quinta-feira, 24 de outubro de 2013
O recorde de pontos de Alonso não tem esse peso todo*
* Por Lívio Oricchio
Enquanto os fãs da Fórmula 1 se preparam para assistir ao provável tetracampeonato de Sebastian Vettel, da Red Bull, no próximo fim de semana, em Nova Delhi, Fernando Alonso, da Ferrari, faz sua festa particular com o que considera “o recorde de maior número de pontos da história”.
E está tão feliz desde Suzuka, dia 13, quando superou o então líder desse ranking, Michael Schumacher, que entra na pista no circuito Buddh, amanhã, nos primeiros treinos livres do GP da Índia, com um capacete desenhado para celebrar o feito. Mandou pintar o número de pontos que atingiu desde a estreia na Fórmula 1, no GP da Austrália de 2001, pela Minardi: 1.571, obtidos em 210 Gps.
O “recorde” anterior pertencia ao alemão sete vezes campeão do mundo, que entre a estreia no GP da Bélgica de 1991 até o GP do Brasil de 2012, quando abandonou definitivamente a Fórmula 1, havia somado 1.566 pontos, em 308 Gps.
Mas será que esse “recorde” tem mesmo a validade toda que Alonso o atribuiu?
A resposta é, com certeza, não. O que não diminui em nada a trajetória desse polêmico piloto, duas vezes campeão do mundo, tido pela maioria na Fórmula 1 como um dos maiores de todos os tempos, apesar dos dois títulos, apenas.
A razão para o “recorde” de Alonso não ter significado maior é o fato de o critério de pontuação da Fórmula 1 ter mudado ao longo dos anos. Sendo que a partir de 2010 a mudança foi radical, o que praticamente inviabiliza confrontar o número de pontos antes de 2010 com o que os pilotos conseguiram a partir daquela temporada.
“Sei que o critério mudou, mas no futuro serei ultrapassado por alguém. Enquanto isso não acontece é muito bom ver o seu nome no topo da lista”, afirmou, muito animado, Alonso, ainda no GP do Japão.
Dois pesos, duas medidas
A questão é simples de ser compreendida, usando apenas o número de pontos destinado ao vencedor das corridas. De 1950, quando o Mundial de Pilotos passou a ser disputado, a 1959, o primeiro colocado recebia 8 pontos. E apenas o seis primeiros somam pontos: 6 para o segundo colocado, 4 ao terceiro, 3 ao quarto, 2 ao quinto e 1 para o piloto que realizasse a melhor volta na prova.
A partir de 2010, o vencedor de um GP ganha 25 pontos. E os dez primeiros recebem pontuação. Isso quer dizer que para Juan Manuel Fangio, por exemplo, de 1950 a 1958, quando competiu na Fórmula 1, somar os 25 pontos do primeiro colocado, hoje, precisaria vencer mais de três Gps, pois o critério previa apenas 8 pontos ao primeiro colocado (8 x 3 = 24). E pesa ainda o fato de naquele tempo as temporadas terem sete ou oito etapas, e não 19 ou 20, como nos últimos anos.
É como se colocassem na cesta de frutas 10 laranjas e 10 tangerinas e dissessem que há na cesta 20 laranjas. Não é possível misturar as coisas.
Na realidade, nem é preciso ir tão longe no tempo para entender como não faz sentido um piloto dizer que é o recordista de pontos. Da estreia na Fórmula 1, em Spa-Francorchamps, em 1991, ao GP do Brasil de 2006, quando decidiu pela primeira vez deixar de correr na Fórmula 1, Schumacher somou 1.369 pontos, em 250 Gps. Em 2010, voltou a correr e nas três temporadas em que competiu pela Mercedes, 58 Gps, somou pelo critério atual 197 pontos.
De 2003 até o fim de 2009, o critério previa 10 pontos para o vencedor, 8 ao segundo colocado, 6 ao terceiro, 5 ao quarto, 4 ao quinto, 3 ao 4 ao quinto, 3 ao sexto, 2 ao sétimo e 1 ao oitavo. Apesar de distinto do adotado no começo da história da Fórmula 1, não representa uma diferença chocante, como é o caso do critério que estreou em 2010, com 25 pontos ao vencedor e os dez primeiros colocados somarem pontos.
Utilizando-se o critério de 2003 a 2009, Schumacher faria de 2010 a 2012, nos 58 Gps que largou, 75 pontos em vez de 197 pontos. Somando-os aos 1.369 que tinha quando parou, no fim de 2006, o alemão atingiria 1.444 pontos.
Fernando Alonso, no fim de 2006, já era bicampeão do mundo e havia conquistado 381 pontos, em 87 Gps. Nos três anos em que Schumacher não correu, de 2007 a 2009, Alonso disputou outros 52 Gps, chegando a 139 largadas. Com os 196 pontos que somou nesses três anos, atingiu 577 pontos (381 + 196).
