* Victor Martins
As reações e respostas ao resultado são válidas para tentar entender onde foi que a maioria, incluso eu, erramos na avaliação de que a Red Bull sobraria na Austrália, de onde há de partir para a Malásia com uma derrota sensível. Primeiro que ninguém nos boxes taurinos borrifados de roxo-celofane há de convencer que o pódio de Vettel é meramente um bom resultado. E o bom é de que sua alegação ao terceiro lugar vai ser contraposta nos próximos dias na Malásia.
A Red Bull põe nas baixas temperaturas de Melbourne a culpa pelo desempenho discreto de Sebastian durante as 58 voltas da corrida. Um Vettel que largou bem, mas que em nenhum momento conseguiu desgarrar das Ferrari de Massa e Alonso no primeiro stint ou que conseguiu ameaçar Sutil na briga pela liderança mesmo com calçados mais novos no segundo. E esse Vettel que não desenvolvia ao longo e que segurava o ritmo de Massa e Alonso é que fez o engenheiro do espanhol arriscar. A moita não tinha nada a oferecer além daquilo, embora tenha sido agradável a Felipe e seu grupo, que tomaram na testa por não terem aquela sacada. A isto, em instantes.
Quando calçou os supermacios nas CNTP similares, Vettel sobrou, sobretudo no que restou da classificação. Com aquele pneu de faixa vermelha e curtíssima duração, então, a Red Bull se vira. Mas em longa duração, com os médios, a performance é simplesmente mediana e o carro consome muito da borracha. Tanto que Seb terminou longos 10s atrás de Alonso, sem chance de briga. Dizem os catedráticos que a coisa será outra em Sepang, com termômetros lá no extremo. O pneu médio lá estará, junto ao duro. Reserve.
Massa pulou como um um canguru no cio para cima de Webber na largada e tomou sem sustos duas posições, já que Hamilton se preocupava em não perder posição para Alonso, o que não conseguiu curvas depois. Felipe bem acompanhou o líder Vettel até a parada deste, assumiu a ponta e, oh!, puxa!, a Ferrari o chamou antes de Alonso para a primeira parada. A Ferrari, essa equipe aí cuja razão social é boicotar brasileiros, na visão de Brasilino Pacheco… Fernando foi aos pits uma volta depois, e as coisas ficaram na mesma.
Vendo que Vettel, e não Sutil, quem lhes prendia o ritmo, restava que alguém arriscasse, e só podia ser antecipando os pits para que voltasse em ritmo melhor à pista e girasse mais rápido que o pelotão. Massa, que não atacou Vettel e tinha o temor de que os macios iam lhe ferrar no fim da prova, preferiu ficar ali esperando a banda melbourniana passar; o companheiro arriscou. A grita que se faz achando que houve um jogo de equipe descarado não cola, até porque o ritmo de Massa era tão bom quanto o de Alonso. Se a Ferrari realmente já quisesse entregar o troféu de primeirão a Alonso, teria feito na primeira parada. E outra: vai que arrisca com Massa e não dá certo. Aí toda a torcida cheia de ladainha e mimimi estaria reclamando que o projeto Fornicazione 2013 estava em ação de outra forma.
A leitura da corrida naquele momento, em sua metade, permitia pensar que Sutil, sim, seria um candidato a vitória. Andando no ritmo dos demais com pneus velhos e com um plano de corrida que o veria colocar os supermacios no fim, teoricamente lhe dando um mega-impulso, Adrian voltava à F1 prestes a brilhar. Mas o desenrolar das ações, com Alonso endiabrado e livre de Vettel, e o insurgente Räikkönen, ofuscaram o plano da Force India, que ainda deve alguns décimos aqui e ali, mas que já se mostra um carro bem feitinho para encher o saco da vida das grandes, com um piloto de nível pra lá de bom. E Sutil virou mais lento com os pneus chiclete-Adams, afe.
