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terça-feira, 20 de dezembro de 2011

No mundo cruel da F1, os cifrões falam mais alto*

* Por Lito Cavalcanti

Desde que se encerrou o último Campeonato Mundial, a Fórmula 1 voltou a revelar sua verdadeira cara. A emoção das corridas deu lugar à ansiedade, consequência da velha e quase insuportável dança das cadeiras, e a um certo desgosto, causado pelas demissões e contratações, algumas compreensíveis, outras nem tanto, todas cercadas por uma cínica versão da lei da sobrevivência.

Primeiro, foi a saga do Bruno Senna, a que mais cedo se definiu – infelizmente para o pior. Sem carro à altura, sem perspectiva melhor, ele hoje admite até ser terceiro piloto da Lotus, o novo nome da sua velha equipe. Vejam só, ser terceiro piloto de um time em que ele foi titular e que já defenestrou, somente neste ano de 2011, três pilotos: ele mesmo, Nick Heidfeld e Vitaly Petrov. Seriam eles merecedores do tratamento que receberam, todos, da mesma equipe? Sim, da mesma Renault que já desgraçou não só um piloto quando era capitaneada pelo infame Flavio Briatore, que se vestia de dono da equipe quando lhe era conveniente, e de empresário de pilotos, quando lhe convinha.

Por trás, a sempre tolerante e conivente Renault. Que hoje deve estar feliz de ver sua antiga equipe passar a ser chamada de Lotus. E assim se livrar de uma situação desconfortável, mas com que sempre conviveu passivamente: a de ter como principal dirigente da escuderia que levava seu nome uma pessoa que em paralelo gerenciava a carreira de pilotos. Dos Jarno Trulli, Jenson Button e Nelsinho Piquet que Briatore tanto prejudicou já sabemos de cor e salteado. Mas Heidfeld, Petrov e Senna mereciam o que este 2011 lhes trouxe?

Querem analisar um por um? Vamos lá: Heidfeld abriu o ano com um terceiro lugar na segunda etapa e chegou ao fim de 11 corridas com 34 dos 73 pontos que a Renault somou em toda a temporada. Mas foi escolhido com bode expiatório e demitido em uma vã tentativa de esconder a falta de desenvolvimento do carro, que se fez pesar à medida em que as outras escuderias aprimoravam seus equipamentos. Já sabendo que daquele carro não sairia mais coelho, o responsável pela equipe, o francês Eric Bouiller, despediu o alemão e abriu vaga para Bruno Senna que, ao contrário de Heidfeld, trazia patrocínios. Bruno conseguiu brilhar em algumas provas de classificação, mas das corridas só conseguiu extrair os ilusórios dois pontos do nono lugar em Monza.
Petrov, desde o ano passado, vinha sendo criticado internamente por seus muitos erros. A tolerância acabou quando os pagamentos passaram a atrasar: seu contrato foi sumariamente encerrado.

Por menos que Bouiller queira admitir, a influência do dinheiro é marcadamente evidente em suas decisões. Mesmo assim, Bouiller veio a público nesta quarta-feira dizer que não foi o lado financeiro que o fez optar por Kimi Raikkonen e Romain Grosjean. Assim é o cara de pau Bouiller, o mesmo Bouiller que, no ano passado, prometeu que nunca haveria em sua equipe um lugar para Kimi Raikkonen. A promessa, hoje esquecida, se deu quando o finlandês, coberto de razão, o esculachou em alto e bom tom por usar seu prestígio de campeão da F1 na tentativa de angariar patrocínios. Para quem não se lembra, bastou começarem as negociações entre a Renault e o empresário do finlandês, o inglês Steve Robertson, para Bouiller alardear que Raikkonen era propriedade privada de seu time. Ao ser reduzido por Raikkonen à sua verdadeira dimensão, Bouiller se pôs em brios e o esconjurou, amaldiçoou, deserdou. Ah, quanta diferença um ano fez em seu quase ilibado comportamento...

