sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Razia preterido na Marussia. Chilton treina pelo terceiro dia seguido.*

* Por Lívio Oricchio



Pode ser apenas uma questão circunstancial e daqui para a frente as coisas se resolvam de um maneira mais justa. Mas hoje, quinta-feira, terceiro dia de treinos da segunda série da pré-temporada, o inglês Max Chilton, da Marussia, continua no cockpit do modelo MR02-Cosworth enquanto seu companheiro de equipe, Luiz Razia, programado originalmente para assumir o carro, hoje, encontra-se treinando fisicamente na academia do hotel, próximo de onde escrevo, o Circuito da Catalunha, em Barcelona.

Em Jerez de la Frontera, semana passada, Chilton, inglês como quase todos no time, estreante na Fórmula 1 a exemplo de Razia, andou no primeiro e terceiro dia. Razia, no segundo e no quarto. Aqui em Barcelona, Chilton está conduzindo o MR2 desde terça-feira, hoje é o terceiro dia seguido, prerrogativa apenas de Fernando Alonso, por seu parceiro, Felipe Massa, ter sido escalado também para os três primeiros dias em Jerez. Alonso preferiu dedicar-se à preparação física.

Conversei com Razia, há pouco, por telefone: “Estou indo para a pista daqui a pouco, Livio”, disse-me. Convivo nos autódromos e aeroportos com Razia desde sua chegada à GP2, em 2010, são três temporadas. Esta é a quarta. Senti que ele está incomodado com a situação, como não poderia deixar de ser. “John Booth (diretor da Marussia) me procurou, ontem, para dizer que Chilton não pôde realizar as séries longas de voltas que fiz em Jerez e seria importante para sua formação. Em Jerez eu dei três séries seguidas de 24 voltas. Por essa razão Chilton foi escalado para o treino de hoje”, contou-me Razia.

Estou no mesmo hotel de John Booth, em Granollers, seis quilômetros distante apenas do autódromo. Ontem à noite quando regressei do jantar o vi no lobby e por pouco não lhe perguntei sobre o ensaio de hoje. Como eu estava com Michael Schimidt, talvez o mais famoso jornalista da Fórmula 1, do Auto Motor und Sport, e outros amigos, achei que seria inconveniente tocar num assunto profissional naquele instante, longe da pista. Seria interessante saber o que Booth me responderia. Nesse momento Booth está na mureta dos boxes acompanhando o teste, não há como falar com ele, mas certamente vou procurá-lo no intervalo do almoço.

“O alegado por John Booth é mesmo verdade. Falou que por causa de um problema que temos na suspensão traseira Chilton não andou muito nos dois primeiros dias”, revelou-me Razia. Terça-feira foram 65 voltas no traçado de 4.655 metros e ontem, 67. Nem é tão pouco assim, convenhamos, representa a extensão do GP da Espanha, 66 voltas.

“Às vezes temos de conviver com essas situações. Mas se eu tiver o mesmo número de dias do Chilton eu não me preocupo. Para ser sincero, nem mesmo se tiver menos. Nas outras categorias que competi não precisei de muito tempo para pegar a mão do carro”, disse Razia.

“A programação é para eu andar amanhã (sexta-feira), mas não está confirmada, ainda. Pode ser também que eles compensem esses dias a mais com o Chilton no treino da semana que vem”. O último ensaio será de dia 28 de fevereiro a 3 de março, aqui mesmo. Pergunto: você acha que eles te dariam quatro dias, como podem disponibilizar para o Chilton agora? “Quatro talvez não, mas três sim.”

O que pode ser a causa de Razia estar sendo preterido nesse início de trabalho na Marussia?
Sabe-se que a soma da verba de patrocínio levada por Chilton é maior da acertada com Razia. Pode estar aí a causa das suas dificuldades iniciais. Ou, de repente, até mesmo o fluxo das remessas de verba de Razia acordadas com a equipe não estar sendo cumprido, por conta da complexa burocracia dessas transações. Mais: de repente Chilton precisa de uma exposição maior para atingir a cota de patrocinadores exigida, o que reforçaria a tese (minha) de que há também aí uma boa pitada do conhecido nacionalismo inglês na Fórmula 1.

