* Por Julianne Cerasoli
Ninguém teve tempo para reclamar da falta de barulho desta vez. Em uma corrida em que os pneus duraram na medida certa para provocar excelentes brigas estratégicas e os companheiros de equipe não quiseram saber de “levar os carros para casa”, o GP do Bahrein foi épico – e deu uma bem-vinda sensação de que, pelo menos enquanto ninguém conseguir competir com as Mercedes, seus pilotos não têm a intenção de tirar o pé.
Lewis Hamilton errou na classificação, mas se recuperou com juros e correção para se defender de Nico Rosberg mesmo com os pneus mais lentos. A diferença ocorreu por uma inteligente tática da equipe de colocá-los em estratégias diferentes para separar os dois quando a briga estava pesada demais, logo antes do primeiro pit stop. Ali, Rosberg fizera o que se espera dele, demonstrando ter poupado mais seus pneus, e Hamilton respondia com suas armas: uma tocada agressiva e com muita raça. No final, a sobrevivência do inglês foi importante para o campeonato, com mais sete pontos da vantagem do alemão descontados.
Um duelo que traz ecos da batalha de Senna e Prost no campeonato de 1988. Com um carro muito superior, um piloto agressivo contra outro mais racional. No final das contas, um segundo separando-os. Pelo menos agora sabemos que, enquanto as Mercedes forem superiores, ainda assim temos um belo campeonato nas mãos.
Falando em superioridade, assustou a vantagem que Hamilton e Rosberg abriram em 10 voltas – e ainda por cima brigando por posição! Foram 23s na provavelmente única vez até agora em que os carros prateados mostraram todo o seu potencial.
Mais atrás, as brigas foram garantidas pelo undercut (estratégia de antecipar a parada para andar rápido e voltar na frente), que ganha outro ingrediente importante neste ano: o ERS-K. Segundo as regras, o carro pode usar 4 megajaules de potência por volta, mas só pode armazenar 2. O que temos observado é que o carro que antecipou a parada e está com pneus mais novos, acaba ganhando ainda mais tempo do que ano passado em relação ao rival que permanece com os pneus velhos devido à gestão desta energia adicional.
Por isso vimos Bottas ganhar de Massa no meio da corrida e o inverso (uma ordem de equipe inteligente por parte da Williams, após o fiasco de execução da Malásia) ocorrendo no final da prova, vimos Vettel ganhando de Ricciardo no decorrer do GP e outras situações do tipo. Tudo isso movimentou a prova e fomentou a intensa troca de posições.
Para a Williams, fica cada vez mais clara a deficiência aerodinâmica. Se foi a chuva que escancarou os problemas de um carro que voa na reta nas primeiras duas etapas, agora foi o alto consumo de pneus, principalmente em uma pista tão “traseira” como do Bahrein. Outra coisa que ficou comprovada é como a aerodinâmica é o ponto forte da Red Bull, que não teve um ritmo tão bom em um circuito mais de motores. E mesmo assim Ricciardo foi o terceiro no grid.
Agora sim, podemos dizer que a temporada que todos esperavam começou de verdade.
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