segunda-feira, 24 de maio de 2010
PILOTOS: CHICO LANDI
Ser o primeiro, aquele capaz de quebrar uma barreira e avançar sobre o desconhecido e de ir até onde ninguém foi é sempre um ato heróico. Em sua época e vindo de onde veio, ainda mais! Este foi o caso do brasileiro chamado Francisco Sacco Landi. Ele foi o primeiro brasileiro a disputar uma prova de Fórmula 1.
Nascido no dia 11 de julho de 1907, filho de uma próspera família, Chico Landi, como ficou conhecido, foi um garoto que teve a oportunidade rara de estudar, pois naquela época, isto era privilégio de poucos. Pequeno, acompanhava o pai, Paschoal Landi, nas corridas dos carroceiros de Santana, que era disputada neste bairro paulistano.
De repente, após o falecimento do pai, a vida de Chico deu uma reviravolta e o então garoto, teve de começar a trabalhar.
Algum tempo depois, junto com o irmão Quirino, Chico começou a se interessar pelo automobilismo, disputando rachas pelas então vazias ruas de São Paulo. Em 1928, Chico Landi comprou um Chevrolet 28, conhecido como “Cabeça de Cavalo”: “Aprendi a correr naquele Chevrolet 28. No início tirava rachas que valiam 5 mil réis ao vencedor, numa época em que a lata de gasolina com 18 litros, custava 2 mil réis”, lembrou Landi.
Foi um passo para começar a disputar corridas em São Paulo e no Rio de Janeiro, incluindo-se ai, o temível circuito da Gávea. A sua primeira corrida importante foi na Gávea, no ano de 1934, quando abandonou a prova. “Estreei oficialmente em 1934, mas minha primeira vitória foi em 1935, na corrida do ‘Chapadão’. A pista tinha mais buracos que asfalto, em vez de guard-rails, usavam fardos de alfafa, a roupa protetora era uma camisa de mangas curtas, um blusão de couro e um par de óculos escuros, mas fiz uma média de 135 km/h”, contou Chico.
Venceu o GP do Rio de Janeiro, no “Trampolim do Diabo”, nos anos de 1941, 1947 e 1948. A mais bela e emocionante dessas vitórias foi em 1947, quando venceu os italianos Luigi Villoresi e Achille Varzi, que competiam com carros Maserati, iguais ao seu.
Ainda em 1947, Chico resolveu ir para a Europa, para assistir ao I Grande Prêmio de Bari. Porém, com o auxílio do amigo Achille Varzi, conseguiu uma Maserati e participou da prova. Com a belíssima atuação, foi convidado pelo Automóvel Clube de Bari para correr no ano posterior.
Recebeu uma Ferrari, com o número de fabricação 004. De forma magnífica, conquistou a prova e recebeu uma taça enorme, com a base toda em mármore de carrara. Na alfândega italiana, porém, quase ficou sem a taça, pois os italianos disseram que a mesma era uma relíquia. Todavia, o governo brasileiro interveio e Chico trouxe seu prêmio. Como curiosidade dessa prova, o fato de os organizadores da prova de Bari, não terem o hino nacional brasileiro e no pódio, Landi teve de ouvir o Guarani de Carlos Gomes. Este dia entrava para a história do automobilismo brasileiro e o Brasil, para a história do automobilismo internacional.
Nesse mesmo ano, disputou uma prova em Silverstone. O brasileiro liderava a prova, quando teve de parar nos boxes para trocar seus pneus. De volta a pista, com muito tempo perdido, recuperou-se espetacularmente e ainda conseguiu o segundo posto.
Nesta época, convenceu o "Comendatore" Enzo Ferrari a lhe vender uma de suas "Macchinas"... contudo, teve um enorme desgosto ao abrir o capô e constatar tratar-se de uma Ferrari já usada. Ele chorava e as pessoas pensavam que era emoção. Baixinho, confidenciou a um amigo sua triste constatação. Amigo que é amigo, não se faz de rogado: "Não fala nada... ninguém precisa ficar sabendo". Esta Ferrari foi pintada com as cores nacionais, com o amarelo predominando.
Começou a disputar provas da Fórmula 1 em 1951. Foram seis corridas no seu currículo. Conquistou um excelente 4º lugar, no GP da Argentina de 1956, dividindo a condução do carro com o italiano Gerino Gerini, num Maserati 250 F.
Em 1951, a F1!
Landi ficou na Europa por oito anos. Disputou provas contra todos os grandes pilotos da época e é notório o fato, de que se tivesse um incentivo maior, como por exemplo, o que Juan Manuel Fangio recebeu do governo argentino, poderia ter conquistado, possivelmente, várias façanhas. “As vitórias de Fangio foram muito importantes como propaganda do seu país, e eu, que carregava a bandeira brasileira na mala para ser hasteada nos autódromos, tinha que explicar que aquela não era a bandeira da Argentina, mas sim do Brasil”, relataria Chico.
