* Por Fábio Seixas
(Ufa, que corrida...)
A F-1 comemorou o 900º GP de sua história com classe.
O GP do Bahrein foi o melhor dos últimos tempos. Disputas abertas, rádios interferindo pouco, um safety car inédito, indefinição até o último instante.
E uma aula de pilotagem do vencedor. Uma aula magna.
Hamilton venceu pela segunda vez no ano e pela 24ª na carreira. Com isso, passa Piquet, iguala Fangio e entra para o grupo dos dez maiores vencedores da categoria.
Merecidíssimo.
Rosberg ficou em segundo, com Pérez completando o pódio _foi o primeiro da Force India desde Bélgica-2009.
Massa ficou em sétimo, e coube a ele o primeiro grande momento da prova.
O GP do Bahrein começou com uma largadaça do brasileiro.
Ele se aproveitou da má saída de Raikkonen, imediatamente à sua frente, jogou o carro pro meio da pista e foi passando todo mundo. Contornou a primeira curva em terceiro, a melhor largada do dia.
Hamilton também saiu muito bem, forçando, forçando, colocando-se melhor na primeira curva... E passando Rosberg.
O top 10 ao fim da primeira volta, Hamilton, Rosberg, Massa, Pérez, Bottas, Button, Alonso, Hulkenberg, Raikkonen e Vettel.
As Mercedes começaram, então, a abrir. Na quinta volta, 4s4 já separavam Hamilton de Massa.
Pelo rádio, Alonso reclamava de perda de potência logo após ser superado por Hulkenberg. No mesmo instante, a TV mostrou Montezemolo, com cara de poucos amigos, retirando-se dos boxes da Ferrari. A coisa está feia, bem feia, em Maranello.
Também pelo rádio, Rosberg começava a discutir uma maneira de bater Hamilton na base da estratégia. Para isso, disse o engenheiro, ele teria de poupar pneus, já que seu carro estava saindo mais de frente que o do companheiro.
Na nona volta, a diferença de Hamilton para Massa atingiu a casa dos 10 segundos. E Pérez se aproximava perigosamente do brasileiro.
Bottas, o novo inimigo nacional, também vivia uma noite difícil, sendo superado por Button e Hulkenberg na mesma volta. Foi chamado para os boxes, assim como Kvyat e Bianchi. Os três mantiveram pneus macios.
Pérez, então, chegou em Massa. Chegou rápido. Os dois duelaram por um par de curvas, a Williams deu uma rabetada, e o mexicano tomou o terceiro lugar na 12ª volta.
Lá no fundo, Sutil abandonava após um choque com Bianchi.
Na 14ª volta, Massa foi para os boxes. Manteve os macios e voltou em 11º.
Um pouco à sua frente, acreditem, um "faster than you". O mais inacreditável: foi para Vettel, que estava com uma pane no DRS e deixou Ricciardo passar. Que fase, a do alemão...
Hulkenberg entrou na 16ª. Pérez e Vettel, na 17ª. O tetracampeão trocou os médios por macios, e o mexicano bvoltou atrás de Massa.
Assistimos, então, ao melhor momento da prova. A um exemplo de esportividade em uma categoria com rotineiros maus exemplos. A algo que não deveria ser notícia, mas é: a uma disputa limpa.
Rosberg partiu pra cima de Hamilton. Na 19ª volta, chegou a passar, mas tomou um xis. Manteve a toada, ambos fizeram curvas e curvas lado a lado, e Hamilton acabou prevalecendo.
Pelo rádio, nenhum pio. Parabéns à Mercedes.
Na 20ª volta, Hamilton foi para os pits e saiu de pneus macios. Rosberg teve duas voltas para acelerar loucamente e tentar ganhar a posição. Não deu. Voltou atrás, em segundo, com pneus médios.
Chegou a hora de outro duelo entre companheiros. Bottas se beneficiou da estratégia de parar antes e era o terceiro. Massa, o quarto colocado.
Logo atrás, Hulkenberg e Pérez estavam babando para passar os Williams.
Um quarteto faminto.
"Bottas está perdendo os pneus traseiros", disse Massa, pelo rádio. "Entendido", limitou-se a responder o engenheiro.
Na 26ª, o finlandês foi chamado para os boxes.
Massa reassumiu o terceiro posto, mas com Hulkenberg e Pérez sem dar sossego.
