quarta-feira, 27 de março de 2013

Webber, Vettel, Horner, estão todos pisando em ovos.*

* Por Lívio Oricchio


Como o intervalo até a próxima etapa do campeonato, o GP da China, dia 14, é de três semanas, o melhor que os integrantes da Red Bull têm a fazer é discutir com maior profundidade o ocorrido domingo, na prova da Malásia, daqui a alguns dias. “Já conversamos, sob o calor da disputa, e teremos outra reunião antes da etapa de Xangai”, disse Christian Horner, diretor da Red Bull.

O jovem e capaz dirigente inglês referia-se a seu piloto Sebastian Vettel que, contra o que se imaginava dele, desobedeceu a ordem dada pelo próprio Horner, na 46.ª volta da corrida no circuito de Sepang, para não ultrapassar seu companheiro, Mark Webber, o líder, e vencer a competição.

O australiano tinha ritmo contido para reduzir os esforços do motor e manter os pneus Pirelli, concebidos para apresentarem rápida degradação, em condições até a bandeirada, dez voltas mais tarde. Atendia também o pedido de Horner.

Nesse conflito que envolve Vettel, Horner e até Webber, pela forma como o australiano reagiu no pódio, expondo o clima perigosamente tenso que existe dentro da organização, todos, na realidade, pisam em ovos.

Há vários interesses em jogo, por essa razão o mais provável é que antes da etapa da China a escuderia divulgue uma foto com os dois pilotos apertando as mãos, sob a chancela de Horner, para anunciar a paz. Mas que não será verdadeira.

Punir Vettel é algo que assusta Horner e seus dois superiores, Helmut Marko, eminência parda do grupo, e o dono da empresa, Dietrich Mateschitz. O motivo é um só: não há outro piloto do seu nível no mercado. Existe um consenso, hoje, que Vettel, Lewis Hamilton e Fernando Alonso são os supertalentos da Fórmula 1. Hamilton acabou de assinar com a Mercedes até o fim de 2015 e Alonso tem contrato com a Ferrari até o fim de 2016.

A Red Bull, tricampeã do mundo, dona do melhor carro, equipe do genial engenheiro Adrian Newey, teria de apostar em outro piloto, decisão de alto risco para quem investe 240 milhões de euros (quase R$ 700 milhões) por ano no seu projeto de Fórmula 1. A Red Bull, provavelmente, perderia parte importante de sua força.

A perda da Red Bull por “atingir” o ego de Vettel é imensa. Ficou claro domingo que o jovem alemão de 25 anos é susceptível, mais vaidoso do que parecia. As circunstâncias impõem prudência antes de definir uma eventual punição a Vettel.

O outro lado dessa moeda é o que Vettel pode fazer caso pense em deixar a Red Bull. E sua situação não é muito confortável, com se pode pensar de um piloto que vem de três títulos seguidos. O piloto da Red Bull já ouviu do presidente da Ferrari que ele e Alonso juntos está fora de questão, por mais que Bernie Ecclestone, promotor do Mundial, tente influenciar o negócio.

Vettel também conhece a política da Mercedes. Agora que parece ter entrado no rumo certo para crescer, colocar Vettel ao lado de Hamilton seria um convite à desestabilização. Não haveria opção para o alemão senão iniciar um relacionamento com a McLaren, caso lhe passe pela cabeça mudar de ares.

Tem mais: seria trocar o certo, a quase garantia de lutar por vitórias na Red Bull, pelo incerto, com as subidas e descidas da McLaren. Por saber que o mercado está assim, o próprio Vettel tem consciência de que teria muito a perder caso tomasse a decisão de deixar a Red Bull.

Na hipótese bem pouco provável de Vettel se apresentar no mercado no fim de 2014, quando acaba seu contrato com a Red Bull, a McLaren faria de tudo para contratá-lo. Pagaria até mais do que negou a Hamilton para renovar. “Com todo avanço tecnológico, ainda a figura do piloto representa cerca de 50% da possibilidade de vitória de uma organização”, costuma afirmar Michael Schumacher. E muita gente na Fórmula 1 pensa dessa forma. Eu também.

Do lado de Webber o que está em jogo é o seu futuro no time e talvez até na Fórmula 1. Perto de completar 37 anos, tem de demonstrar este ano ser piloto com cacife para permanecer na Red Bull ou em outra equipe potencialmente vencedora, as que pagam seus pilotos para correr, como exigiria o australiano.

Seu desempenho na Malásia é um reflexo dessa necessidade. Desejar tornar as coisas mais duras, não atender a orientação de Horner, seria o caminho mais curto para não ter o contrato renovado e provavelmente ter de abandonar a Fórmula 1.

Esse quadro quer dizer, essencialmente, uma coisa: nessa história, ninguém pode radicalizar nas suas ambições. Tudo passa por uma solução de compromisso, que atenda, dentro do possível, o interesse de cada um.

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