Bouiller disse também, sem o menor constrangimento, que Grosjean não está levando dinheiro para a equipe. Será possível acreditar que a verba da Total não é condicionada à presença do franco-suíço em um dos seus carros? Será que ele acha que o mundo esqueceu que, no próximo ano a França retorna ao calendário da F1, e à frente do grupo formado (a pedido de autoridades governamentais) para promover o Grande Prêmio está o mesmíssimo Bouiller. Grosjean é suíço de nascimento, mas corre com licença francesa, é fruto do automobilismo francês, o francês é seu primeiro idioma, e a sabedoria popular ensina que quando não tem tu, vai tu mesmo. Sim, Grosjean não trouxe patrocínio para a equipe, mas em cima de sua presença foram carreados alguns milhões de dólares para a equipe e prestígio político para Bouiller. Sabe como se diz me engana que eu gosto em francês? Me trompe que j’aime, ou qualquer coisa assim.

Não se pode deixar de admitir que Bouiller fala quase verdades, mas também é inegável que pinça seus aspectos mais favoráveis. Ora, meias verdades são também meias mentiras, como prova a não muito elogiável carreira de seu antecessor à frente da equipe Renault, Flavio Briatore.

Difícil engolir a Fórmula 1 atual, igualmente difícil não reconhecer que, diante dos custos atuais, não há outro caminho a escolher. Era disso que falava o ex-presidente da FIA Max Mosley, de triste memória. Em um de seus poucos acertos, Mosley fazia campanha aberta contra as grandes fábricas. Elas fazem os custos subirem e, quando, lhes convém, vão embora sem olhar para trás, afirmava ele com base em fatos que ele mesmo vivenciou em seus dias de dono de equipe. Dito e feito. Elas saíram e, para sobreviver às contas sufocantes, as equipes têm de vender a alma. Esta é a Fórmula 1 atual, para o bem e para o mal.

Outra notícia a partir o coração veio da Toro Rosso. Sempre simpática, a equipe/viveiro da Red Bull, sem mais aquela, demitiu Sébastien Buemi e Jaime Alguersuari para abrir lugar para seus mais novos protegidos Daniel Ricciardo e Jean-Eric Vergne. A seu favor, diga-se que desenvolver seus pilotos mais promissores sempre foi a filosofia da Toro Rosso. Buemi, somos obrigados a admitir, nunca se mostrou à altura das ambições do programa. O maior destaque do seu currículo são três vitórias na GP2, onde chegou a correr pela vitoriosa ART Grand Prix, a principal equipe da categoria, sem corresponder ao que dele se esperava.

Daniel Ricciardo e Jean-Eric Vergne

Mas Alguersuari merecia mais crédito. Campeão inglês de F3 com sobras em 2008, ele foi jogado aos leões no meio do campeonato de 2009, em substituição a Sébastien Bourdais, outro a receber cartão vermelho. Era um dos primeiros anos de quase nenhum treino, o que em nada atenuava as cobranças. Fez apenas oito corridas. Em 2010, participou da pré-temporada, o que amenizou as dificuldades do aprendizado, mas o carro não ajudava. Neste ano, mostrou qualidades, foi ousado e veloz. Infelizmente, a comparação com Ricciardo e Vergne lhe foi desfavorável. A ironia é que os dois foram seus sucessores como campeões da F3 inglesa. A dura verdade, porém, é que a Toro Rosso existe para criar os sucessores de Sebastien Vettel, não de Mark Webber.

Buemi tem 23 anos, Alguersuari, 21. E agora? O que vão fazer da vida? O mesmo se pode pensar em relação a vários de seus contemporâneos que mostraram talento, chegaram à Fórmula 1, ou às suas portas, e não ficaram, sempre pelo mesmo vil motivo. Querem exemplos? Não faltam: Lucas di Grassi, Bruno Senna, Jérôme d’Ambrosio, Kazuki Nakajima, Giorgio Pantano, Vitaly Petrov, Karun Chandhok, Luca Filipi, Adam Carrol, Felipe Albuquerque, Mike Conway. Desta geração, ou de outra mais recente, ainda estão lá Sérgio Perez, Kamui Kobayashi e Pastor Maldonado.