Landi afirmava que para um piloto vencer, era necessário sorte: “Estávamos todos nós – Fangio, Villoresi, Ascari, Nuvolari e outros, reunidos num bar, conversando, quando um jornalista italiano perguntou a cada um de nós, o que era preciso para vencer uma corrida. Quase todos afirmaram que era preciso 50 % do carro e 50 % do piloto. Eu fui o último a responder, e disse que é preciso três coisas: sorte, depois, mais sorte; e, finalmente, muita sorte”.
No começo dos anos 50, os Alfa Romeo eram os grandes carros do automobilismo mundial, só que Chico nunca aceitou fazer testes com os Alfetta: “Eu gostava muito do Enzo Ferrari, que me orientou e confiou em mim. Então, eu preferia correr com os carros Ferrari e Maserati, mesmo sabendo que não tinha nenhuma chance contra os Alfetta”, disse Landi, que comprou uma Ferrari, com a ajuda de Getúlio Vargas, e a pintou de verde e amarelo.
Em seis corridas válidas pelo Campeonato Mundial de F1, teve como seu melhor resultado uma quinta colocação no GP da Argentina de 1955.
Nos anos 60, fez aquela que ele considerou sua maior corrida: “Em 1960, com um Oldsmobile de passeio, fiz outra das corridas mais emocionantes da minha vida: levei minha mulher às pressas para a maternidade, onde nasceu minha filha”.
O Primeiro F1 Brasileiro.
Logo após, inspirado numa Ferrari Shark Nose de 1961, Chico Landi e Tony Bianco criaram no início da década de 60, o primeiro Fórmula 1 brasileiro. Era o "Landi-Bianco F1", Um Fórmula Jr, primeiros "monopostos modernos" no Brasil mas com motor Alfa Romeo 2000 ou Simca V8 2600, dentro das especificações da F1 daquela época. Este bólido teve uma vida curta: Fez sua estréia em 1962, nos 500 km de interlagos. Infelizmente, foi pilotando este carro que faleceu Celso Lara Barberis, nos 500 km de Interlagos de 1963. Landi e Bianco desmontaram o que sobrou do carro.
Roberto Zullino, colunista do site Autoracing, relatou o seguinte sobre o carro: "Acho que foram construídos dois carros Landi F1. Um com motor Alfa Romeo do JK 2000 e outro com motor do Simca Chambord 2600. Embora a F1 fosse 1,5 litro na época, aqui eram chamados de Fórmula 1, embora tivessem motores maiores. Obtive a foto no Nostalgia Fórum do AtlasF1, mas não sei quem tem o crédito da mesma. Foi certamente escaneada de alguma revista brasileira da época tipo Quatro Rodas, já que ainda não existia a Autoesporte do Antonio Carlos Scavone. A Autoesporte era bem diferente da de hoje em dia e nada ficava a dever às Autosprints e Motorsports. Mas o Scavone, que tinha um programa muito bom na TV Paulista Canal 5 (pré-Globo), morreu no acidente com o avião da Varig em Orly e a revista nunca mais foi a mesma. Temos que recordar o Scavone, pois ele foi um dos que começou a internacionalizar o automobilismo brasileiro e foi o primeiro da fazer gestões para termos um GP. Morreu indo tratar disso." Sua Paixão por Interlagos Landi correu até 1974, quando disputou a prova “25 Horas de Interlagos”, com um Maverick V8 Quadrijet nº. 4. Foi 3º colocado, junto com o filho Luiz Landi e Antônio Castro Prado. “Resolvi. Não entro num carro nem para experimentar. Quero completar um ano sem correr e, se isso acontecer, será a primeira vez, desde que comecei. Então posso ter certeza que parei”, disse Landi após a prova.
Landi ainda falaria: “Corri de 1934 a 1974, dando mais importância ao esporte do que à vitória. Na época da guerra, faltava gasolina, mas não faltava vontade. Peguei um Chevrolet 41, coloquei um gasogênio e fui campeão três anos seguidos: ganhei a Niterói-Campos, a Rio-Petropólis e a corrida da Pampulha”.
Porém, a paixão pela velocidade não conseguiu fazer com que Chico Landi ficasse longe das pistas. Nos anos 80 do século passado, foi administrador do autódromo de Interlagos. Foi um dos responsáveis pela volta da Fórmula 1 a essa pista, mas no entanto, não conseguiu ver a prova de 1990. Chico faleceu no dia 07 de junho de 1989, vítima de insuficiência cardíaca. Seu corpo foi cremado e suas cinzas, espalhadas pelo autódromo de Interlagos.
