* Por Lucas Berredo
O entusiasmo causado pela volta (ou estreia?) de Bruno Senna à F1 e o bom sétimo lugar conquistado pelo brasileiro no treino classificatório para o GP da Bélgica levou muita gente – via Twitter ou Facebook – no último final de semana a compará-lo com Ayrton, obviamente.
Baseadas nas múltiplas imagens passionais exibidas pela TV Globo no intervalo entre cada sessão do treino, frases do tipo “Igual ao tio!”, “Seu tio ficaria orgulhoso!” ou “Tinha que ser coisa de um Senna” foram frequentes. A esperança, no geral, deste tipo de torcedor é que Bruno retome para si uma espécie de trono tupiniquim na categoria, uma vã ideia de que Ayrton deixou ao sobrinho um legado interrompido pela morte prematura.
Mas separemos as coisas: Ayrton foi gênio e correu em outra época; Bruno fez apenas um treino excelente e uma corrida mediana, mas ainda tem velocidade para chegar lá. A comparação (ou até mesmo a herança genética citada pelos entusiastas acima) pode ser um exercício de futurologia, injustiça e mesquinharia, em alguns casos, com o piloto da Renault.
O mais adequado, talvez, fosse equiparar Bruno e Damon Hill, ex-campeão mundial pela Williams. As carreiras são quase idênticas, à exceção do desempenho de cada um nas categorias de base. Ambos dividem nomes históricos, inícios tardios no automobilismo, capacetes que homenageiam o predecessor e passagens similares na carreira, como começar na F1 em uma equipe retardatária e ganhar vaga numa grande equipe após ter sido piloto de testes. Comparemos.
O início
Filho de Graham Hill, bicampeão mundial e vencedor das 500 Milhas de Indianápolis, Damon, após uma breve carreira no motociclismo, sentou no cockpit de um monoposto pela primeira vez aos 24 anos. Ele se graduou pela Winfield Racing School, correu de F-Ford inglesa, foi 3º e 5º colocado no campeonato em 1984 e 1985, respectivamente, mas deixou impressões apenas medianas.
Senna, por outro lado, teve o primeiro contato mais cedo, aos 21, em 2004, quando disputou seis corridas pela F-BMW inglesa. Logo em sua estreia, na pista de Brands Hatch, ficou a 0s2 do pole-position e classificou-se em 11º lugar. Nos dois anos seguintes, o brasileiro se estabeleceu na F3 inglesa, terminando 2005 em 10º lugar e 2006 em 3º.
O mesmo caminho foi tomado por Hill, quando saiu da F-Ford, mas o filho de Graham ficou por três anos na F3 inglesa, de 1986 a 1988, conquistando também um 3º lugar como melhor término de temporada. O próximo passo foi a incursão nas categorias “de acesso” à F1: F3000 e, no caso de Bruno, GP2.
Na F3000 entre 1988 e 1991, Hill conquistou dois pódios: na sua terceira temporada, pela Middlebridge, faturou um 2º lugar em Brands Hatch, e na seguinte, pela Jordan, fez um 3º em Nogaro. Mas nenhum resultado o colocava à epoca entre os talentos em ascensão, como Alessandro Zanardi, Christian Fittipaldi, Jean Marc-Gounon e Michael Schumacher, só para enumerar alguns.
Na F1
No ano seguinte, pela sua conexão com a Middlebridge, empresa japonesa que coordenava a equipe, Hill conseguiu uma vaga para entrar na F1 em uma agonizante Brabham, além de um contrato como piloto de testes para Williams, o melhor carro da categoria. Naquela temporada, fez oito provas e completou duas (as únicas em que conseguiu alinhar no grid).
Senna teve um destino idêntico, porém mais bem-sucedido no início. Primeiro que, na GP2, levou apenas dois anos para conseguir bons resultados. Em 2007, em sua temporada de estreia na GP2 (encarnação atual da F3000), venceu uma corrida e fez três pódios pela Arden. No ano seguinte, perdeu o título da categoria para Giorgio Pantano, mas deixou grande impressão, com duas vitórias, três poles e seis pódios.
O passo natural seria a F1, mas a Honda – equipe pela qual testara na época – deixou a categoria e, por conta disso, o brasileiro ficou a pé na temporada seguinte. Teve chances de correr na DTM, mas preferiu recusar a proposta da Mercedes para se focar inteiramente na F1. A mal fadada chance – veja novamente a semelhança com Hill – veio em 2010, a bordo de uma carroça chamada Hispania, ou Campos Meta (como foi chamada inicialmente), com a qual praticamente não teve chances de pontuar no Mundial.
A primeira real oportunidade de Senna veio no último sábado, quando, assim como Hill, substituiu um veterano em uma equipe com motor Renault – Riccardo Patrese no caso do inglês e Nick Heidfeld, no do brasileiro. Em seu primeiro GP pela Williams, na África do Sul, em 1993, Hill não impressionou nos treinos como Senna, mas a exemplo do brasileiro, sofreu com a falta de ritmo na corrida e abandonou após uma colisão com Alessandro Zanardi, da Lotus.
Curioso também foi o fato de ambos terem mães preocupadas com a carreira no automobilismo. Hill queria ser motociclista no início, mas abandonou a ideia por causa da mãe Bette. Viviane Senna foi uma das que mais sofreu com a opção de Bruno Senna, especialmente por conta da traumática morte do irmão. O próximo passo seria... um título mundial, mas ainda é muito cedo para se falar sobre isso em relação a Bruno. Fica a esperança.
não é necessário ser um "novo senna" para obter sucesso na F1!!!
ResponderExcluire se até o damon hill conseguiu ser campeão mundial... pq não???
SE VOCE NÃO RIU,O DAMON HILL!!! NOSSA QUE PIADINHA VELHA...HASUHAUSHUASHUS
ResponderExcluirMuito boa análise.
ResponderExcluirE, como já disse aqui, estou comedido com meus comentários, tanto positiva quanto negativamente sobre o Bruno.
Mas eu acredito sim que, se depender somente de sua habilidade, o Bruno tem grandes chances de se firmar, ele tem a cabeça boa, é focado, realista mas, principalmente, ao que parece, está "blindado" contra toda essa euforia e comparações com o nosso grande campeão.
Essa postura lhe permite conseguir mostrar o seu potencial independente de sobrenome, o que no meu ponto de vista, não acredito que seja difícil pra ele.
O seu maior desafio mesmo, será lutar contra os dólares dos outros pilotos e as preferências dos patrocinadores.
A grande diferença é que o Hill teve o melhor carro em 1993 enquanto o Bruno tem um carro que luta pelo 9.º e 10.º lugar nas corridas. Outra grande diferença é que o Hill fez muitos milhares de quilómetros de testes e começou no início do ano, enquanto o Bruno entrou no 12.º GP, enfrentando pilotos com muito mais ritmo.
ResponderExcluirMas duvido que o Hill fosse capaz de fazer o que fez o Bruno na qualificação de Spa, com tão pouca rodagem, até porque andar à chuva nem era o forte do inglês. Tendo as mesmas condições e oportunidades do Hill acho que o Bruno faria melhor do que ele também na F1, tal como fez mais nas categorias de acesso.
O Hill entrou de início, depois de muitos milhares de Kms. de testes, e com aquele que era de longe o melhor carro da altura (Williams de 1993). O Bruno começa apenas no 12.º GP do ano, enfrentando pilotos com mais ritmo e com um carro que luta pelo 9.º ou 10 .º lugar nas corridas.
ResponderExcluirDuvido que o Hill fosse capaz de fazer o que fez o Bruno na qualificação de Spa, tendo tão pouca rodagem e entrando a meio do ano. Tanto mais que andar à chuva nunca foi o forte do inglês. Tendo as mesmas condições e oportunidades do Hill acho que o Bruno faria melhor também na F1. Nas categorias de acesso o Hill demorou uma década para chegar à F1 enquanto ao Bruno bastaram 4 épocas (com melhores resultados do que o inglês) para estar preparado para entrar na categoria máxima.