Até quando, é a pergunta que se impõe. Perez e Maldonado parecem escudados por patrocinadores multimilionários. O mexicano tem por trás o imenso poderio financeiro do homem mais rico do mundo, Carlos Slim, o maior empresário de telefonia celular do mundo – é dele a Telmex e tem controle acionário da América Móvil, dona da Claro. Sua fortuna depende de oscilações dos mercados acionários mundo afora – em 2007, era calculada em 63 bilhões de dólares, em 2009, caiu para 35 bilhões. Hoje, ninguém sabe por quantas anda. Pode-se dizer, porém, que ele é quem dá as cartas na equipe Sauber, onde militam Perez e Esteban Gutierrez, ainda terceiro piloto da equipe mexicana. Perdão, suíça...

Maldonado também se escora em uma empresa de força e prestígio inabaláveis, a PDVSA, sigla da estatal Petróleo de Venezuela Sociedade Anônima. É hoje a terceira maior empresa da América Latina, atrás apenas da Petrobras e da Pemex. Como toda petroleira, tem poderio financeiro acima de qualquer suspeita, como prova o contrato de patrocínio que celebrou com a Williams – calculado em 30 milhões de dólares ao longo de cinco anos. Sim, é apenas uma especulação, mas que certamente não está muito longe da verdade.

A atrapalhar a vida de Maldonado há dois fatores: primeiro, a insuficiência de qualidades que demonstrou neste seu primeiro ano na F1, marcado pelas críticas à pouca qualidade de suas informações técnicas e à tendência a se envolver em acidentes quase sempre injustificáveis; segundo, o mau jeito do presidente, ou seja lá o que for, Hugo Chavez ao ignorar o congresso, que por força de lei deve avalizar todo contrato que envolva somas tão vultosas. Resultado: um congressista, opositor ao regime vigente, solicitou à Williams informações sobre o contrato. Até agora, não se sabe de nenhuma resposta dada pela escuderia inglesa à inquirição do parlamentar venezuelano. Disso tudo, uma única certeza: sem a verba da PDVSA, o sonho de Maldonado cai por terra como caiu o De Petrov, a despeito de toda a verba que trazia da Rússia.

Concordo que nem todos têm capacidade para ficarem na F1 – mas se isso é tão claro, por que entraram? O que nos leva de volta à dura realidade: porque alguém tem de pagar as contas. E o que dizer de Vitantonio Liuzzi, Adrian Sutil, até mesmo Rubens Barrichello. Poucos duvidam da superioridade destes três sobre muitos que estão por lá. Mas e daí? O que resta, por exemplo, para Lucas di Grassi, que sabe tudo que se precisa saber sobre os pneus que a Pirelli vai fornecer à F1 em 2012? Mesmo assim, tudo que pode almejar é um lugar de reserva em alguma escuderia, seja lá qual for?

Tudo bem, Lucas deve participar, como titular da equipe Peugeot, do novo Mundial de Endurance, nova denominação para o campeonato de protótipos. Os carros são extremamente sofisticados, carregam até mais tecnologia do que os F1, e segundo o piloto é muito similar em termos de guiada – mas ele ainda procura um lugar na F1. Esse sempre foi o sonho, o objetivo. E esteve muito perto de ser alcançado. Não lhe faltou talento, capacidade nem trabalho, mas lhe falta dinheiro.

Então, caríssimo leitor, pense bem e me responda: vale a pena você direcionar seu filho para esta carreira? O menino é rápido, concentrado, trabalhador e ama as corridas. OK. E você? Tem dinheiro para encarar os custos exorbitantes do kart; das categorias de acesso como a FRenault; da F3, que é absolutamente imprescindível na formação de um profissional; da World Series; da GP2? Tudo bem, você sabe que estamos falando de algo na casa dos cinco milhões de euros (caso tudo dê muito certinho), não sabe?