Em outras palavras, quando Schumacher voltou para a Fórmula 1, em 2010, tinha 1.369 pontos em 250 Gps e Alonso, 577 em 139 Gps. E os pontos foram obtidos segundo quase o mesmo critério. A diferença é que de 1991 a 2002, apenas os seis primeiros recebiam pontos e de 2003 a 2009, os oito primeiros. Ao vencedor a FIA continuou atribuindo 10 pontos. Na sequência houve pequena variação, como 8 pontos em vez de 6 para o segundo colocado. Não foi nada gritante como a partir de 2010.
A realidade é outra
Se for adotado esse critério de 2003 a 2009 para também atualizar os pontos que Alonso obteve de 2010 para cá, incluindo as 16 etapas já disputadas este ano, o espanhol teria 408 pontos em vez dos 994 que na realidade somou desde a mudança do sistema de pontuação em 2010.
Há uma diferença de 586 pontos (994 – 408) entre o somado por Alonso de 2010 até o GP do Japão, há menos de duas semanas, e o que somaria se o critério de 2003 a 2009 fosse mantido. Esses 586 pontos correspondem a 58,9 % do total conquistado por Alonso no período.
Se os 408 pontos do critério anterior forem somados aos 577 que Alonso obteve pelo critério adotado de 2003 a 2009, desde a sua estreia na Fórmula 1 até hoje, seu total seria de 985 pontos, em 210 Gps. É um valor que fica bem aquém dos 1.571 atuais.
O confronto com Schumacher não tem elevada representatividade por o alemão ter largado em 308 Gps e Alonso, 210, ou cerca de 32% a menos. Mas seguindo apenas o ranking dos pilotos com maior número de pontos na história, sem levar em conta quantos Gps disputou, como a estatística mais considera, então Schumacher teria 1.444 pontos e Alonso, 985.
Do início de suas carreiras, em 1991 e 2001, até o fim de 2009, os pontos que somaram obedeceram critério bem semelhante. A partir da volta de Schumacher, em 2010 e utilizando-se o mesmo critério que vigorou de 2003 até o fim de 2009, Schumacher teria 1.444 pontos e Alonso, 985.
Com o novo critério, contudo, que permitiu Alonso somar bem mais pontos de 2010 para cá, nos últimos 58 Gps, o espanhol atingiu 1.571 pontos, enquanto Schumacher, 1.566. É uma marca de respeito, ninguém pode negar, mas, pela diferença de critério, por misturar laranjas com tangerinas, não possui a representatividade que Alonso tanto apregoa.
Enquanto os fãs da Fórmula 1 se preparam para assistir ao provável tetracampeonato de Sebastian Vettel, da Red Bull, no próximo fim de semana, em Nova Delhi, Fernando Alonso, da Ferrari, faz sua festa particular com o que considera “o recorde de maior número de pontos da história”.
E está tão feliz desde Suzuka, dia 13, quando superou o então líder desse ranking, Michael Schumacher, que entra na pista no circuito Buddh, amanhã, nos primeiros treinos livres do GP da Índia, com um capacete desenhado para celebrar o feito. Mandou pintar o número de pontos que atingiu desde a estreia na Fórmula 1, no GP da Austrália de 2001, pela Minardi: 1.571, obtidos em 210 Gps.
O “recorde” anterior pertencia ao alemão sete vezes campeão do mundo, que entre a estreia no GP da Bélgica de 1991 até o GP do Brasil de 2012, quando abandonou definitivamente a Fórmula 1, havia somado 1.566 pontos, em 308 Gps.
Mas será que esse “recorde” tem mesmo a validade toda que Alonso o atribuiu?
A resposta é, com certeza, não. O que não diminui em nada a trajetória desse polêmico piloto, duas vezes campeão do mundo, tido pela maioria na Fórmula 1 como um dos maiores de todos os tempos, apesar dos dois títulos, apenas.
A razão para o “recorde” de Alonso não ter significado maior é o fato de o critério de pontuação da Fórmula 1 ter mudado ao longo dos anos. Sendo que a partir de 2010 a mudança foi radical, o que praticamente inviabiliza confrontar o número de pontos antes de 2010 com o que os pilotos conseguiram a partir daquela temporada.
“Sei que o critério mudou, mas no futuro serei ultrapassado por alguém. Enquanto isso não acontece é muito bom ver o seu nome no topo da lista”, afirmou, muito animado, Alonso, ainda no GP do Japão.
Dois pesos, duas medidas
A questão é simples de ser compreendida, usando apenas o número de pontos destinado ao vencedor das corridas. De 1950, quando o Mundial de Pilotos passou a ser disputado, a 1959, o primeiro colocado recebia 8 pontos. E apenas o seis primeiros somam pontos: 6 para o segundo colocado, 4 ao terceiro, 3 ao quarto, 2 ao quinto e 1 para o piloto que realizasse a melhor volta na prova.
