Esta edição GGOO News é especial. Nela, você voltará ao passado. Um passado de glórias,
emoções , Vitórias Inesquecíveis.
E, são estas lembranças que tenho de Senna. Até hoje, vejo e revejo as corridas. Mas, hoje,
nesta coluna, vou fazer algo diferente. Como se fosse uma homenagem, vou voltar a 20 anos
atrás e compartilhar com vocês o que foi, para mim, o momento mais triste da F1. O que vivi, o
que senti. Como uma conversa entre amigos, onde dividimos todos estes sentimentos.
Sábado 30/04/1994
Naquela noite, como de costume, ia sempre ao Stravaganzza, uma casa noturna em Pinheiros,
São Paulo. Lá, junto com os meus amigos, costumava curtir a noite . O DJ, um amigo meu, o
Marcelo Barres ( que hoje toca nas festas da 97 FM), era tão apaixonado pela F1 , que dois
sábados antes, parou a música, no meio da madrugada, para passar no telão a largada do GP
do Pacífico(Circuito de Aida, no Japão, onde Senna ficou na primeira curva, após a batida de
Hakkinen). Na época, era costume nosso, amantes da F1, arrumar um jeito de assistir ás
corridas de madrugada, enquanto se divertia. E, nas rodas de conversa, sempre surgia o
acidente fatídico de Ratzemberger, da Simtek, ocorrido nos treinos para a corrida. Assim, foi-se
a noite e mais um domingo amanhecia,
Domingo, 01/05/1994
Naquela manhã, eu não voltei para a casa. Levei, de carona, dois amigos ás suas respectivas
residências. Havia saído somente depois das 07:00 h do Stravaganzza. E entre um papo e
outro, não me lembrei da corrida...
Após deixa-los, resolvi procurar um lugar para tomar um café. O rádio sintonizava a Jovem Pan
2 FM e as músicas eurodance que eram febre na época. De repente uma lembrança: “- A
corrida!!!”, mas aí começava outra música legal e eu esperava para mudar a estação.
Resolvi ir até a Av. Paulista para tomar o café. Deixei o carro no estacionamento. Os
funcionários ouviam atentamente um rádio. Era a corrida!! . Pensei em aproveitar que a
lanchonete podia ter uma televisão e ia assistir ! Ledo engano. A lanchonete não tinha TV.
Após o café, voltei ao estacionamento. Ao passar pela guarita dos funcionários, tentei prestar a
atenção no rádio. E ouvi a palavra “acidente”...
Parecia que algo me fazia esquecer da corrida.... Logo eu? que não perdia nenhuma? E,
diferente da maioria das pessoas, eu não estava na sala de casa, ouvindo o Galvão. E, mesmo
assim, “dava um branco”.. Como assim, esquecer da corrida ? Nunca fui assim !
Pois bem, ainda demorei um pouco de tempo, após sair do estacionamento para lembrar. E
quando comecei a ouvir a narração do Nilson Cesar ( Jovem Pan 1 AM), que narrava as
corridas, naquela época ( hoje, ele é o narrador titular da Rádio e quem acompanha a F1 é o
Felipe Motta), comecei a me dar conta do que estava acontecendo. No começo pensei
naqueles acidentes normais, de corrida. Mas, a cada fala, percebi que era algo mais grave do
que eu pensava.
A corrida acabou. Shumacher venceu. Neste momento já me dirigia para casa. A angustia
começava a tomar conta. No rádio, Nilson Cesar, Claudio Carsughi e Milton Neves falavam.
Ninguem queria acreditar. Os comentários sempre recheados de esperança. De que tudo ia dar
certo. Que ele ia sair dessa. Era a nossa torcida e nosso pensamento.
Cheguei em casa. Não saí do carro. Não conseguia tirar a atenção do rádio. E, veio o anúncio
da morte cerebral. Triste. Milton Neves e Nilson Cesar, como todos nós, entoaram discursos
otimistas. Na verdade, não queríamos o pior, não queríamos acreditar no pior. Aí entra a frieza
europeia de Carsughi: “- Senna está praticamente morto”. Milton Neves chora no ar. Eu, entrei
em casa chorando também. Triste, fui me preparar para ir ao Morumbi. S.Paulo x Palmeiras. Eu já tinha ingresso. Mas,
tinha perdido a vontade de ir. Mas, como se quisesse espantar a tristeza, fui ao Estádio.
