sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Segura o italiano!*

* Por Teo José

De 1993 a 2000 narrei todas as provas da Fórmula Indy no Brasil, passei pela Manchete e SBT. Neste tempo conheci de perto muitos pilotos. A Indy sempre foi uma categoria mais aberta, você tinha um contato mais próximo com todas as pessoas envolvidas e, até a metade de 99, narrei quase todas as provas dos locais. Foi sem dúvida uma época que ainda deixa saudades.

Tive oportunidade de conhecer o italiano Alessandro Zanardi. Chegou atropelando e ganhando tudo na Chip Ganassi. Além de ser um excelente piloto, não tinha nariz empinado. Pelo contrário. Como em nossa turma sempre estava o Cesare Manucci, jornalista da Autosprint, ele acabou ficando mais próximo. Andava sempre bem e era bastante agressivo, então criei para ele o bordão: "Segura o italiano!" O legal é que ele ficou sabendo e pediu para ouvir. Sempre que me via pelas pistas soltava, em português mesmo, o "Segura o italiano!" . Era uma pessoa que admirava tanto que acabou, juntamente com mais uma, tendo uma influência grande na escolha do nome do meu único filho. Mais um Alessandro no mundo.

Em 2001, eu já estava fora da Indy. A categoria tinha ido para Record e eu fechado uma renovação de contrato exclusivo com a finada PSN. Morava nos EUA e trabalhava muito. No dia 15 de setembro, um sábado após os atentados de Nova York, estava na emissora e não vi a etapa da Alemanha, no oval de Lausitzring. Faltando 13 voltas para o fim, o líder da corrida era Zanardi, então piloto da equipe Mo Nunn. Logo atrás vinham Tony Kanaan (Mo Nunn) e Kenny Brack (Rahal), quando o italiano foi ao box fazer um simples 'splash-and-go'. Não sabia que ele estava prestes a passar por uma situação que mudaria radicalmente sua vida.

Feito o trabalho em seu local no pitlane, na volta para a pista, perdeu o controle do carro e acabou escorregando para dentro do trecho de alta velocidade do traçado. Tentava corrigir quando Alex Tagliani (Forsythe) colidiu com a dianteira do carro do italiano. O choque arranca a frente do carro e o manda para o muro.

Tagliani nada sofreu, mas naquele instante uma luta pela vida começava. Zanardi havia perdido as duas pernas e tinha que ser levado ao hospital o mais urgente possível. Por dias, o seu estado de saúde foi considerado grave, mas aos poucos ele foi virando o jogo até que ele teve alta médica e mostrava nas fotos que o acidente pouco o tinha abalado. Tanto que ele, algum tempo depois, chegou a desenhar as próteses que passaria a usar pelo resto da vida.

Christian Fittipaldi, hoje meu companheiro de transmissão na Fórmula 1, estava nesta prova. Ele me disse recentemente que foi a imagem mais marcante de sua vida. Foi avisado pelo rádio da batida, mas não sabia com quem e ao passar pelo carro do canadense, viu que o piloto estava desacordado e que ninguém o socorria. Achou estranho, mas quando viu de perto o carro do Zanardi, teve a resposta. Observou uma poça de sangue enorme no chão e não viu os piloto com as pernas. Ficou chocado e totalmente sem ação. Teve dificuldades para levar seu carro, mesmo de forma lenta, aos boxes.

Passado mais tempo, em 2003, Zanardi foi convidado pela então Fórmula Mundial a andar em um monoposto adaptado pela equipe Conquest na mesma pista do seu acidente e completar as 13 voltas que faltaram na corrida.

Após isso, ele correu pelo mundo com o WTCC, em uma BMW adaptada, e recentemente ele venceu a maratona paraolímpica de Roma - com dois minutos de vantagem sobre o segundo colocado.
Zanardi se transformou em um grande exemplo de superação e amor pela vida. Sempre o tenho como uma das maiores figuras que conheci no mundo da velocidade. Segura o italiano!

Um comentário:

Igor * @fizomeu disse...

em apenas uma palavra... VENCEDOR!!!