Nascido no dia 11 de julho de 1907, filho de uma próspera família, Chico Landi, como ficou conhecido, foi um garoto que teve a oportunidade rara de estudar, pois naquela época, isto era privilégio de poucos. Pequeno, acompanhava o pai, Paschoal Landi, nas corridas dos carroceiros de Santana, que era disputada neste bairro paulistano.
De repente, após o falecimento do pai, a vida de Chico deu uma reviravolta e o então garoto, teve de começar a trabalhar.
Algum tempo depois, junto com o irmão Quirino, Chico começou a se interessar pelo automobilismo, disputando rachas pelas então vazias ruas de São Paulo. Em 1928, Chico Landi comprou um Chevrolet 28, conhecido como “Cabeça de Cavalo”: “Aprendi a correr naquele Chevrolet 28. No início tirava rachas que valiam 5 mil réis ao vencedor, numa época em que a lata de gasolina com 18 litros, custava 2 mil réis”, lembrou Landi.
Foi um passo para começar a disputar corridas em São Paulo e no Rio de Janeiro, incluindo-se ai, o temível circuito da Gávea. A sua primeira corrida importante foi na Gávea, no ano de 1934, quando abandonou a prova. “Estreei oficialmente em 1934, mas minha primeira vitória foi em 1935, na corrida do ‘Chapadão’. A pista tinha mais buracos que asfalto, em vez de guard-rails, usavam fardos de alfafa, a roupa protetora era uma camisa de mangas curtas, um blusão de couro e um par de óculos escuros, mas fiz uma média de 135 km/h”, contou Chico.
Venceu o GP do Rio de Janeiro, no “Trampolim do Diabo”, nos anos de 1941, 1947 e 1948. A mais bela e emocionante dessas vitórias foi em 1947, quando venceu os italianos Luigi Villoresi e Achille Varzi, que competiam com carros Maserati, iguais ao seu.
Ainda em 1947, Chico resolveu ir para a Europa, para assistir ao I Grande Prêmio de Bari. Porém, com o auxílio do amigo Achille Varzi, conseguiu uma Maserati e participou da prova. Com a belíssima atuação, foi convidado pelo Automóvel Clube de Bari para correr no ano posterior.
Recebeu uma Ferrari, com o número de fabricação 004. De forma magnífica, conquistou a prova e recebeu uma taça enorme, com a base toda em mármore de carrara. Na alfândega italiana, porém, quase ficou sem a taça, pois os italianos disseram que a mesma era uma relíquia. Todavia, o governo brasileiro interveio e Chico trouxe seu prêmio. Como curiosidade dessa prova, o fato de os organizadores da prova de Bari, não terem o hino nacional brasileiro e no pódio, Landi teve de ouvir o Guarani de Carlos Gomes. Este dia entrava para a história do automobilismo brasileiro e o Brasil, para a história do automobilismo internacional.
Nesse mesmo ano, disputou uma prova em Silverstone. O brasileiro liderava a prova, quando teve de parar nos boxes para trocar seus pneus. De volta a pista, com muito tempo perdido, recuperou-se espetacularmente e ainda conseguiu o segundo posto.
Nesta época, convenceu o "Comendatore" Enzo Ferrari a lhe vender uma de suas "Macchinas"... contudo, teve um enorme desgosto ao abrir o capô e constatar tratar-se de uma Ferrari já usada. Ele chorava e as pessoas pensavam que era emoção. Baixinho, confidenciou a um amigo sua triste constatação. Amigo que é amigo, não se faz de rogado: "Não fala nada... ninguém precisa ficar sabendo". Esta Ferrari foi pintada com as cores nacionais, com o amarelo predominando.
Começou a disputar provas da Fórmula 1 em 1951. Foram seis corridas no seu currículo. Conquistou um excelente 4º lugar, no GP da Argentina de 1956, dividindo a condução do carro com o italiano Gerino Gerini, num Maserati 250 F.
Em 1951, a F1!
Landi ficou na Europa por oito anos. Disputou provas contra todos os grandes pilotos da época e é notório o fato, de que se tivesse um incentivo maior, como por exemplo, o que Juan Manuel Fangio recebeu do governo argentino, poderia ter conquistado, possivelmente, várias façanhas. “As vitórias de Fangio foram muito importantes como propaganda do seu país, e eu, que carregava a bandeira brasileira na mala para ser hasteada nos autódromos, tinha que explicar que aquela não era a bandeira da Argentina, mas sim do Brasil”, relataria Chico.