Quando o alemão tentou o bote, o mexicano mergulhou junto e o ultrapassou. Sorte do brasileiro, porque ambos tiveram de tirar o pé.
Na 28ª, Massa, com os pneus no bagaço, não conseguiu mais. Foi superado pelos dois Force India. Na volta seguinte, parou e colocou macios de novo. Alonso e Grosjean entraram na mesma volta.
Para não dizer que não falei das flechas prateadas, lá na frente as Mercedes continuavam o passeio: Hamilton tinha 7s5 sobre Rosberg e 23s3 para Pérez.
Na 31ª, Bottas quase foi pro espaço. Veio como uma vaca louca para tentar passar Raikkonen e teve de jogar o carro para a área de escape para não acertar o compatriota.
Na seguinte, Raikkonen perdeu posição para Ricciardo. Bottas, enfim, fez a manobra e também deixou a Ferrari para trás. Massa fez o mesmo na 34ª, aproximando-se de novo do companheiro.
Ambos os Williams passaram Ricciardo e continuaram avançando...
Pérez e Vettel pararam na 35ª. Hulkenberg, Ricciardo e Button, na 36ª.
Com isso, Bottas tornou-se novamente o terceiro, com Massa logo atrás.
A Williams então chamou Massa antes para os boxes.
Sim, o brasileiro tinha pneus três voltas mais novo, mas foi chamado antes que o companheiro.
Isso se chama inversão de posição nos boxes.
Ele entrou e colocou pneus médios.
Foi quando veio o lance que melhorou ainda mais a corrida.
Maldonado acertou Gutierrez no final da reta, levando o Sauber a uma capotagem espetacular. Total falta de noção do venezuelano, que levou um stop & go de 10 segundos. Ficou baratíssimo pra ele...
Pela primeira vez na história, um safety car no Bahrein.
Quase simultaneamente, Hamilton e Rosberg entraram nos boxes. O inglês teve de colocar os pneus médios. O alemão foi com os macios.
Isso deixou Hamilton em péssimos lençóis. A vantagem que ele tinha para Rosberg e que lhe permitiria fazer o trecho final da prova com os pneus mais lentos, sem se preocupar, foi dizimada.
Bottas também parou, diga-se. E voltou atrás de Massa.
Missão cumprida na disputa interna. Mas o safety car foi um golpe nas pretensões do brasileiro de lutar pelo pódio.
A relargada veio a dez voltas do fim.
Pelo rádio, a Mercedes pediu para seus pilotos levarem os carros inteiros até a linha de chegada.
Rosberg até tentou, mas não chegou a ter uma chance clara: Hamilton relargou muitíssimo bem.
Na volta seguinte, Massa deixou Button para trás e ganhou o sétimo lugar.
Na ponta, Rosberg vinha chegando em Hamilton. Vinha chegando, chegando...
E chegou de vez na 52ª volta, quando tomou um novo xis. Na 53ª, mais um: o alemão passou, mas levou o troco.
Hamilton então fez mágica. Mesmo com pneus mais lentos, começou a abrir vantagem. Como? Coisa de piloto excepcional.
Aplausos. Em pé.
Na luta pelo sexto lugar, Massa partiu para cima de Vettel. Ambos foram no limite, o brasileiro chegou a ficar à frente, mas o alemão prevaleceu. Um duelo genial.
Hamilton cruzou a linha de chegada com 1s085 sobre Rosberg e 24s067 para Pérez.
Completando o top 10, Ricciardo, Hulkenberg, Vettel, Massa, Bottas, Alonso e Raikkonen.
E a imagem do fim da prova foi a dos três primeiros colocados vibrando com o que tinham acabado de viver. Foi daquelas que lembraremos por muito tempo.
Com o segundo lugar, Rosberg continua na ponta do Mundial, com 61 pontos. Hamilton tem 50. Hulkenberg (sim!) é o terceiro, com 28. Massa tem 12 e é o 11º, três posições atrás de Bottas.
No Mundial de Construtores, 111 para a Mercedes contra 44 de Force India e 43 da McLaren.
Vive num mundo à parte, a equipe alemã.
O que não nos impede de ver corridas sensacionais.
A F-1 de 2014, tão renovada e tão criticada, marcou um golaço neste domingo.
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