* Por Leonardo Felix
Conforme dialogava com alguns colegas sobre a confirmação de Luiz Razia na Marussia, cheguei à conclusão de que a notícia do dia para o automobilismo brasileiro era inesperada, mas não tão surpreendente.
Inesperada, sim, porque faz só dez dias que a equipe russa oficializou o chute no traseiro de Timo Glock, em manobra que indicava claramente a troca de um funcionário assalariado por um parceiro pagante, mas que não parecia ter um desfecho tão rápido.
De fato, o objetivo de escuderia e piloto não era anunciar nada hoje, mas a confirmação já está iminente, de uma forma ou de outra. Talvez venha na próxima terça-feira, quando a esquadra lança, às vésperas da primeira bateria de testes, em Jerez, seu novo modelo, o MR02.
Mas não se trata de algo que vá fazer cair o queixo de alguém. Em primeiro lugar, estamos falando do vice-campeão da principal categoria de acesso, a GP2, um piloto que teve uma temporada de reafirmação em 2012 e disputou o título com galhardia, embora tenha perdido para o favorito Davide Valsecchi. Depois, o baiano de Barreiras tem um bom aporte financeiro, algo imprescindível nesta F1 cada vez mais ávida por gente que traz alguns mirréis de casa.
Porém, todavia e entrementes, Razia jamais foi colocado como pretendente favorito a qualquer vaga, incluindo a da própria Marussia. Vitaly Petrov e Bruno Senna eram os nomes da vez para fechar com o time rubronegro e também com a Caterham, ao passo que Jules Bianchi, Adrian Sutil e Paul di Resta seguiam como favoritos na batalha pelos cockpits mais valorosos entre os vacantes, os da Force India. Por isso, ter conseguido dar um passo antes de todos eles acabou sendo uma notícia positiva para alguém que já tinha afirmado, aqui mesmo ao Tazio, que era F1 ou nada em 2013.
Ao cumprir com seu objetivo, Razia já colocou automaticamente seu nome na história do automobilismo brasileiro, tornando-se o primeiro nordestino a alcançar a principal categoria do esporte a motor mundial. Mas é óbvio que ele almeja mais. E o que esperar de sua temporada de estreia, que se dará por aquela que provavelmente será a pior escuderia do grid?
Contrariando o que muitos imaginam, há vários pontos positivos em começar a carreira profissional dessa forma. Na Marussia, Razia não tem qualquer responsabilidade por resultados e pode usar 2013 como um ano para se habituar aos meandros e vicissitudes da competição. Além disso, para sua sorte, o companheiro não será mais Glock, primeiro piloto absoluto até então e que ajudou a fritar os então novatos Lucas di Grassi e Jérome D’Ambrosio em 2010 e 2011. Também não será Charles Pic, que fez uma ótima campanha de estreia no ano passado e, se seguisse, estaria muito mais afeito ao time e poderia receber para si todas as regalias.
Quem dividirá os boxes com o brasileiro será o inglês Max Chilton, tão carne de vitela quanto Razia no que tange à experiência. Portanto, Luiz vai encontrar uma ambiência muito mais propícia para superar seu colega, algo que lhe daria notoriedade entre as escuderias do pelotão intermediário para 2014.
Porém, é claro que há o risco de acontecer o inverso e Chilton se sair melhor. É a partir deste ponto, meus amigos, que abrimos toda a cartilha de riscos que o baiano assumiu ao tomar essa decisão. Caso seja superado pelo britânico, é bem provável que Razia coloque uma prematura pá de cal sobre suas chances de continuar na F1, especialmente por entrar na categoria com uma reputação mais elevada que a de seu novo parceiro. Sendo assim, ele tem certa obrigação de ser o líder da Marussia em 2013 e andar quase sempre na frente do companheiro.
Outra questão negativa é que muito dificilmente a Marussia não será a lanterninha da temporada, simplesmente porque a equipe não dinheiro para desenvolver o carro no mesmo ritmo das concorrentes. O time jamais esteve realmente perto de marcar um pontinho na F1 e ainda sofreu um duro golpe no ano passado, quando viu o décimo lugar no Mundial de Construtores (e cerca de US$ 30 milhões em premiação) escaparem pelo ralo no GP do Brasil, graças a um 11º lugar providencial de Vitaly Petrov para a Caterham.
Tendo tal perspectiva como base, é possível prever que Razia estará sempre lutando pelas últimas posições. Há quem diga que é possível um piloto se destacar e ascender na categoria dessa forma, algo com o qual eu concordo. Mas é preciso ressaltar o quanto isso tem se tornado cada vez mais difícil nas últimas décadas. Nos anos 50, 60 e 70, com a postura quase amadoresca e a liberação da venda de chassis, pilotos como Jochen Rindt, Alan Jones, Keke Rosberg e Nelson Piquet puderam fazer rápidas passagens por times particulares, antes de assinarem com equipes de ponta ou do pelotão intermediário já no ano de estreia.
Atualmente, diante de tanta profissionalização, o competidor tem obrigações de correr pela mesma casa durante o ano inteiro e, como os carros quebram cada vez menos e o nível dos competidores está cada vez mais parelho, é raro vermos um piloto com um carro tão ruim ganhar destaque em alguma corrida. Por consequência, de 2000 para cá, somente dois nomes conseguiram sair de rabeiras do grid (não estamos levando em conta escuderias medianas, como Sauber ou Toro Rosso) e lutar por vitórias e títulos: Fernando Alonso e Mark Webber. Coincidência ou não, ambos começaram na Minardi e são empresariados por Flavio Briatore, que tinha enorme influência na F1 até 2009.
Diante de todo este cenário, Luiz Razia tem diante de si um desafio enorme, mas não impossível. E o baiano já demonstrou, até mesmo em 2012, ser capaz de corresponder em situações onde nada parece estar a seu favor. Seu concorrente na disputa pelo caneco da GP2 no ano passado, Valsecchi, optou por um caminho bem diferente, tornando-se reserva de uma equipe média para grande, a Lotus. Será interessante observar, no curso da História, qual deles terá feito a escolhe correta, em uma F1 que parece cada vez mais desapiedada com seus novatos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário