Quando a chuva caiu antes da largada, a esperança era de um início de prova caótico. Mas acabou não sendo. As primeiras voltas com pista molhada serviram para pouco mais que dar trabalho aos mecânicos. Tirando Alonso, ninguém se deu mal no início. E Fernandinho não perdeu a asa por causa do asfalto escorregadio. Perdeu a asa porque cometeu um erro e a Ferrari, outro.
Aliás, a Ferrari…
Fico imaginando a situação. Largada boa, toque na traseira de Vettel, coisas que acontecem, rádio:
- Ragazzi, bati no Vettel.
- OK, Fernando, nós vimos, vamos avaliar a situação.
- Não precisa avaliar nada, quebrou a asa, vou para os boxes.
- OK, Fernando, nós vimos, mas estamos avaliando a situação.
- Ragazzi, a asa tá toda torta, raspando no chão, fazendo barulho e soltando faísca.
- OK, Fernando, estamos vendo as faíscas.
- Ragazzi, essas merdas de faíscas vão me queimar.
- OK, Fernando, já avaliamos a situação.
- Ótimo, ragazzi, estou indo para os boxes, paciência, a gente troca e vê o que faz depois.
- Não, Fernando, não precisa. Avaliamos as imagens e os dados aqui e concluímos que não precisa parar agora. Pode ficar na pista, a asa está boa.
- Como está boa? Tá soltando faísca, vai arrebentar essa merda toda!
- Fernando, caríssimo, confie na gente, temos um novo consultor argentino, ele que viu tudo pela TV e falou que você pode ficar mais um pouco na pista.
- Argentino?
- Francisco.
- Francisco?
- Ele mesmo.
- Carajo…
- Olha a boca, Fernando. Não fala assim, é pecado.
- Carajo, quebrou a asa.
- Tranquilo, estamos avaliando a situação.
- …
- Fernando?
- Sim?
- Já avaliamos a situação.
- E?
- Não terás medo do terror de noite nem da seta que voa de dia.
- Não voou seta nenhuma, quebrou a asa. Quem está falando?
- Mil cairão ao teu lado, e dez mil à tua direita, mas não chegará a ti.
- É pra voltar porque todo mundo vai abandonar, é isso? Quem está falando?
- Atolei-me em profundo lamaçal, onde não se pode firmar o pé; entrei na profundeza das
águas, onde a corrente me submerge.
- Não estou em lamaçal nenhum, estou na brita. E já parou de chover. Quem é que está falando?
- Francisco.
- Oh. Que honra, Meritíssimo.
- Não é “Meritíssimo”, é “Sua Santidade”.
- Perdón.
- Perdoado, meu filho. Agora preciso sair para tomar um café.
- Café, Excelência?
- Santidade. Sim, café, com um pão na chapa e requeijão. Aqui ainda é de manhã.
- E o que eu faço, Ilustríssimo?
- Santidade. Reze, meu filho.
- Mas e a asa? Sua Eminência não estava avaliando a situação?
- Santidade. É, estava. Mas não entendo muito disso, não. Achei que dava.
- Não deu.
- Eu vi.
- De todo modo, obrigado por sua ajuda, Alteza.
- É Santidade. Mas não se desespere. Desgraciado en el juego, afortunado en amores. Vá em paz.
- Amém.
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