Landi afirmava que para um piloto vencer, era necessário sorte: “Estávamos todos nós – Fangio, Villoresi, Ascari, Nuvolari e outros, reunidos num bar, conversando, quando um jornalista italiano perguntou a cada um de nós, o que era preciso para vencer uma corrida. Quase todos afirmaram que era preciso 50 % do carro e 50 % do piloto. Eu fui o último a responder, e disse que é preciso três coisas: sorte, depois, mais sorte; e, finalmente, muita sorte”.
No começo dos anos 50, os Alfa Romeo eram os grandes carros do automobilismo mundial, só que Chico nunca aceitou fazer testes com os Alfetta: “Eu gostava muito do Enzo Ferrari, que me orientou e confiou em mim. Então, eu preferia correr com os carros Ferrari e Maserati, mesmo sabendo que não tinha nenhuma chance contra os Alfetta”, disse Landi, que comprou uma Ferrari, com a ajuda de Getúlio Vargas, e a pintou de verde e amarelo.
Em seis corridas válidas pelo Campeonato Mundial de F1, teve como seu melhor resultado uma quinta colocação no GP da Argentina de 1955.
Nos anos 60, fez aquela que ele considerou sua maior corrida: “Em 1960, com um Oldsmobile de passeio, fiz outra das corridas mais emocionantes da minha vida: levei minha mulher às pressas para a maternidade, onde nasceu minha filha”.
O Primeiro F1 Brasileiro.
Logo após, inspirado numa Ferrari Shark Nose de 1961, Chico Landi e Tony Bianco criaram no início da década de 60, o primeiro Fórmula 1 brasileiro. Era o "Landi-Bianco F1", Um Fórmula Jr, primeiros "monopostos modernos" no Brasil mas com motor Alfa Romeo 2000 ou Simca V8 2600, dentro das especificações da F1 daquela época. Este bólido teve uma vida curta: Fez sua estréia em 1962, nos 500 km de interlagos. Infelizmente, foi pilotando este carro que faleceu Celso Lara Barberis, nos 500 km de Interlagos de 1963. Landi e Bianco desmontaram o que sobrou do carro.
Roberto Zullino, colunista do site Autoracing, relatou o seguinte sobre o carro: "Acho que foram construídos dois carros Landi F1. Um com motor Alfa Romeo do JK 2000 e outro com motor do Simca Chambord 2600. Embora a F1 fosse 1,5 litro na época, aqui eram chamados de Fórmula 1, embora tivessem motores maiores. Obtive a foto no Nostalgia Fórum do AtlasF1, mas não sei quem tem o crédito da mesma. Foi certamente escaneada de alguma revista brasileira da época tipo Quatro Rodas, já que ainda não existia a Autoesporte do Antonio Carlos Scavone. A Autoesporte era bem diferente da de hoje em dia e nada ficava a dever às Autosprints e Motorsports. Mas o Scavone, que tinha um programa muito bom na TV Paulista Canal 5 (pré-Globo), morreu no acidente com o avião da Varig em Orly e a revista nunca mais foi a mesma. Temos que recordar o Scavone, pois ele foi um dos que começou a internacionalizar o automobilismo brasileiro e foi o primeiro da fazer gestões para termos um GP. Morreu indo tratar disso." Sua Paixão por Interlagos Landi correu até 1974, quando disputou a prova “25 Horas de Interlagos”, com um Maverick V8 Quadrijet nº. 4. Foi 3º colocado, junto com o filho Luiz Landi e Antônio Castro Prado. “Resolvi. Não entro num carro nem para experimentar. Quero completar um ano sem correr e, se isso acontecer, será a primeira vez, desde que comecei. Então posso ter certeza que parei”, disse Landi após a prova.
Landi ainda falaria: “Corri de 1934 a 1974, dando mais importância ao esporte do que à vitória. Na época da guerra, faltava gasolina, mas não faltava vontade. Peguei um Chevrolet 41, coloquei um gasogênio e fui campeão três anos seguidos: ganhei a Niterói-Campos, a Rio-Petropólis e a corrida da Pampulha”.
Porém, a paixão pela velocidade não conseguiu fazer com que Chico Landi ficasse longe das pistas. Nos anos 80 do século passado, foi administrador do autódromo de Interlagos. Foi um dos responsáveis pela volta da Fórmula 1 a essa pista, mas no entanto, não conseguiu ver a prova de 1990. Chico faleceu no dia 07 de junho de 1989, vítima de insuficiência cardíaca. Seu corpo foi cremado e suas cinzas, espalhadas pelo autódromo de Interlagos.
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3 comentários:
Caraca!
Tem uma pá de história aí que eu não sabia do meu parente!! (minha avó era Landi)
que história fantástica... chico landi foi "apenas" o cara que inspirou emerson fittipaldi, acho que isso já basta!!!
Um pouco de historia sempre e bom.
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