A partir de 2010, o vencedor de um GP ganha 25 pontos. E os dez primeiros recebem pontuação. Isso quer dizer que para Juan Manuel Fangio, por exemplo, de 1950 a 1958, quando competiu na Fórmula 1, somar os 25 pontos do primeiro colocado, hoje, precisaria vencer mais de três Gps, pois o critério previa apenas 8 pontos ao primeiro colocado (8 x 3 = 24). E pesa ainda o fato de naquele tempo as temporadas terem sete ou oito etapas, e não 19 ou 20, como nos últimos anos.
É como se colocassem na cesta de frutas 10 laranjas e 10 tangerinas e dissessem que há na cesta 20 laranjas. Não é possível misturar as coisas.
Na realidade, nem é preciso ir tão longe no tempo para entender como não faz sentido um piloto dizer que é o recordista de pontos. Da estreia na Fórmula 1, em Spa-Francorchamps, em 1991, ao GP do Brasil de 2006, quando decidiu pela primeira vez deixar de correr na Fórmula 1, Schumacher somou 1.369 pontos, em 250 Gps. Em 2010, voltou a correr e nas três temporadas em que competiu pela Mercedes, 58 Gps, somou pelo critério atual 197 pontos.
De 2003 até o fim de 2009, o critério previa 10 pontos para o vencedor, 8 ao segundo colocado, 6 ao terceiro, 5 ao quarto, 4 ao quinto, 3 ao 4 ao quinto, 3 ao sexto, 2 ao sétimo e 1 ao oitavo. Apesar de distinto do adotado no começo da história da Fórmula 1, não representa uma diferença chocante, como é o caso do critério que estreou em 2010, com 25 pontos ao vencedor e os dez primeiros colocados somarem pontos.
Utilizando-se o critério de 2003 a 2009, Schumacher faria de 2010 a 2012, nos 58 Gps que largou, 75 pontos em vez de 197 pontos. Somando-os aos 1.369 que tinha quando parou, no fim de 2006, o alemão atingiria 1.444 pontos.
Fernando Alonso, no fim de 2006, já era bicampeão do mundo e havia conquistado 381 pontos, em 87 Gps. Nos três anos em que Schumacher não correu, de 2007 a 2009, Alonso disputou outros 52 Gps, chegando a 139 largadas. Com os 196 pontos que somou nesses três anos, atingiu 577 pontos (381 + 196).
Em outras palavras, quando Schumacher voltou para a Fórmula 1, em 2010, tinha 1.369 pontos em 250 Gps e Alonso, 577 em 139 Gps. E os pontos foram obtidos segundo quase o mesmo critério. A diferença é que de 1991 a 2002, apenas os seis primeiros recebiam pontos e de 2003 a 2009, os oito primeiros. Ao vencedor a FIA continuou atribuindo 10 pontos. Na sequência houve pequena variação, como 8 pontos em vez de 6 para o segundo colocado. Não foi nada gritante como a partir de 2010.
A realidade é outra
Se for adotado esse critério de 2003 a 2009 para também atualizar os pontos que Alonso obteve de 2010 para cá, incluindo as 16 etapas já disputadas este ano, o espanhol teria 408 pontos em vez dos 994 que na realidade somou desde a mudança do sistema de pontuação em 2010.
Há uma diferença de 586 pontos (994 – 408) entre o somado por Alonso de 2010 até o GP do Japão, há menos de duas semanas, e o que somaria se o critério de 2003 a 2009 fosse mantido. Esses 586 pontos correspondem a 58,9 % do total conquistado por Alonso no período.
Se os 408 pontos do critério anterior forem somados aos 577 que Alonso obteve pelo critério adotado de 2003 a 2009, desde a sua estreia na Fórmula 1 até hoje, seu total seria de 985 pontos, em 210 Gps. É um valor que fica bem aquém dos 1.571 atuais.
O confronto com Schumacher não tem elevada representatividade por o alemão ter largado em 308 Gps e Alonso, 210, ou cerca de 32% a menos. Mas seguindo apenas o ranking dos pilotos com maior número de pontos na história, sem levar em conta quantos Gps disputou, como a estatística mais considera, então Schumacher teria 1.444 pontos e Alonso, 985.
Do início de suas carreiras, em 1991 e 2001, até o fim de 2009, os pontos que somaram obedeceram critério bem semelhante. A partir da volta de Schumacher, em 2010 e utilizando-se o mesmo critério que vigorou de 2003 até o fim de 2009, Schumacher teria 1.444 pontos e Alonso, 985.
Com o novo critério, contudo, que permitiu Alonso somar bem mais pontos de 2010 para cá, nos últimos 58 Gps, o espanhol atingiu 1.571 pontos, enquanto Schumacher, 1.566. É uma marca de respeito, ninguém pode negar, mas, pela diferença de critério, por misturar laranjas com tangerinas, não possui a representatividade que Alonso tanto apregoa.
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