fosse grama, terra, brita ou lama, não tentariam.

Citei o GP da Índia lá no começo do post pela mesma razão. É o maior exemplo do ano neste sentido. Observem em vídeos de lá: nas curvas de alta, nos esses em sequência, os pilotos saíram da pista o tempo todo. E ninguém foi punido.

O pior é que a F1 é um exemplo para as categorias do resto do mundo. Aí acontece o que aconteceu com Átila Abreu naquela etapa de Cascavel da Stock Car, aquela punição esdrúxula que ele recebeu pela ultrapassagem por um Max Wilson que não deu espaço. Até Max, o ultrapassado, posicionou-se contra os comissários.

A regra é clara, mas não é aplicada o tempo todo. Torna-se, portanto, bem subjetiva, para falar a verdade. A impressão que dá é que os comissários tomam essas decisões pensando em não criar pretextos para outros casos. Com isso, as decisões acabam sendo tomadas com um preciosismo que só arranha a imagem do esporte. Fica chato. Quem vê em casa, pensa: “Mas tudo é punição, não aguento mais isso.” E os pilotos vão começar a pensar três vezes antes de arriscar uma manobra. E vão reclamar que as corridas estão chatas, que ninguém pensa ninguém, que os pilotos de hoje em dia não tem colhões.

A FIA precisa parar com essas frescuras e devolver as corridas aos pilotos.

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