segunda-feira, 7 de abril de 2014

Hamilton, vitória com aula de pilotagem*

* Por Fábio Seixas

(Ufa, que corrida...)

A F-1 comemorou o 900º GP de sua história com classe.

O GP do Bahrein foi o melhor dos últimos tempos. Disputas abertas, rádios interferindo pouco, um safety car inédito, indefinição até o último instante.

E uma aula de pilotagem do vencedor. Uma aula magna.


Hamilton venceu pela segunda vez no ano e pela 24ª na carreira. Com isso, passa Piquet, iguala Fangio e entra para o grupo dos dez maiores vencedores da categoria.

Merecidíssimo.

Rosberg ficou em segundo, com Pérez completando o pódio _foi o primeiro da Force India desde Bélgica-2009.

Massa ficou em sétimo, e coube a ele o primeiro grande momento da prova.

O GP do Bahrein começou com uma largadaça do brasileiro.

Ele se aproveitou da má saída de Raikkonen, imediatamente à sua frente, jogou o carro pro meio da pista e foi passando todo mundo. Contornou a primeira curva em terceiro, a melhor largada do dia.

Hamilton também saiu muito bem, forçando, forçando, colocando-se melhor na primeira curva... E passando Rosberg.

O top 10 ao fim da primeira volta, Hamilton, Rosberg, Massa, Pérez, Bottas, Button, Alonso, Hulkenberg, Raikkonen e Vettel.

As Mercedes começaram, então, a abrir. Na quinta volta, 4s4 já separavam Hamilton de Massa.

Pelo rádio, Alonso reclamava de perda de potência logo após ser superado por Hulkenberg. No mesmo instante, a TV mostrou Montezemolo, com cara de poucos amigos, retirando-se dos boxes da Ferrari. A coisa está feia, bem feia, em Maranello.

Também pelo rádio, Rosberg começava a discutir uma maneira de bater Hamilton na base da estratégia. Para isso, disse o engenheiro, ele teria de poupar pneus, já que seu carro estava saindo mais de frente que o do companheiro.

Na nona volta, a diferença de Hamilton para Massa atingiu a casa dos 10 segundos. E Pérez se aproximava perigosamente do brasileiro.

Bottas, o novo inimigo nacional, também vivia uma noite difícil, sendo superado por Button e Hulkenberg na mesma volta. Foi chamado para os boxes, assim como Kvyat e Bianchi. Os três mantiveram pneus macios.

Pérez, então, chegou em Massa. Chegou rápido. Os dois duelaram por um par de curvas, a Williams deu uma rabetada, e o mexicano tomou o terceiro lugar na 12ª volta.

Lá no fundo, Sutil abandonava após um choque com Bianchi.

Na 14ª volta, Massa foi para os boxes. Manteve os macios e voltou em 11º.

Um pouco à sua frente, acreditem, um "faster than you". O mais inacreditável: foi para Vettel, que estava com uma pane no DRS e deixou Ricciardo passar. Que fase, a do alemão...

Hulkenberg entrou na 16ª. Pérez e Vettel, na 17ª. O tetracampeão trocou os médios por macios, e o mexicano bvoltou atrás de Massa.

Assistimos, então, ao melhor momento da prova. A um exemplo de esportividade em uma categoria com rotineiros maus exemplos. A algo que não deveria ser notícia, mas é: a uma disputa limpa.

Rosberg partiu pra cima de Hamilton. Na 19ª volta, chegou a passar, mas tomou um xis. Manteve a toada, ambos fizeram curvas e curvas lado a lado, e Hamilton acabou prevalecendo.

Pelo rádio, nenhum pio. Parabéns à Mercedes.

Na 20ª volta, Hamilton foi para os pits e saiu de pneus macios. Rosberg teve duas voltas para acelerar loucamente e tentar ganhar a posição. Não deu. Voltou atrás, em segundo, com pneus médios.

Chegou a hora de outro duelo entre companheiros. Bottas se beneficiou da estratégia de parar antes e era o terceiro. Massa, o quarto colocado.

Logo atrás, Hulkenberg e Pérez estavam babando para passar os Williams.

Um quarteto faminto.

"Bottas está perdendo os pneus traseiros", disse Massa, pelo rádio. "Entendido", limitou-se a responder o engenheiro.

Na 26ª, o finlandês foi chamado para os boxes.

