* Por Julianne Cerasoli
A combinação entre uma regra mal pensada e uma tola resistência a mudá-la está criando um padrão que desafia a lógica na Fórmula 1: os “pilotos de passarela”. Motivados por um peso mínimo para os carros que não lhes dá muita margem, os mais altos estão colocando sua saúde em risco em troca de alguns décimos por volta. E uma solução ficou acertada apenas para 2015.
A raiz do problema é uma estimativa errônea do peso da nova unidade de potência, que compreende o motor V6, os geradores de energia híbrida e suas baterias. Prevendo que os carros ficariam mais pesados com a novidade, o limite mínimo do conjunto carro-piloto foi aumentado em 43kg em relação ao ano passado. O problema é que as contas estavam erradas.
Com toda a tecnologia empregada para que os carros sejam os mais leves possíveis, de onde tirar o peso excedente? Dos pilotos. Mesmo que eles tenham composições corporais distintas. Mesmo que um piloto magro demais corra riscos de desenvolver problemas de saúde e de não ter energia suficiente para lidar com o esforço de cerca de 1h30 de uma atividade intensa.
O peso ideal do piloto varia de acordo com a equipe e esse é um dos fatores que freia uma mudança durante o campeonato: há times que conseguiram fazer carros mais leves e, com isso, permitem que seus pilotos sejam mais pesados. A Mercedes, por exemplo, não se importa que Lewis Hamilton se mantenha por volta dos 74kg, segundo o piloto. Por outro lado, Jenson Button – pouco menos de 10cm mais alto que o inglês – tem de se manter abaixo dos 10kg que o conjunto carro-piloto da McLaren fique o mais próximo possível do peso mínimo.
No geral, é bem-vindo que o piloto não passe dos 70kg. Isso é relativamente fácil para os baixinhos, mas e para a turma que passa dos 1,80m? A turma conta com Ricciardo, Chilton, Grosjean, Hulkenberg, Gutierrez, Button, Vergne e Sutil, oito dos 22 pilotos do grid, e vem encontrando resistência justamente dos demais, que querem manter sua vantagem.
Vantagem essa que é diretamente medida em tempo de volta. Quando mais pesado for o conjunto carro-piloto, mais lento ele é. O caso mais grave é o de Adrian Sutil, correndo com o carro 20kg a mais que o peso mínimo, o que lhe daria uma desvantagem de seis décimos. Para se ter uma ideia, é uma diferença que garantiria cinco posições a mais no grid da última prova.
Tanto, que o alemão adotou uma solução drástica e “ganhou” 1,5kg ao retirar o reservatório de água de seu cockpit. Imagine correr sob temperaturas que chegam a 60ºC no cockpit sem água para beber e já lutando para emagrecer.
A desidratação, comum em lutadores que têm de chegar ao peso máximo antes de uma luta, se tornou uma solução popular entre os pilotos. Afinal, como já estão magros demais e perderiam massa muscular caso adotassem uma dieta ainda mais restritiva, usam formas de perder água para abaixar o ponteiro da balança. Porém, diferentemente de quem sobe ao ringue podendo recuperar até 12kg do que “bateu” na pesagem, os pilotos são pesados após os treinos e provas. Ou seja, têm de correr desidratados.
A perda de rendimento é óbvia e Vergne, inclusive, chegou a ser hospitalizado com quadro de desnutrição entre uma etapa e outra. Especialistas indicam que a performance começa a ficar prejudicada com a perda de 2% do peso corporal em líquido. Para um homem de 70kg, por exemplo, isso significaria 1,4kg, algo que já acontece normalmente em provas mais quentes. Imagine quem precisa perder mais do que isso.
Para o ano que vem, ficou acertado que o peso mínimo subirá em 10kg. Até lá, seguiremos com o grid, literalmente, seco.
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