* Por Victor Martins
Quem queria um chacoalhão na F1 para quebrar o domínio de Vettel e da Red Bull está sorrindo desbragadamente. Já foram duas semanas de testes, ambas diferentes entre si em suas características, e já é possível dizer que apostar no pentacampeonato é uma ousadia – e até uma burrice. Não é nem pelo trabalho da equipe, mas a Renault errou a mão na concepção de seu V6 turbo. E tal como uma questão aerodinâmica, leva um tempo para que a montadora resolva todos os problemas de sua unidade para alcançar quem vem à frente, no caso a Mercedes.
Jerez é um circuito prioritariamente de baixa com uma reta mediana e apresentou temperaturas baixas e chuva em alguns momentos. Apesar de agora ter oito marchas, os carros mal chegavam à sétima com a configuração atual. Sakhir está sob o deserto, com temperaturas acima dos 20ºC e com seu teor tilkiano. Não teve um santo dia dentre os oito que a Red Bull passou incólume às falhas. E por mais que a tecnologia seja brilhante e avançada, não faz milagre. Os quatro próximos dias no Bahrein serão fundamentais para que os taurinos não cheguem na Austrália para fazer um papelão. O trabalho conjunto com a Renault nunca foi tão necessário. E os franceses, por sua vez, não podem se debruçar apenas sobre os atuais campeões porque há uma Lotus, uma Toro Rosso e uma Caterham que pagam, e muito, por seus propulsores.
No começo do ano, Button sugeriu que as equipes empurradas pelos Mercedes trabalhassem juntas. Talvez Vettel deva implorar por isso entre os usuários do losango. É o que acontece abertamente na Caterham, que abriu mão de seu desenvolvimento para ajudar a Renault. Kobayashi bem viu que a diferença dos motores chega às vezes a 30 km/h na reta. É absurdo.
O caso remete à Indy em 2012. A Lotus – que acaba sendo esta mesma da F1, na mescla confusa entre as divisões que acabou fazendo – resolveu se aventurar como fabricante de motores e se tornar a terceira via contra Honda e Chevrolet. Os motores eram os turbo de 2,4 L e empurrariam os carros da Dragon, DRR, Bryan Herta e a HVM de Simona de Silvestro, além de promover a volta de Alesi, embaixador da Lotus, ao automobilismo para disputar a Indy 500. Logo em St. Pete ficou claro que faltava potência. Às vésperas da principal corrida, três destas equipes se livraram dos motores e assinou com a Chevrolet. Simona e Alesi se arrastavam nos treinos, e o papo de que poderiam ser excluídos da corrida caso representassem perigo aos demais se confirmou na prática após parcas nove voltas. A HVM aguentou até o fim do ano, quando a Lotus resolveu abandonar o projeto. É uma prova que, por mais dinheiro e recursos que se tenha, não é tarefa simples achar a pólvora.
Pelos números apresentados em Sakhir, principalmente, os motores Ferrari também precisam de um ajuste maior para render como os Mercedes. Assim, a equipe homônima não vem com pinta de quem briga pelas primeiras posições nestas primeiras etapas fora da Europa. Alonso e Räikkönen devem se misturar com Force India e Williams pelas posições intermediárias da zona de pontos. A Sauber parece ter errado de novo a mão no nascimento de seu carro e a Marussia, coitada, até vírus de computador a afeta.
Os oito carros abençoados com Mercedes partem com larga vantagem, sobretudo Mercedes e McLaren. São aqueles que não têm problemas e andam rápido com constância. O cenário indica que dificilmente o título saia das mãos de Hamilton, Button, Rosberg ou Magnussen – este, então, tirou a sorte grande. Force India e Williams precisam só acertar uma ou outra coisinha: os carros são bons.
Na semana que culmina com o Carnaval, a F1 já sabe que a rainha de bateria tem uma estrela que samba na cara da sociedade. Os ensaios que ainda restam vão servir para, principalmente, ver se os touros e os cavalos ficam na dispersão ou o quanto tentam dançar no mesmo ritmo.
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