segunda-feira, 16 de julho de 2012

A última da Stock em Jacarepaguá*

* Por Rodrigo Mattar




Há sete anos, desde 2005 portanto, a gente sempre ouve falar da ‘última corrida da história de Jacarepaguá’. Mas é com dor no coração que a gente constata que o fim está cada vez mais próximo e que neste fim de semana a Stock Car aparece no circuito carioca pela última vez.

Eu gostaria de acreditar que o adeus daquela que é hoje a mais antiga categoria do automobilismo nacional, que poucas vezes deixou de correr no autódromo de Jacarepaguá, é temporário. Só que, dadas as circunstâncias e quem norteia não só o governo na esfera municipal quanto na estadual e até na federal – sem mencionar a inapetente Confederação Brasileira de Automobilismo – custa-me a crer que o Rio voltará a ter um autódromo como sempre mereceu.

Quem acompanha essa longa novela está careca de saber que Jacarepaguá sempre foi tratado pelas “otoridades” como um estorvo. Não à toa, Marcello Alencar fez o favor de não renovar o contrato com Bernie Ecclestone e a Fórmula 1, que tinha corridas no Rio initerruptamente desde 1981, voltou para Interlagos.

Quando a prefeitura, já comandada por um cidadão chamado Cesar Maia, assinou contrato com a Dorna e a Vadam para realizar o GP do Brasil de Motovelocidade, gastou-se uma fortuna para concretar as arquibancadas, que eram as mesmas do desfile das escolas de samba na Presidente Vargas e enterrou-se alguns milhões num recapeamento malfeito que inclusive cancelou a prova motociclística em 1998. Ela seria ainda realizada por mais alguns anos, até seu cancelamento definitivo.

Não obstante, a prefeitura do mesmo Cesar Maia também assinou um contrato para a construção de um oval para uma corrida de Fórmula Indy. Este oval, além de significar a destruição do kartódomo anexo ao circuito misto, também deixou de ser utilizado quando, vejam vocês, o próprio Cesar Maia e sua trupe brigaram com os promotores da etapa brasileira da Indy (leia-se Emerson Fittipaldi) e com a CART, então detentora da organização da categoria.

Tudo porque Emerson Fittipaldi apoiou Luiz Paulo Conde em sua tentativa de reeleger-se prefeito do Rio. Como Conde perdeu, por puro revanchismo, CEM cancelou o contrato e depois feriu de morte a existência de Jacarepaguá com o fim do GP de Moto e com o início dos rumores de destruição da pista para a construção de equipamentos esportivos visando uma posterior candidatura olímpica do Brasil.

O país ganhou o direito de sediar o Pan-Americano de 2007 e CEM se sentiu no direito de vilipendiar uma praça esportiva das mais elogiadas por equipes e pilotos. E ordenou a mutilação do autódromo, construindo um parque aquático e uma arena multiuso no Setor Norte, bem como um velódromo que tem piso importado da Ucrânia e que, por ser inadequado para os Jogos Olímpicos de 2016, será… demolido!

Só aqui mesmo…

É bom que se diga: em NENHUM momento o blogueiro aqui se mostrou contra o Pan-Americano ou contra a Olimpíada. Vocês jamais vão encontrar neste espaço uma palavra contra qualquer destes dois eventos. O que causa indignação é que uma praça esportiva vai acabar para dar lugar a instalações provisórias e depois o terreno será entregue ao bel-prazer das construtoras, sob a desculpa da especulação imobiliária, promovida por CEM ao mudar o zoneamento da região do entorno do Autódromo de Jacarepaguá, chamando toda a área de… Barra da Tijuca. Um crime engenhoso.

Veio a confirmação do Rio como sede dos jogos olímpicos de 2016 e aí a constatação de que o sonho de manter vivo o autódromo estava definitivamente se tornando pesadelo. Um pesadelo que a cada dia fica mais frequente diante de um noticiário desfavorável – para o automobilismo, logicamente, porque a opinião pública não se manifesta a favor da causa. O bom mesmo é anunciar o fim de Jacarepaguá, sem se dar conta de que pode ser o fim do esporte no estado. Até porque, meus amigos, confiar na construção de uma nova pista em Deodoro, nos termos que a coisa vai, é o mesmo que acreditar no Coelhinho da Páscoa.

Na sua recente edição que está nas bancas, a revista Placar mostrou o “legado” da Copa de 2010 para a África do Sul. Passaram-se dois anos e o chamado Soccer City, salvo engano, só lotou apenas uma única vez, para a realização de um jogo de Rugby entre a seleção sul-africana e os All Blacks da Nova Zelândia. E será que eu preciso recorrer também à Grécia, que gastou os tubos na realização dos Jogos Olímpicos de Atenas, com equipamentos esportivos que estão sucateados? O país europeu entrou em parafuso. Faliu.

O perigo do Brasil pertencer a esse hoje pequeno grupo de países, que daqui a algum tempo pode ter o cordão engrossado é imenso. As consequências não serão sentidas agora, mas temo que a população, um dia, venha a pagar muito caro por tudo que está sendo feito com vistas a 2014 e 2016.

O automobilismo brasileiro tornou-se vítima da ganância de uma meia-dúzia que abusa do poder que possuem, passando por cima de acordos, documentos e palavras. Só que os dirigentes que comandam o esporte no país também têm sua parcela de culpa. Uns mais, outros menos. As duas administrações recentes da CBA foram desastrosas para que o Rio perdesse Jacarepaguá. Tanto Paulo Scaglione como seu sucessor Cleyton Pinteiro foram lenientes e este último apelou para a fanfarronice de dizer que se “acorrentaria” ao portão principal de Jacarepaguá para evitar sua destruição iminente.

Esse depoimento foi documentado. Há testemunhas. Oculares e auditivas. Eu sou um dos que viu e ouviu o dirigente proferir tal frase.

E se o senhor tem palavra, sr. Cleyton Pinteiro, se o senhor é “sujeito homem”, como dizem nos mais distantes rincões do país, tome uma atitude: acorrente-se ao portão principal de Jacarepaguá.

Porque a hora é agora.