Pois bem. O menino abriu mão da adolescência para viver de pista em pista correndo de kart. Depois, perdeu a companhia dos amigos e dos primeiros namoros porque precisou se mudar para outro país a fim de se adestrar nas primeiras categorias. Já então, começou a sofrer as pressões de chefes de equipes, a responsabilidade de representar patrocinadores, caso os tenha tudo. Agora, está às portas da F1, possivelmente com um currículo altamente recomendável. Só falta arrumar uns 10 milhões de euros.

Diga lá: vale a pena? Não vale usar o Rubens Barrichello com o exemplo. Ele fez sua carreira, que por sinal foi e ainda é excepcional, em outros tempos e sobreviveu a estes tempos gananciosos.

Pergunte então ao Buemi, ao Alguersuari, ao Petrov, ao Liuzzi, ao d’Ambrosio, ao Bruno Senna ou ao di Grassi. Sabe o que eles vão dizer, sem sequer titubear? Ora, que pergunta. Claro que valeu. Sim, sempre, cada minuto. Afinal, é a F1. E igual à F1 não tem nada no mundo.

Quer saber? Também acho!!!

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Enfim, o dia de Mark Webber. Ou será que...*

* Por Lito Cavalcanti

Ainda não cheguei a uma conclusão sobre a caixa de marchas do Sebastian Vettel. Tinha ou não tinha problemas? A única certeza que tenho é que, se ela existia, foi absolutamente conveniente para a Red Bull. Garantiu a vitória do Mark Webber aos 47 minutos do segundo tempo sem se arriscar a deixar o primeiro lugar cair nas mãos do Jenson Button ou do Fernando Alonso. Melhor ainda o triunfo ter possibilitado ao australiano terminar o ano à frente do Alonso, atrás apenas dos dois melhores pilotos do ano. Ter um Red Bull atrás de um dos piores carros que a Ferrari já produziu pegaria bem mal; ficar em terceiro pode levantar o ânimo de Webber para um 2012 que promete ser mais duro do que esse inesquecível (para eles) 2011.

Quanto às minhas dúvidas, realmente não sei para que lado pender. Durante a corrida, levantei a lebre do problema ser apenas uma maneira de disfarçar ordens de equipe. Sim, sei que as mal fadadas ordens para trocar de posições hoje são permitidas – ainda assim, continuam indignas e reprováveis, principalmente para uma equipe que se notabilizou pelas duras críticas a quem as utiliza desde quando eram proibidas. Sem contar que desvalorizariam imensamente a única aparição de Webber no degrau mais alto do pódio, tiraria o valor de uma atuação que pode ser vista como a melhor dele ao longo da temporada. Concordo que a ultrapassagem dele sobre Alonso na Eau Rouge foi o melhor momento do ano, mas não bastou para fazer de sua participação no GP da Bélgica uma corrida à altura das expectativas que cercam um piloto da Red Bull.

Mas vamos aos fatos. Primeiro, porque suspeito: a caixa de Vettel era zero quilômetro, nova em folha. Pelas regras, cada caixa deve durar quatro corridas, e se ela for trocada antes disso, o piloto perde cinco posições no grid. Segundo a equipe, a nova, instalada na manhã do sábado, já mostrara alguma resistência à troca de marchas. Foi desmontada e remontada, mas não voltara ao normal. Mas trocar por outra estava fora de questão: Vettel ficaria em sexto no grid.

Ora, me diz um amigo, para beneficiar o Webber a Red Bull poderia simplesmente instalar em seu carro pneus com a pressão errada. Sim, mas aí correria riscos bem maiores. Como as largadas não têm sido a melhor qualidade de Webber, mesmo promovido a primeiro ele poderia ser superado por um ou dois McLarens antes de chegarem ao S do Senna. Sem falar em Alonso, com quem ele disputava a colocação final no Mundial. Melhor seria se certificar de que Webber estaria em posição de ganhar a corrida e, só então, criar situações que lhe dessem a ponta.