Kimi, Kimi. Se a corrida fosse vista em takes de cinema ou flashes, seria até mais interessante. Por exemplo: no começo, quando estavam lá a Red Bull e as Ferrari, Räikkönen deu um passão por fora em Hamilton. Depois, quando estavam para começar as paradas, eis que o degustador de vodka já estava colado atrás de Alonso, com quem parou para colocar os macios. E como a negada da frente e o resto do povo estavam preocupados em ver como ia se desenrolar a briga entre os quatro, ninguém reparou no bote de Kimi de fazer o resto da corrida dividido ao meio, em trechos de 24 e 25 voltas. A equipe de Massa achava que com 18 ou 20 já ia para o bagaço, o que se mostrou errado. Ali a Lotus foi genial e demonstrou, com a volta mais rápida de seu mestre nos giros finais, que tem um carro extremamente competitivo nas corridas. E que parece ter resolvido seus problemas de confiabilidade. A Pirelli reagiu: “Eles entenderam perfeitamente o funcionamento dos pneus”. Taí. É isso que vai determinar as variedades e diferentes situações do início do campeonato.
A Mercedes deu saltos em relação ao ano passado tanto em termos de classificação quanto de corrida. Mas o cenário parece o mesmo: nos GPs, cai um pouco. Hamilton andou rápido enquanto os pneus lhe deram chance, enquanto o outro carro, o de Rosberg, quebrou. Ficou em quinto, o inglês. Uma estreia mediana. Webber, meu pai do céu, sexto colocado, não fez cocô nenhum a corrida toda. Culparam o ECU, a centralina, que é feita pela McLaren, “não tinha telemetria nenhuma, zero”. Curioso como o ECU é sempre um ecu na vida de Mark, que larga mal pacas. Sutil ficou em sétimo, à frente de Di Resta, que tinha estratégia inversa a do companheiro. Button, com a Marussia prata, foi nono. Tem gente na McLaren que já defende o abandono do projeto do MP4-28 e adoção do conceito do ano passado. Whitmarsh diz que vai insistir. Fortíssima candidata a ficar em quinto este ano. Grosjean foi décimo. Fraquíssimo. Lutou a prova toda com as McLentas, as Toro Rosso e olhe lá. Tiveram Kobayashi nas mãos. Deu nisso. É como Irmã Selma diz: “Eu rezo. E acontece.”
Falando em Toro, até que o carro deles em ritmo de festa é interessante. Vergne saiu da zona de pontuação no fim da prova. Vinha bem. Ficou em 12º, atrás de Pérez, que nada fez. Gutiérrez, então, meu papa francisco dos últimos dias, se a Sauber for depender dele. E vou te falar que em alguns momentos o carro deste ano realmente lembra o design da HRT. Pobre Hülk, que não pôde participar da corrida porque o radiador furou. Aliás, a história de Nico em Melbourne é interessante: dois acidentes na primeira curva e uma não largada. Não convide o jovem para ver o filme ‘Austrália’. Bottas terminou em 14º com essa Williams de dar dó. Que nos enganou. Que enganou a Maldonado. Os caras ainda hão de conseguir sofrer com Bianchi, esse bonzão, com a Marussia, que evoluiu. Julinho passou um sabão na rapa do refugo que deu dó, mais de 40s à frente de Pic. Chilton, fraco, terminou à frente de Van der Garde, fraco e meio.
Só um último ponto em relação a Massa: a chavinha foi realmente virada. É outro piloto, de fato, outra postura, e esse Felipe há de incomodar. Desde que também saiba se impor.
Em alguns dias, então, Sepang há de nos dar a resposta se realmente o problema da Red Bull é a baixa temperatura. Porque se o carro não andar novamente na corrida, meu bom, aquilo que se desenhava enfadonho pelo que Vettel fez nos dois primeiros dias de treinos na Austrália vai para o ralo e, em definitivo, é possível dizer que temos um campeonato.