Não vi e nem ouvi o anúncio oficial da morte. No caminho que levava ao estádio, um
Palmeirense grita : “- Senna morreu! Acabou a F1”!! E, mais uma vez, eu não acreditei. Não
queria acreditar! Só me dei conta, na homenagem, no minuto de silêncio no jogo. Duas
torcidas, juntas, cantando o nome do Senna, em uma só voz.
Parecia pesadelo.
Segunda-feira, 02/05/1994
Na segunda-feira, todos com rostos cobertos de tristeza. As notícias corriam.
No rádio, na TV. Por que tinha que acontecer isso? Olha,eu não sei. A única certeza é, que,
até hoje, foi o fim de semana mais triste da F1.
Quarta-feira, 04/051994
Resolvi prestar minha última homenagem. Eu, que o tinha visto em Interlagos, do antigo setor
C, aquela vitória magnifica de 1993, precisava dar o adeus.
Em companhia de duas amigas do Colégio, me dirigi ao Ibirapuera, para a Assembléia
Legislativa de São Paulo, onde se realizava o velório.
Chegando lá, a fila era enome. Para quem conhece o local, para ter uma idéia, o final da fila
estava no Ginásio do Ibirapuera. Eram 18:30h da quarta. E eu só sairia dali, após prestar minha
homenagem. Pouco importava o tamanho da fila e quantas horas ficaria ali. Na nossa frente,
uma garota, com um quadro enorme de Senna, perguntava o porque disso tudo estar
acontecendo.
Imprensa do mundo todo estava lá. Espanha, França, Alemanha, Argentina, Itália. Em um dado
momento, uma câmera da TV Italiana foi ligada e o povo entoou o nome de Senna. Me lembro
bem quando o repórter indagou uma garota “- Mas vocês não estão tristes? Estão cantando ?”
A garota responde : ‘- É a dor. Isto é apenas o que nos resta fazer”.
Triste demais. Chegando na rampa da Assembléia, vi dezenas, centenas, milhares de coroas de
flores, cartas, cartazes. Clubes de Automobilismo, de carros, pessoas anônimas, fãs. Todos
querendo demonstrar o carinho pelo ídolo. Foi lindo ver isso, foi emocionante. Tanto que,
como num impulso ,resolvi deixar ali, a bandeira do Brasil que eu carregava nas mãos.
Adentrei ao saguão da Assembléia, ás 23:00h. Sem palavras. Só queria agradecê-lo. Os
seguranças não deixavam as pessoas pararem. O caixão, com o capacete amarelo em cima, estava logo no começo do salão. Portanto, eram poucos segundos em que a sua visão
alcançava. Mas,eu não me contentei com poucos segundos. Ao passar por ele, a cada passo,
eu olhava para trás. Foi assim até o final. Na saída, já na escada, antes da porta, parei e olhei
novamente. E, foi neste momento, que percebi que a alegria se foi. Que os domingos não
seriam mais os mesmos. Que tudo tinha acabado. Tudo que eu não quis acreditar, veio á tona.
Aquela maldita porta significava o fim de tudo .Minhas amigas estavam aos prantos. Deixamos
o salão abraçados.
Era como se tudo tivesse mudado. Tudo o que vivi naqueles dias : a manhã de domingo, o
choro do Milton Neves, as torcidas no Estádio cantando o nome do Senna, as homenagens na
TV, as notícias no rádio, pareciam ser apenas um pesadelo.
Mas, não era. Confesso á vocês que só tive a coragem de rever a corrida, com a narração do Galvão, anos
depois.
Mas, o que me orgulha e que vou levar para o resto da vida, é ter tido a oportunidade de ter
vivenciado esta época. Te ter visto o aparecimento em Monaco – 1984, com a Toleman. A
primeira vitória em Estoril, em 1985. O título de 1988. A corridaça no GP Japão de 1989, apesar
da canetada do Balestre, os títulos de 1990 e 1991. As corridas na chuva, a primeira volta de
Donninghton Park , em 1993, e as vitórias em Interlagos.
Eu, só tenho que agradecê-lo. Por ter me dado esta alegria. De poder falar que vi um dos
melhores da história.
Valeu Senna!
Sensação de perder um irmão, um parente! alguém bem próximo de Ti.
ResponderExcluirSinto falta dele! É muita tristeza!