Para aumentar minhas dúvidas, Vettel continuou andando muito rápido depois de ser avisado para mudar de segunda para terceira e de lá para quarta mais rapidamente; ou seja, não forçar a caixa de marchas, reduzir o esforço imposto às engrenagens. E a câmara a bordo mostrava que ele continuou a mudar as marchas nas luzes azuis, como se nada houvesse a temer. Mesmo quando seu engenheiro mandou que ele fizesse todas as curvas uma marcha acima, seus tempos eram ainda muito bons, excepcionalmente bons.

Agora, porque acredito: primeiro, porque se é preciso um gênio para andar tão rápido com problemas no carro, Vettel é um desses gênios. Segundo, porque pessoas com quem trabalho, e em quem tenho total confiança, tiveram acesso à telemetria do carro dele após a corrida. E verificaram que, de fato, desde a primeira parte da corrida, constatavam-se queda da pressão de óleo e aumento da temperatura do câmbio. Terceiro: como 2012 já começou para muitas equipes, é possível que a Red Bull estivesse testando uma nova caixa, com engrenagens com menor arrasto ou com garfos seletores mais eficientes.

Portanto, não sei dizer, não tenho certezas, apenas dúvidas. Mas, como dizem os italianos, si non é vero, é bene trovato. E merece a Red Bull o Oscar de Melhor Ator. Seja como for, o prêmio vai para Mark Webber, que dirigiu melhor do que em todo o ano e já se candidata a vice-campeão do ano que vem. Sim, vice, porque se a Red Bull aparecer como outra astronave como foi a deste ano, podem esquecer. E quanto a ser campeão, bem, o Webber também pode esquecer. Um problema natural para quem tem como companheiro de equipe um gênio. Sim, desta dúvida não padeço: Vettel é gênio.

Pode até ser que ele, Vettel, venha a ter vida mais dura o próximo ano, mas não acredito muito. De quem viria a maior oposição? Jenson Button? Sim, talvez seu mais duro adversário. Fernando Alonso? Tenho cá para mim que a Ferrari ainda vai demorar pelo menos uns dois anos para poder encarar a Red Bull frente a frente, olho no olho. Mesmo com a chegada de diversos engenheiros da McLaren, todos trazidos pelo ex-projetista Pat Fry, com a adoção de métodos de trabalho mais eficientes, mesmo com a modernização dos túneis de vento, a tarefa promete ser longa e dura.

Lewis Hamilton? Deixei por último de propósito. Tenho sérias dúvidas. Depois de ressuscitar com a vitória em Abu Dhabi, teve atuação medíocre em Interlagos. Sabem o que ele fez entre as duas últimas corridas do ano? Foi para Los Angeles passar um tempo com a Nicole Scherzinger. Ela mesma, a ex-namorada, que não parece ser tão ex assim. Veio de lá com um colar que lhe daria sorte, de nada adiantou. Não tenho nada contra ela, nem nada a ver com a vida dele, mas foi ele quem disse em Abu Dhabi que precisava dos amigos, do pai, da mãe e de um empresário a protegê-lo, chegou a citar o exemplo do Button. Ora, a referida Nicole é um avião, coisa de louco. Não vou recriminá-lo por dedicar a ela mais atenção do que à McLaren, mas então é melhor nem perder tempo com esse negócio de Fórmula 1. Do jeito que está, a boa imagem que ainda lhe resta vai por água abaixo.

Antes de falar nos brasileiros, abro um parágrafo para Adrian Sutil. É de espantar, e aplaudir, o que fez o alemão da Force India. Terminou o ano em alta, conquistando um sexto lugar sequer imaginável, batendo a Mercedes de Nico Rosberg na pista. Mesmo assim, Sutil parece estar fora da equipe. Depois de marcar pontos nas três últimas etapas e garantir o sexto lugar da equipe no Mundial de Construtores, sua situação ainda está pouco clara. O dono da Force India, o multimilionário Vijay Malia, não o perdoa por ter tentado mudar de equipe no ano passado. Malia via deslealdade nessa atitude, já que foi lá que Sutil nasceu, cresceu e apareceu para a F1.

