UMA COLEÇÃO DE CLÁSSICOS CHEVROLET EM SANTA FÉ DO SUL
Há uma semana
Melhor, impossível!Valeu Ingo, obrigado por tantos momentos vividos em Interlagos (novo e velho).
Neste meu último Diário de Despedida, não vou contar nenhum "causo" que me aconteceu no passado, dentro de minha longa carreira. Vou relatar para vocês como foi meu último final de semana como piloto na Estoque Car.
Finalmente o final de semana de minha despedida chegou, e como já dizia o Roberto Carlos, "foram tantas emoções"... Eu já sabia que estavam me preparando algumas homenagens, mas honestamente nunca poderia esperar que seriam tantas e tão bonitas. Tudo estava sendo preparado pela minha mulher, a Ruth; a Meg, minha assessora de imprensa; a Regina, coordenadora do Instituto Ingo Hoffmann; e pelo Donatelli, que trabalha comigo no projeto de 2009. Todos se esmeraram em me manter afastado de tudo, de forma que tudo de fato fosse uma surpresa para mim. Tenho certeza de que tiveram muito trabalho, pois tudo funcionou perfeitamente.
Minha agenda nunca esteve tão lotada como nessa semana. Na quinta feira, que normalmente é bastante tranqüilo, passei o dia dando entrevistas. Pela manhã, ao telefone, e à tarde, na pista. Às 13h30 tinha agendada uma matéria com a TV Globo no autódromo, onde iria dar algumas voltas com o Estoque Car de 2009 ao lado do Paulão, com o Opala 1979, o que acabou sendo um grande privilégio para mim. Nestas três voltas deu para sentir que o carro é realmente muito bom, uma grande evolução em relação ao atual.
Na sexta, os treinos livres. Terminei com o 11º tempo dos 34 carros, mas sabia que esse tempo não era competitivo, pois havia passado pneus novos. Fiquei puto... Há dias vinha fazendo um condicionamento psicológico para curtir, dizendo que queria apenas me divertir, mas não consigo... Após os treinos, tinha na programação uma foto com todos os pilotos. Fomos ao heliponto de Interlagos, todos com uma taça de champanhe na mão para a foto. Depois, adivinhem o que aconteceu? Toda aquela molecada com a taça cheia e eu sentado na frente. Óbvio que tomei um banho.
No final do dia, segui para o briefing obrigatório dos pilotos com os comissários desportivos e o diretor de prova. Esses briefings para mim sempre foram uma tremenda chatice, pois imaginem ter de escutar sempre as mesmas explicações, as mesmas perguntas, durante 30 anos somente de Estoque Car... Mas desta vez foi totalmente diferente, pois logo de início, as palavras do Montagner (diretor da prova) já "me quebraram as pernas". Acabou sendo um momento muito especial para mim, pois estava começando a perceber que o momento de minha última prova estava realmente chegando...
Para o dia de sábado, foram reservadas as maiores emoções. Emoções de todo tipo, que começaram logo na classificação. Acho que nunca em minha vida guiei tão mal. Estava tão ansioso para fazer uma classificação perfeita, que acabei fazendo o que chamamos de "overdriving", ou seja, querendo guiar mais do que o carro aceitava. O Mauricio, chefe da equipe, e o Affonso Giaffone Filho, meu telemetrista, diziam para eu me "acalmar". O Affonsão Giaffone, outra visita ilustre em nosso box no fim de semana, fazia piada: "É a última corrida dele, ele freia aonde quiser”. Acabei me “acalmando” e consegui o sétimo tempo no grid de largada. A grande emoção na classificação ficou por conta do Lico, meu companheiro, que registrou o terceiro tempo, fazendo uma classificação maravilhosa, mostrando seu grande progresso.