Massa reassumiu o terceiro posto, mas com Hulkenberg e Pérez sem dar sossego.

Quando o alemão tentou o bote, o mexicano mergulhou junto e o ultrapassou. Sorte do brasileiro, porque ambos tiveram de tirar o pé.

Na 28ª, Massa, com os pneus no bagaço, não conseguiu mais. Foi superado pelos dois Force India. Na volta seguinte, parou e colocou macios de novo. Alonso e Grosjean entraram na mesma volta.

Para não dizer que não falei das flechas prateadas, lá na frente as Mercedes continuavam o passeio: Hamilton tinha 7s5 sobre Rosberg e 23s3 para Pérez.

Na 31ª, Bottas quase foi pro espaço. Veio como uma vaca louca para tentar passar Raikkonen e teve de jogar o carro para a área de escape para não acertar o compatriota.

Na seguinte, Raikkonen perdeu posição para Ricciardo. Bottas, enfim, fez a manobra e também deixou a Ferrari para trás. Massa fez o mesmo na 34ª, aproximando-se de novo do companheiro.

Ambos os Williams passaram Ricciardo e continuaram avançando...

Pérez e Vettel pararam na 35ª. Hulkenberg, Ricciardo e Button, na 36ª.

Com isso, Bottas tornou-se novamente o terceiro, com Massa logo atrás.

A Williams então chamou Massa antes para os boxes.

Sim, o brasileiro tinha pneus três voltas mais novo, mas foi chamado antes que o companheiro.

Isso se chama inversão de posição nos boxes.

Ele entrou e colocou pneus médios.

Foi quando veio o lance que melhorou ainda mais a corrida.

Maldonado acertou Gutierrez no final da reta, levando o Sauber a uma capotagem espetacular. Total falta de noção do venezuelano, que levou um stop & go de 10 segundos. Ficou baratíssimo pra ele...

Pela primeira vez na história, um safety car no Bahrein.

Quase simultaneamente, Hamilton e Rosberg entraram nos boxes. O inglês teve de colocar os pneus médios. O alemão foi com os macios.

Isso deixou Hamilton em péssimos lençóis. A vantagem que ele tinha para Rosberg e que lhe permitiria fazer o trecho final da prova com os pneus mais lentos, sem se preocupar, foi dizimada.

Bottas também parou, diga-se. E voltou atrás de Massa.

Missão cumprida na disputa interna. Mas o safety car foi um golpe nas pretensões do brasileiro de lutar pelo pódio.

A relargada veio a dez voltas do fim.

Pelo rádio, a Mercedes pediu para seus pilotos levarem os carros inteiros até a linha de chegada.

Rosberg até tentou, mas não chegou a ter uma chance clara: Hamilton relargou muitíssimo bem.

Na volta seguinte, Massa deixou Button para trás e ganhou o sétimo lugar.

Na ponta, Rosberg vinha chegando em Hamilton. Vinha chegando, chegando...

E chegou de vez na 52ª volta, quando tomou um novo xis. Na 53ª, mais um: o alemão passou, mas levou o troco.

Hamilton então fez mágica. Mesmo com pneus mais lentos, começou a abrir vantagem. Como? Coisa de piloto excepcional.

Aplausos. Em pé.

Na luta pelo sexto lugar, Massa partiu para cima de Vettel. Ambos foram no limite, o brasileiro chegou a ficar à frente, mas o alemão prevaleceu. Um duelo genial.

Hamilton cruzou a linha de chegada com 1s085 sobre Rosberg e 24s067 para Pérez.

Completando o top 10, Ricciardo, Hulkenberg, Vettel, Massa, Bottas, Alonso e Raikkonen.

E a imagem do fim da prova foi a dos três primeiros colocados vibrando com o que tinham acabado de viver. Foi daquelas que lembraremos por muito tempo.

Com o segundo lugar, Rosberg continua na ponta do Mundial, com 61 pontos. Hamilton tem 50. Hulkenberg (sim!) é o terceiro, com 28. Massa tem 12 e é o 11º, três posições atrás de Bottas.

No Mundial de Construtores, 111 para a Mercedes contra 44 de Force India e 43 da McLaren.

Vive num mundo à parte, a equipe alemã.

O que não nos impede de ver corridas sensacionais.

A F-1 de 2014, tão renovada e tão criticada, marcou um golaço neste domingo.

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