Mas dificuldades financeiras forçaram Malia a aceitar um sócio, Subrata Hoy, que se encantou com Sutil e quer mantê-lo em 2012. Há, porém, quem afirme que Roy faz questão de ter um piloto indiano no time, o que ameaça a permanência não só de Sutil como pelo menos a de um dos outros pilotos, o escocês Paul di Resta e o alemão Nico Hulkenberg, ambos indiscutivelmente talentosos. Estranha essa F1 que defenestra seus melhores pilotos em busca sabe-se lá de quê. E se tem um piloto que mereceu nota 10 em Interlagos, esse piloto foi Adrian Sutil.

De Massa, pouco a falar. Prejudicado por um pneu furado na prova de classificação, foi obrigado a adotar a estratégia furada de fazer apenas duas paradas. Quando o vi na pista tanto tempo mais que os outros pilotos, pensei que a opção da Ferrari era fazê-lo atrasar os adversários em prol do Alonso. Não era. E dessa vez mostrou que tem condições de se manter à frente do Hamilton quando os dois têm carros mais ou menos iguais. Ao fim da corrida, teve duas alegrias: chegar ao fim de uma temporada no purgatório e o gesto de reconciliação do Hamilton, que o procurou durante a entrevista dele com a imprensa brasileira. Melhor assim. Ninguém suportaria um prolongamento dos lamentáveis encontros ocorridos entre esses dois.

Na verdade, estou rezando pela ampla e total recuperação do Massa e do Hamilton, dois pilotos que têm no passado carreiras de glórias, dois pilotos que nos empolgaram em diversas ocasiões, e que não merecem passar o que passaram em 2011. Em Interlagos, travaram uma batalha sadia, mesmo nos deixando com a respiração presa por um bom número de voltas. Foi uma disputa limpa durante a qual Massa recebeu os merecidos parabéns de seu engenheiro.

Já dos dois outros brasileiros, persiste a ameaça de não terem mais lugar na F1. Mas tenho informações que dão esperanças. Rubens Barrichello conta com o forte apoio do novo corpo técnico da Williams. Mark Gillan, o primeiro a chegar, não poupou elogios ao veterano brasileiro. Sua experiência é insubstituível e supre as lacunas que a tecnologia ainda deixa. Sua combatividade, sua velocidade, estão acima de qualquer contestação, como mostrou no sábado, levando uma Williams que tem bem mais de abóbora do que de carruagem a um improvável, quase impossível 12º lugar; na corrida, vítima de uma aposta perdida na escolha de uma primeira marcha longa, subiu de 19º na volta inicial a 14º na final. Seria bem melhor se a meteorologia não tivesse perdido de goleada. Passou a semana inteira prometendo uma chuva que viria a calhar para Rubinho, mas ela nunca deu o ar da graça.

Nas palavras de Gillan, Rubinho tirou absolutamente tudo que o carro tem para dar. E assim fez os engenheiros perceberem qualidades no Williams que antes não eram sequer imaginadas. Mas para ficar lá, comenta-se, Rubinho terá de aceitar reduzir seu salário de quatro para dois milhões de dólares. Mesmo reduzido, o estipêndio ainda estará longe de um salário de fome. E a compensação será dirigir um carro da lavra de Mike Coughlan, o ex-projetista da McLaren que caiu em desgraça ao se envolver em um clamoroso caso de espionagem dos segredos da Ferrari. Comprar um carro dele pode não ser aconselhável, mas guiar um carro desenhado por ele é outra história. E esse novo Williams terá o mesmo motor Renault que levou a Red Bull a dois títulos consecutivos.

Quem também sonha contar com um motor Renault é Bruno Senna. Ao contrário do que se pode pensar e temer, as chances do jovem brasileiro ocupar o segundo carro da ex-Renault e futura Lotus não foram prejudicadas pela surpreendente contratação de Kimi Raikkonen. Sim, já se falava há algum tempo das conversações entre Eric Bouiller, o chefe da equipe, e Steve Robertson, o empresário do finlandês – e também do promissor Felipe Nasr. Mas, na verdade, ninguém levava muito a sério o tão propalado retorno de Kimi à F1.

