terça-feira, 23 de abril de 2013

O senhor do deserto*

* Por Rodrigo Mattar



Para quem ainda tinha dúvidas do quanto Sebastian Vettel ainda pode fazer na Fórmula 1, eis que o alemão da Red Bull emplaca sua segunda vitória na temporada. E, ao contrário do ocorrido na Malásia, quando a tônica foram caras amarradas e trombas enormes, o piloto sorri aliviado desta vez. Dominante quase do começo ao fim, Vettel venceu com sobras e já alcança 77 pontos na liderança do campeonato.

Foi também a 28ª conquista do piloto em 105 corridas que disputou na categoria. De acordo com as efemérides, Vettel é o sexto maior vencedor da história da Fórmula 1, ultrapassando Jackie Stewart, com quem estava empatado. À frente dele, dos atuais, só Alonso, com 31 triunfos. Os quatro maiores vencedores são Mansell, também com 31, Senna com 41, Prost com 51 e Schumacher, recordista absoluto com 91.

O pódio da corrida, aliás, foi EXATAMENTE o mesmo do ano passado. Sem tirar, nem pôr. Os coadjuvantes da festa de Vettel foram os mesmos, com Kimi Räikkönen brilhante largando de nono para chegar em segundo, graças a dois pit stops apenas. Romain Grosjean, que veio para esta corrida com carro novo porque, segundo a própria equipe, precisava de “motivação”, parece que encontrou a ajuda necessária para voltar aos bons desempenhos que mostrou no ano passado. Chegou em terceiro. O último pódio duplo da Lotus fora na Hungria, com o finlandês à frente do franco-suíço.

Muito boa corrida também de Paul Di Resta: o escocês também fez duas paradas apenas e chegou em quarto. Por pouco, ele não igualou o feito de Giancarlo Fisichella há quatro anos: o italiano, até hoje, ainda é o único piloto a conquistar um pódio para a Force India. A equipe de Vijay Malliya poderia ter conquistado mais pontos se Adrian Sutil não tivesse um pneu furado logo no início. E Di Resta, com este ótimo resultado, apaga o que o alemão fez na Austrália, quando reestreou na Fórmula 1.

Lewis Hamilton fez uma corrida muito apagada no início, mas no fim reagiu com a Mercedes e chegou num razoável quinto lugar. A Mercedes, aliás, destoou completamente em ritmo de corrida e o pole Nico Rosberg mostrou que, de fato, muita gente tinha razão em chamá-lo de zebra. Ele mal conseguiu se sustentar na ponta e depois foi escalado por meio mundo. Se o carro dele tivesse rádio FM ou CD player, a música que tocaria para o filho de Keke Rosberg seria aquela: “Esse aí passou! Esse aí passou! Esse aí passou!”. Nico, da pole, foi para nono na quadriculada.

Outro destaque da corrida, além do pódio duplo da Lotus e a boa performance de Paul Di Resta foi Sergio Pérez que, finalmente, fez jus às esperanças da McLaren. O mexicano foi, é verdade, um tanto quanto afoito em algumas disputas. Mas hoje ninguém pode acusá-lo de omissão: partiu para dentro do próprio companheiro de equipe, deixou-o para trás; superou Fernando Alonso na marra; e ainda passou Mark Webber na última volta. O puxão de orelha de Martin Whitmarsh e a presença do mecenas Carlos Slim Helu de corpo presente em Sakhir acordaram o cucaracha e ele conquistou seu melhor resultado pela tradicional equipe britânica.

De mais a mais, o GP do Bahrein serviu para mostrar a diferença abissal entre pilotos de algumas equipes. Red Bull, como já se sabia e previa; Mercedes e, principalmente, Ferrari. Não adianta tapar o sol com a peneira: Fernando Alonso, sem poder usar o DRS ao longo de grande parte da corrida, salvou importantes quatro pontos.

E o que fez Felipe Massa?

Ok… ele teve dois pneus furados? Teve. Isso é indiscutível. Mas a estratégia de largar com pneus duros no começo da corrida não foi saudada como ‘genial’? O que deu errado, então?

A verdade é que, se os pneus são iguais para todos, até porque a Pirelli não privilegia ninguém (e nem deve), Massa e seu engenheiro Rob Smedley pelo visto não conseguem fazer um ajuste a ponto dos pneus resistirem. E a borracha não resiste, mesmo. Não estou aqui para dar conselhos, mas não custa nada o sr. Smedley (nome de personagem de desenho animado, aliás) ter um tiquinho de humildade e ir bater um papinho com o colega de engenharia Andrea Stella, que cuida do carro do Alonso, para ver o porquê do espanhol conseguir ter um rendimento melhor em relação ao brasileiro.

Fica a dica. E chega desse #mimimi de ‘teorias conspiratórias’ e que ‘a Ferrari estraga a corrida do Massa porque ele é só um brasileirinho contra o mundo todo’. Não é assim. A Ferrari não é um exemplo de ética, mas existem algumas coisas que acontecem nas corridas e que não dão atenuantes ao piloto brasileiro.

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