sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Os dois Massas da Ferrari*

* Por Julianne Cerasoli


O piloto mais vencedor da história da Ferrari entre os que não foram campeões. Certamente, não é o título que Felipe Massa gostaria depois de oito temporadas pela equipe de Maranello, mas está longe de ser a carreira de um derrotado.

É claro que a má impressão destes últimos quatro anos sem vitórias e com um sem-número de decepções pode deturpar a visão de qualquer um, mas Massa também foi um piloto combativo e capaz de feitos como a grande volta da pole postion para o GP de Cingapura de 2008, a corrida controlada sob condições difíceis no Brasil meses depois ou o duelo com Robert Kubica no Japão, no ano anterior.

O que existe, então, entre aquele Massa que não foi campeão por detalhes e este que se despede da Ferrari no final da temporada? Uma mola, diriam alguns. Mas muita água passou por debaixo da ponte desde aquele treino classificatório do GP da Hungria de 2009.

Largadas na Ferrari

1º Michael Schumacher 179
2º Felipe Massa 132
3º Rubens Barrichello 102
4º Gerhard Berger 96
5º Michele Alboreto 80

Vitórias na Ferrari

1º Michael Schumacher 72
2º Niki Lauda 15
3º Alberto Ascari 13
4º Felipe Massa 11
5º Fernando Alonso 11
6º Rubens Barrichello/Kimi Raikkonen 9

Pole positions na Ferrari

1º Michael Schumacher 58
2º Niki Lauda 23
3º Felipe Massa 15
4º Alberto Ascari 13
5º Jacky Ickx 11
6º Rubens Barrichello 11

Primeiro, a Ferrari. Imagine que você inicia sua carreira ao lado de um dos maiores de sua área, quase como um aprendiz. Ele se aposenta e, ao invés de acreditarem no seu potencial, sentem-se obrigados a contratar outro grande. Mas tudo bem, você é jovem e chegará lá. Em três anos juntos, você faz um trabalho, no mínimo, tão bom quanto ele.  E o que sua empresa faz? Manda esse cara embora para contratar outro gigante. É uma forte mensagem de que não lhe veem como um líder. Com ou sem acidente, ver Alonso chegar para comandar uma equipe que defendera por quatro anos – e fazer isso de maneira tão incisiva – não deve ter feito bem à confiança de Massa.

Segundo, o modelo de disputa. Massa sempre foi agressivo e sua necessidade de ser guiado pelo engenheiro Rob Smedley é conhecida. Não é um piloto cerebral, qualidade que vem sendo privilegiada desde o fim do reabastecimento e, principalmente, com a chegada dos pneus Pirelli, DRS, Kers. Ou seja, de 2010 para cá. São muitas variáveis a serem geridas ao mesmo tempo e houve pilotos que se adaptaram melhor a isso.

Terceiro, os próprios carros da Ferrari, cuja tendência de sair de frente vem sendo atenuada, mas ainda incomoda o piloto brasileiro, que prefere carros mais traseiros. Sua dificuldade em aquecer os pneus, que o atormentou principalmente nas três últimas temporadas, está ligada a isso.

Como sempre na Fórmula 1, uma soma de fatores quebrou aquela espiral de confiança que marcou seus primeiros anos de Ferrari. Os últimos anos foram realmente ruins e só o respeito do brasileiro à política interna da equipe, interesses econômicos e uma boa relação podem explicar sua longevidade. Mas nada disso apaga a carreira digna que Felipe teve no time.

E daqui para frente? A vantagem para pilotos cerebrais até aumenta ano que vem, porém fora da Ferrari Massa se livra de alguns destes “demônios” que vem enfrentando de 2010 para cá.

Mas há espaço para Massa no grid? Há o interesse de manter um brasileiro, reconhecido pelo próprio Ecclestone, por ser o maior país em número absoluto de espectadores e interessante para várias marcas. Há, também, sua experiência. Veremos o quanto isso – frente à má impressão dos últimos anos – vai pesar.

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