Com certeza a escolha de Chilton para andar nos três dias não é técnica. Ao menos na GP2 Razia se mostrou um piloto bem mais eficiente.

Dando sequência ao post sobre o Luiz Razia, fui procurar o John Booth pouco antes do início da sessão da tarde, hoje, quinta-feira, às 14 horas, e o diretor da Marussia já havia deixado o Circuito da Catalunha. Tampouco vi o Razia no autódromo, o que não quer dizer que não tenha aparecido, na hora do almoço, e em seguida regressado ao hotel.

Conversei com Tracy Novak, a assessora de imprensa da equipe, conhecida de longa data. Ela tentou acessar o Razia na minha frente, por celular, e deu caixa postal. Tracy disse-me a respeito de quem iria treinar amanhã (sexta-feira). “Eu não acredito que o Luiz vá andar no carro. A nossa previsão é de chuva e Max deve seguir pilotando.”

Quer dizer, então, que se o asfalto estiver molhado quem corre é somente o Max Chilton, companheiro de Razia? Quando falei com Razia, por telefone e ele estava no hotel, antes do almoço, comentou comigo: “Não está certo, ainda, se vou treinar amanhã”. Chilton testou os três dias até agora, terça, quarta e quinta-feira. Ontem o inglês, estreante na Fórmula 1 como Razia, completou 58 voltas no traçado de 4.655 metros, com 1min25s690, com pneus Pirelli macios, 11.º tempo.

No fim do dia, depois da conversa com Novak, liguei para Razia. Tocou, tocou até entrar caixa postal. Deixei mensagem e pedi que me retornasse, o que não aconteceu. Não é um bom sinal. Acredito que se Booth tivesse confirmado ao piloto brasileiro que testaria amanhã, seria do seu interesse ligar de volta para mim e comunicar. Ele sabe que acompanho o caso de perto.

Amigos do paddock me contaram que o pai de Max Chilton, o inglês Grahame Chilton, de adquirir uma parte da Marussia ao fim de cada temporada dos três anos de contrato do filho. É sabido que o seu investimento na escuderia é bem maior que o de Razia, o que por si só nesse universo da Fórmula 1 tem enorme significado. Não é novidade que Grahame era sócio, não mais, da AON Benfield UK Holding, embora mantenha cargo diretivo. Trata-se de uma das maiores companhias de seguro do Reino Unido.

E a história de que passará a ser sócio da Marussia, como parte do retorno do elevado investimento este ano, ganha mais força quando se sabe, por exemplo, que Grahame já tem importante participação na organização esportiva Carlin, com times na GP2, Fórmula Renault 3.5 World Series, Fórmula 3 Britânica e GP3. O talentoso brasiliense Felipe Nasr vai disputar a GP2 este ano pela Carlin, com que foi campeão britânico de Fórmula 3 em 2011.

Além de ser filho do esperado sócio da equipe, Max Chilton é inglês, como todos na organização. Acredite, amigos, tenho alguma experiência nesse meio: esse é um fator que realmente joga a favor do piloto. Coloque nessa balança a provável dificuldade de Razia cumprir os prazos acordados com Booth para os pagamentos das cotas de patrocínio. Esse quadro explica, na minha visão, as dificuldades de Razia.

Agora, nada disso impede de amanhã o baiano de 23 anos substituir Chilton, depois de negociações que desconhecemos ocorreram hoje à noite. Torço por isso.

Abraços!

Um comentário:

ALEX COURI disse...


é.. ao q tudo indica mais um brasuca capacho na F1, q sdades de piquet, senna e emmo.. os unicos, alem do kanaan e helio q nos honram na indy