No sábado à tarde, após a definição do grid, outra surpresa. O Rubinho Barrichello veio no meu box para me prestigiar. Foi um auê: de repente dezenas de fotógrafos e jornalistas surgiram, e virou uma loucura. Ainda mais com as recentes notícias da Honda. Minutos depois, tinha na agenda mais duas voltas com o Estoque Car 2009, sob o pretexto que uma revista especializada iria tirar umas fotos minhas andando no carro para uma matéria. Após as voltas, quando retornei, logo na entrada em frente ao box 1, me deparo com o local todo cercado, lotado de jornalistas, muitos pilotos e amigos. Estava tão contente com tudo que estava acontecendo comigo que nem me dei conta que tinha um carro ali parado coberto por uma capa preta. Meu amigo Buko leu algumas palavras e em seguida junto com seu filho, o Lico, descobriram o carro e me presentearam. Quase tive um troço, pois ali estava uma réplica perfeita do Opala que ganhei meu primeiro campeonato da Estoque Car em 1980. Em seguida minha família toda apareceu, inclusive minha mãe, que nunca vai aos autódromos – acho que foi a segunda vez, a primeira foi quando estreei nas pistas. Depois fomos para uma coletiva de imprensa, que foi tremendamente emocionante para mim, seguida de um belo coquetel, rodeado de amigos e familiares.
No domingo cedo, outro momento de muita emoção. Eu e o Guto Negrão, outro grande amigo que também se despediu da Estoque Car e que é o vice-presidente do Instituto Ingo Hoffmann, fomos chamados para o pódio para fazer a entrega de prêmios aos pilotos da Stock Jr.. Quando terminou, o Chicão, locutor, pediu para ficarmos lá, e em seguida apareceram todas as crianças do IIH, carequinhas, todas vestidas com camiseta verde com dizeres para nós, com enormes sorrisos nos rostos e presentes e cartinhas para nos entregar. Foi demais para nós, tanto para mim como para o Guto. Nem conseguimos falar... Isso logo cedo, 8h30 da manhã.
Volto para os boxes, e toda minha equipe, família e amigos vestidos com uma camiseta amarela, com minha foto na frente e os dizeres: "Valeu, Ingo! Você é o cara!" Às 9h, teve início a visitação aos boxes, onde fui bastante assediado, e escutei muitas frases de "boa sorte e obrigado". Em seguida, uma volta pela pista na caçamba da pick-up da organização, eu e o Guto em uma, e o Maurício e o Marquinhos em outra. No alto falante tocava o "Tema da Vitória", e o público vibrava. Uma energia contagiante.
Finalmente chegou a hora da corrida, a última. Pus a cabeça no lugar, me concentrei, me acalmei na guiada, consegui fazer uma largada sensacional, pulei da sétima para a terceira colocação, e tive de guiar forte o tempo todo, pois para alegria minha, o Lico vinha me pressionando o tempo todo, até o final da corrida. Assim acabamos, em terceiro e quarto. Um tremendo resultado para a equipe e principalmente para mim. Foi como um sonho. Toda equipe radiante, a festa foi longe depois no nosso box.
Este meu último ano na Estoque Car foi realmente espetacular. Tive a grande felicidade de poder anunciar minha despedida na pole-position, na primeira etapa em Interlagos. E na minha última corrida na categoria, saio com um pódio, também em Interlagos. Sinceramente, lá no fundo, não acreditava que isso poderia acontecer. Muitos me perguntaram durante a semana como eu gostaria de terminar, e eu respondia que um pódio seria ótimo, mas isso só aconteceria em filme, algum roteiro hollywoodiano. Mas todos os meus sonhos se realizaram. Saio feliz, sabendo que sou competitivo ainda e o mais importante: com o respeito de toda a categoria.
Quero terminar meu último Diário de Despedida, dizendo que foi um prazer estar aqui com vocês durante esses meses, que procurei sempre escrever com o coração, tentando relatar momentos que foram importantes para mim em minha carreira e agradecer a paciência de todos.
Abraço,
Ingo.
2 comentários:
um dos motivos para eu ir à interlagos nesses fds era para aplaudir o "alemão"... parabéns ingo... obrigado!!!
Foi mesmo diretor, e ve-lo chegar ao pódio, foi melhor ainda.
Parabéns ao nosso tão carismático "dinossauro", uma carreira brilhante na categoria, um exemplo a ser seguido pelos jovens pilotos.
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