quinta-feira, 12 de abril de 2012
Um GP indigno*
* Por Rodrigo Mattar
Relutei bastante antes de tentar escrever este post, porque acho que esporte não pode e não deve se misturar com política e, por tabela, ser utilizado como instrumento de manobra de qualquer governo. O Comitê Olímpico Internacional (COI), mais do que ninguém, vivenciou a triste experiência do boicote em dois Jogos Olímpicos consecutivos – Moscou/80 e Los Angeles/84 – e felizmente as coisas se acalmaram por lá nesse sentido.
Porém, a intolerância e a inconsequência de grupos radicais e separatistas ainda dá as cartas em alguns países. Um deles, como todo mundo sabe, o Bahrein.
Formado por um arquipélago de 33 ilhas, com área total de 750 quilômetros quadrados e população superior a 1,2 milhão de habitantes, o país foi declarado independente do jugo Persa em 1783 e hoje é governado por uma monarquia constitucional, cujo chefe é Hamad bin Isa al Khalifa.
O Bahrein é uma nação rica, por causa da exploração de petróleo. Quadragésimo-segundo colocado no ranking do índice de desenvolvimento humano (o Brasil é o 84º), apresenta a segunda maior renda per capita do planeta, com US$ 27.433. Números realmente impressionantes. Mas que mascaram um país etnicamente dividido.
Desde o ano passado, o Bahrein tornou-se um território perigoso. Com 70% de maioria islâmica, o governo local viu recrudescer o ódio entre sunitas e xiitas, que culminou com uma sequência de protestos que fez o monarca decretar estado de emergência. E é aí que a Fórmula 1 finalmente entra nesta história.
Presente no calendário da categoria máxima desde 2004, o GP do Bahrein foi cancelado ano passado diante da falta de segurança para a realização de um evento deste porte. Bernie Ecclestone, que logicamente ganha muito dinheiro dos magnatas do petróleo com a organização desta corrida, teve prejuízo e quis “empatar” o montante perdido, marcando para 2012 uma nova edição da corrida barenita. Teimosia? Ambição? Ambos? Nunca se sabe…
É nisso que mora o perigo de um novo cancelamento. Os conflitos vêm se tornando cada vez mais intensos, mortes foram registradas nos últimos dias e ninguém dá garantias de que imprensa internacional, pilotos, equipes, dirigentes e mecânicos terão segurança suficiente em Manama, capital do Bahrein.
Vale lembrar que em 1985, quando o apartheid ainda dava as cartas na África do Sul, a corrida marcada para Kyalami naquele ano foi alvo de um boicote de equipes francesas: Renault e Ligier não viajaram para aquele país e patrocinadores como a Marlboro se recusaram a expor sua publicidade nos carros. Largaram 20 pilotos e Nigel Mansell venceu. A África do Sul ficaria sete anos longe do calendário, regressando após o fim do regime separatista e a libertação de Nelson Mandela, após 25 anos de degredo.
Voltando aos dias atuais, é claro que há interesses em manter a corrida marcada para o próximo dia 22 no circuito de Sakhir. Mas há um meio de existir o veto à realização do GP barenita e uma reunião neste fim de semana, em Xangai, na China, pode decidir o destino daquela que seria a 4ª etapa do Mundial de Fórmula 1.
Se Bernie Ecclestone se mantém firme no propósito de não perder dinheiro face os acordos comerciais costurados pela Formula One Management (FOM), as equipes pressionam para que a corrida não seja realizada e há nos bastidores alguém que pode ser um aliado importante: Jean Todt.
O presidente da Federação Internacional de Automobilismo (FIA), que estará em Xangai para o encontro decisivo com os doze chefes de equipe da Fórmula 1 e Bernie Ecclestone, tem o poder de cancelar a corrida, embora assim como o manda-chuva da FOM, a entidade esteja interessada na realização do GP do Bahrein.
O que eu não concordo, em nenhuma hipótese, é que vidas inocentes como a de muitos colegas de profissão (entre os quais alguns brasileiros) e dos pilotos e mecânicos, sejam colocadas em risco por conta de uma política mesquinha de dinheiro a todo preço que cada vez mais tem levado a Fórmula 1 a lugares tão díspares e insólitos como o Bahrein. Não podemos fechar os olhos diante da crise europeia, sem dúvida alguma. Mas Bernie Ecclestone, cuja personalidade já conhecemos depois do lançamento de sua biografia, parece pouco disposto a ceder ante as pressões.
O GP do Bahrein é indigno de ser realizado. Hoje e sempre. Se acontecer em 2012, que não volte em 2013. Que não volte nunca mais.
