O piloto era magnífico. Mas o homem, complexo, desconfiado, fechado. Inglês, nascido em 8 de agosto de 1953, disputou 187 Grandes Premios entre 1980 e 1995, com 31 vitórias, 32 pole positions, 30 voltas mais rápidas, 482 pontos feitos na carreira e o título mundial conquistado em 1992. Niguel Mansell traçou um círculo estreito ao seu redor. Dentro, Rosanne, seus três filhos, alguns amigos devotados. Fora, um mundo hostil de contornos incertos. Com a prática, Frank Williams aprendeu o jeito de funcionar: nunca contrariar Nigel, nunca, pois a ausência de dúvidas é o seu motor. Mesmo quando ele falha na última volta do GP do Canadá, em 1991, para cumprimentar a multidão. Ou deixar a vitória em Mônaco, 1982 ao entrar nos boxes por um motivo que só existia em sua cabeça. Nos dois casos, Williams forja uma desculpa para proteger o seu piloto.
Mansell não tinha a inteligência curta, como uma vez escreveram. Mas, para dar o melhor de si, ele precisava se motivar inventando guerras, complôs, inimigos. Ainda hoje a narrativa de suas desventuras diverte a Fórmula 1. Distraído, Mansell levanta-se para acenar aos fãs e dá uma cabeçada numa passarela da pista (Austria, 1987). Pulveriza a transmissão do carro ao acelerar durante a troca de pneus antes que as rodas tocassem o chão (Japão, 1990). A melhor de todas: tentar passar Senna, bater e tirá-lo da corrida, quando o próprio Mansell já estava fora da corrida depois de três voltas por ter dado marcha à ré diante dos boxes. Ele fingiu que não tinha visto a bandeira preta brandindo (Portugal, 1989). Mas por que se ater em menor detalhes? Em seus grandes dias Mansell foi realmente brilhante e sua pilotagem eletrizava as multidões.
Certo, em 1992, a Williams FW14 estava acima da média. Mas Patrese não conseguiu impor-lhe limites com suas suspensões ativas que enviavam poucas informações ao piloto. Mansell não era homem de atentar para esse tipo de detalhe: 14 pole positions em dezesseis grandes premios, nove vitórias. E ele teria ganhado se Frank Williams não o tivesse aposentado a cinco corridas do final do campeonato. Nigel já estava consagrado. Williams não precisava mais dele. E as línguas destravaram. "Mansell seria o piloto ideal se pudesse ser amarrado ao seu cockpit na largada de uma corrida e lá permanecer até o final para ser recolocado apenas no GP seguinte", diz Patrick Head. Em outras palavras, Nigel era perfeito aos domingos, entre 14h e 15:30h, e um pouco enfadonho no restante do tempo. Quando um jornalista o fez perceber que, no fundo, ele sempre gostava do mesmo tipo de piloto - Jones, Rosberg, Mansell -, Frank Williams deu um sorriso frio: "Você está enganado. Mansell é diferente".
Diferente porque está distante do arquétipo do piloto de F1. Mansell era o anti-herói. Inglês de Midlands, portanto da mais estrita obediência, e orgulhoso disso. Bom pai, bom marido, patriota devotado. Ele dormia cedo e acordava cedo. Vivia na ilha de Man, como se a Inglaterra não fosse suficientemente insular aos seus olhos. Sua ascensão na Formula 1 foi feita de sangue, suor e lágrimas. Normalmente isso agrada aos ingleses. Um acidente na F-Ford e seu pescoço nunca mais seria o mesmo. Ele teve de vender sua casa para chegar à F3. Entra na F1 pela porta dos fundos: piloto de teste na Lotus. Ali, leva cinco anos para conquistar sua primeira vitória e 12 para conquistar o título, aos 39 anos de idade.
Na Williams, em 1987, ele era mais rápido do que Piquet. Mas o brasileiro destruía sua confiança com frases zombeteiras destiladas à imprensa. Na Ferrari, em 1990, Prost colocou-o a escanteio ao falar em italiano nas reuniões técnicas, língua que Nigel não compreendia. Em 1992, Mansell, enfim, reúne todasas pelas de seu quebra-cabeça e se põe no caminho do título. Williams não o quis mais? O que importa, ele deixa a Formula 1 batendo a porta e, em seguida, conquista o campeonato da CART.
A F1 perdeu-o de vista nuna tarde de maio de 1995, em Barcelona. Era o fantasma de Mansell, de volta aos Estados Unidos, que ainda se sacudia dentro do assento de uma Mclaren. Cauda oficial do seu abandono: "Renúncia do piloto". Triste epitáfio para um homem antes pelidado de "Leão" pelos fãs. Nigel desaparece dos circuitos, abre um campo de golfe em Somerset e não dá mais notícias. Felizmente, ele acaba aparecendo, dez anos depois, na série GP Masters reservados aos antigos gloriosos da F1. Ele é exatamente o mesmo, menos bigode, e alguns quilos a mais: duas corridas no dia, duas vitórias.
2 comentários:
um baita piloto, que sempre deu show... ao seu modo!!!
Eu semprei adorei o Mansell, quem dera tivéssemos mais pilotos como ele nos dias de hoje!
Postar um comentário