Motivos para tal ceticismo não faltavam. Primeiro porque, no fim do ano passado, Bouiller e Raikkonen trocaram juras de ódio eterno quando o campeão de 2007 acusou o francês de usar seu nome para ganhar exposição na mídia. Indignados, ambos disseram que nunca integrariam a mesma equipe. Segundo porque o que ele fez em dois anos no Mundial de Rali nem de longe sugere que ele tenha, enfim, se disposto a aceitar tudo que se exige de um piloto de F1 em termos de marketing. Se dentro do carro poucos duvidam que nas pistas ele mostrará enorme talento, é de sua pouca disposição para trabalhar fora do carro que todos desconfiam. Qual Kimi estará na Renault, perdão, Lotus? O piloto velocíssimo ou o rebelde indisciplinado? Torço muito para que seja o primeiro.

Para Bruno, porém, a chegada de Raikkonen não muda nada. Na verdade, o finlandês reduziu dramaticamente as chances de Barrichello (mas me garantem que não as extinguiu) e de, imaginem, de Vitaly Petrov. O russo tem sido intensamente criticado pelos inúmeros erros que comete. Mesmo que não sejam gritantes, eles afetam o rendimento, o aprimoramento e os resultados do carro. E na comparação com o brasileiro, feitas o tempo todo pelos engenheiros, ele sai perdendo em todos os quesitos. Da qualidade da informação à pilotagem passando ainda pela capacidade de motivar os membros da equipe.

Sem dúvida, essa comparação atingiu seu ponto mais intenso no sábado, quando Bruno levou seu carro ao Q3 e conquistou a nona colocação no grid; por seu lado, Petrov obteve um discreto e decepcionante 15º. Pena a insistência do jovem Senna no entrevero com Michael Schumacher. Mais do que entender, dá para aplaudir a determinação com que ele se defendeu da arrogante, abusada tentativa de ultrapassagem do alemão na freada do S do Senna. Imaginem só, tomar por fora em Interlagos, na curva que leva o nome do tio, na frente do público brasileiro? Bruno não aceitaria ser ultrapassado sem luta nem morto, e fez bem.

Mas errou quando, já superado, deixou o bico do seu Renault esbarrar no pneu traseiro da Mercedes. Mas daí a ser punido com um drive through que liquidou sua corrida vai uma enorme distância. Erro maior que o dele e o de Schumacher cometeram os comissários esportivos ao punir apenas um deles, não por acaso o de menor peso político, quando os dois cometeram excessos. Lamentável também que o austríaco Alex Wurz, o piloto escolhido para assessorar os comissários, não tenha se oposto a essa tentativa de castrar pilotos combativos.

Seja como for, a posição de Bruno ainda é forte. Claro, precisa carrear patrocínios para a equipe. E evitar que atrasem os pagamentos, problema que tem ocorrido com incômoda freqüência por parte das empresas que prometeram sustentar a temporada de Petrov. Nada ainda está garantido, nem a permanência de Petrov nem a de Bruno, mas as chances são melhores do que se pensava. Caso se concretizem, a F1 2012 terá seis campeões mundiais no grid. E junto a eles, três brasileiros. E pelo que se vê agora, todos com melhores condições do que nesse malfadado 2011.

sábado, 19 de dezembro de 2009

VOCÊ SABE QUEM FOI FRITZ D'OREY?

Conheça mais sobre a trajetória desse ex-piloto brasileiro, pioneiro na Fórmula 1 nos anos 50 através do pentacampeão mundial Juan Manuel Fangio, que concedeu excelente entrevista à Lito Cavalcanti para o programa Grid Motor do canal Sportv.

No final do bate-papo, Fritz D'Orey opina sobre o automobilismo atual, Rubens Barrichello e a pista atual de Interlagos. Para os fãs de automobilismo, é uma verdadeira viagem no tempo: