terça-feira, 26 de junho de 2012

Mundial pode mudar de rumo*

* Por Lívio Oricchio


Observei, em detalhes, a versão do modelo RB8 da Red Bull que estreou no GP da Europa. Às quintas-feiras os carros ficam em fila indiana na área em frente os boxes aguardando a vez de entrar no box 1 para a inspeção técnica. É a melhor hora para vê-los de perto. Chegamos a encostar neles. O que deparei foi surpreendente. Adrian Newey, diretor técnico, concebeu um carro novo, tudo é diferente.

Aerofólio dianteiro, assoalho, laterais e defletores foram concebidos para trabalhar em função de criar fluxos de ar que funcionem como um túnel para os gases do escapamento fluírem na direção do difusor, a porção final do assoalho. Até a suspensão traseira é nova. Newey modificou o conjunto mecânico para acomodar o novo conjunto aerodinâmico. As diferenças são bastante relevantes em relação ao modelo utilizado até o GP do Canadá.

Vocês viram o resultado? Numa Fórmula 1 onde as colocações no grid se definem em bem poucos milésimos de segundo, Vettel, na pole position, impôs preocupantes 324 milésimos, ou três décimos, para Lewis Hamilton, da McLaren. E na 24.ª volta da corrida, ontem, o alemão tinha 20.8 segundos de vantagem para Romain Grosjean, da Lotus. É quase um segundo por volta. Não havíamos visto nada semelhante este ano.

Vamos, agora, para Silverstone, circuito que tende a favorecer ainda mais a maior geração de pressão aerodinâmica do RB8. É certo também que, como me disse Grosjean, a verdade de hoje na Fórmula 1 não é a verdade de amanhã, mas se essa competição tiver ainda um pouco de lógica, Vettel e Webber devem se impor sem dificuldades nos 5.891 metros do veloz traçado inglês.

E se isso, de fato, ocorrer – é a minha aposta -, estou prevendo uma reação dos adversários. Talvez violenta. Vão começar, rapidinho, a dizer que as soluções de Newey para a nova versão do RB8 são ilegais. Afinal, como explicar numa Fórmula 1 supercompetitiva alguém, de repente, aparecer com uma solução mágica que faça o carro voar?
No caso de Charlie Whiting ratificar a legalidade do novo RB8, como já fizeram os comissários no Circuito da Comunidade Valenciana, e apesar de toda a imprevisibilidade atual da Fórmula 1, faz sentido pensarmos que as corridas, daqui para a frente, possam começar com um favorito, a equipe Red Bull. Inédito este ano. Procedendo, será interessante acompanhar como o time vai reagir com Webber em segundo no Mundial, com 91 pontos, e Vettel em quarto, 85. O australiano já foi preterido no grupo.

Na 10.ª volta, de um total de 57, Grosjean forçou a ultrapassagem em Hamilton na curva 13 e o inglês recuou porque o choque seria inevitável. O discurso do talentoso Hamilton, de “visar sempre marcar o máximo de pontos, sem se expor a riscos excessivos, base para ser campeão este ano”, se confirmou na prática. Valia o segundo lugar.

Faltando apenas uma volta e meia para a bandeirada, Hamilton, sem pneus, se vê na mesma situação, no mesmo lugar, mas agora com o audaz Maldonado. E o que faz? Não deixa espaço, mesmo sabendo que seria ultrapassado mais adiante, por estar sem pneus. Resultado: acidente. A punição a Maldona é muito controversa. Pessoalmente a considerei absurda.

Bem, mas se Hamilton cedesse, como fez com Grosjean, diante da inevitável ultrapassagem do venezuelano, o provável quarto lugar que terminaria lhe levaria a 100 pontos, vice-líder, diante de 111 de Alonso, líder. Apenas 11 pontos de diferença. A quebra do discurso, no entanto, o fez ficar sem nada e o lançou para o terceiro lugar, com os mesmos 88 pontos e, agora, a 23 do espanhol.

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