Relutei bastante antes de tentar escrever este post, porque acho que esporte não pode e não deve se misturar com política e, por tabela, ser utilizado como instrumento de manobra de qualquer governo. O Comitê Olímpico Internacional (COI), mais do que ninguém, vivenciou a triste experiência do boicote em dois Jogos Olímpicos consecutivos – Moscou/80 e Los Angeles/84 – e felizmente as coisas se acalmaram por lá nesse sentido.
Porém, a intolerância e a inconsequência de grupos radicais e separatistas ainda dá as cartas em alguns países. Um deles, como todo mundo sabe, o Bahrein.
Formado por um arquipélago de 33 ilhas, com área total de 750 quilômetros quadrados e população superior a 1,2 milhão de habitantes, o país foi declarado independente do jugo Persa em 1783 e hoje é governado por uma monarquia constitucional, cujo chefe é Hamad bin Isa al Khalifa.
O Bahrein é uma nação rica, por causa da exploração de petróleo. Quadragésimo-segundo colocado no ranking do índice de desenvolvimento humano (o Brasil é o 84º), apresenta a segunda maior renda per capita do planeta, com US$ 27.433. Números realmente impressionantes. Mas que mascaram um país etnicamente dividido.
Desde o ano passado, o Bahrein tornou-se um território perigoso. Com 70% de maioria islâmica, o governo local viu recrudescer o ódio entre sunitas e xiitas, que culminou com uma sequência de protestos que fez o monarca decretar estado de emergência. E é aí que a Fórmula 1 finalmente entra nesta história.
Presente no calendário da categoria máxima desde 2004, o GP do Bahrein foi cancelado ano passado diante da falta de segurança para a realização de um evento deste porte. Bernie Ecclestone, que logicamente ganha muito dinheiro dos magnatas do petróleo com a organização desta corrida, teve prejuízo e quis “empatar” o montante perdido, marcando para 2012 uma nova edição da corrida barenita. Teimosia? Ambição? Ambos? Nunca se sabe…
É nisso que mora o perigo de um novo cancelamento. Os conflitos vêm se tornando cada vez mais intensos, mortes foram registradas nos últimos dias e ninguém dá garantias de que imprensa internacional, pilotos, equipes, dirigentes e mecânicos terão segurança suficiente em Manama, capital do Bahrein.
Vale lembrar que em 1985, quando o apartheid ainda dava as cartas na África do Sul, a corrida marcada para Kyalami naquele ano foi alvo de um boicote de equipes francesas: Renault e Ligier não viajaram para aquele país e patrocinadores como a Marlboro se recusaram a expor sua publicidade nos carros. Largaram 20 pilotos e Nigel Mansell venceu. A África do Sul ficaria sete anos longe do calendário, regressando após o fim do regime separatista e a libertação de Nelson Mandela, após 25 anos de degredo.
Voltando aos dias atuais, é claro que há interesses em manter a corrida marcada para o próximo dia 22 no circuito de Sakhir. Mas há um meio de existir o veto à realização do GP barenita e uma reunião neste fim de semana, em Xangai, na China, pode decidir o destino daquela que seria a 4ª etapa do Mundial de Fórmula 1.
Se Bernie Ecclestone se mantém firme no propósito de não perder dinheiro face os acordos comerciais costurados pela Formula One Management (FOM), as equipes pressionam para que a corrida não seja realizada e há nos bastidores alguém que pode ser um aliado importante: Jean Todt.
O presidente da Federação Internacional de Automobilismo (FIA), que estará em Xangai para o encontro decisivo com os doze chefes de equipe da Fórmula 1 e Bernie Ecclestone, tem o poder de cancelar a corrida, embora assim como o manda-chuva da FOM, a entidade esteja interessada na realização do GP do Bahrein.
O que eu não concordo, em nenhuma hipótese, é que vidas inocentes como a de muitos colegas de profissão (entre os quais alguns brasileiros) e dos pilotos e mecânicos, sejam colocadas em risco por conta de uma política mesquinha de dinheiro a todo preço que cada vez mais tem levado a Fórmula 1 a lugares tão díspares e insólitos como o Bahrein. Não podemos fechar os olhos diante da crise europeia, sem dúvida alguma. Mas Bernie Ecclestone, cuja personalidade já conhecemos depois do lançamento de sua biografia, parece pouco disposto a ceder ante as pressões.
O GP do Bahrein é indigno de ser realizado. Hoje e sempre. Se acontecer em 2012, que não volte em 2013. Que não volte nunca mais.
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