quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

POR QUE A STOCK PRECISA DE RUBENS BARRICHELLO*

* Por Lucas Berredo


Rubens Barrichello ainda não foi confirmado na Medley Full Time para 2013, mas é quase correto afirmar que, caso a negociação se concretize, ambas as partes, além da própria Stock Car, serão favorecidas. Especialmente a Stock, por inúmeras razões.

Obviamente, a primeira delas é o bom retorno trazido por Barrichello à equipe de Maurício Ferreira e à categoria. De acordo com o site “Grande Prêmio”, a Medley, empresa que patrocina a Full Time, injetou R$ 230 mil para as três provas disputadas por Rubens no fim do ano e lucrou cerca de R$ 15 milhões pouco antes da etapa decisiva em Interlagos. Números que brilham aos olhos de qualquer investidor.

Em segundo lugar, o espaço da Stock na tevê aberta provavelmente será pequeno em 2013. A um ano da Copa do Mundo, parte das empresas presentes na categoria deve transferir suas ações marketing para o futebol, o que afeta diretamente no orçamento do campeonato.

É possível ainda que o número de provas transmitidas pela TV Globo seja menor e o pacote seja reconfigurado para a tevê fechada. A Vicar ainda não confirmou a agenda do ano que vem, mas nos bastidores, a informação já corre com certa destreza.

Num contexto tão adverso, a chegada de Rubens na categoria pode ser um alento, em especial pela alta popularidade do piloto no país. Pense: sem tevê, mas com um piloto de alto calibre midiático que possa segurar os patrocinadores antes propensos à migração para outros esportes.

O renome de Barrichello não deixa de levar ao último fator: a falta de apelo na Stock. Os organizadores tentam, mas sabemos como falta um “personagem” importante à categoria. Alguém como um Dale Earnhardt Jr. na Nascar, um Kimi Raikkonen na F1 ou, abrindo a concessão a outros esportes, um Novak Djokovic no tênis. Qualquer modalidade que queira atrair investimentos publicitários precisa ter um nome forte.



E a Stock até tem, com o eloquente Cacá Bueno, mas à parte das suas grandes habilidades no turismo, o carioca ainda luta contra a pecha de “filho do Galvão”. E pior (para os promotores da categoria): possui personalidade contestadora, como bem alinhou o colega Leonardo Felix, às burlescas gestões que administram o automobilismo brasileiro e mesmo a Vicar, organizadora da categoria.

É fato: do ponto de vista técnico, ninguém nega a relevância de Cacá ao automobilismo nacional e à Stock. Em contrapartida, não há como negar a indiferença do homem médio brasileiro ao lastro de seu sobrenome. Ainda que o talentoso Cacá nada faça para receber tamanha antipatia.

Os outros pilotos, convenhamos, infelizmente são desconhecidos à maioria do público. Pode parecer leviandade, mas Valdeno Brito, Átila Abreu, Ricardo Maurício e mesmo o piloto-comentarista Luciano Burti… Grandes competidores com pequeno potencial de imagem.Mais: às vezes, nem os patrocinadores não parecem estar atentos. Ou você já viu Thiago Camilo num comercial de tevê dos postos Ipiranga?

Desta forma, Rubens pode cair como uma luva no processo. Numa comparação cretina com um jornal impresso, o espaço de pé de página antes destinado à Stock pode se transformar em meia página com subretranca nos próximos meses. Porque todos se interessiam em quem venceu e no que Barrichello fez. Seu relativo sucesso na F1 – mesmo com os tropeços na Ferrari e na Honda – lhe concede esse trunfo.

Os pilotos lhe querem lá, mesmo com uma dose de desconfiança. “Ele será muito bem recebido no paddock, mas não tão bem recebido na pista”, brincou Cacá Bueno, após a Corrida do Milhão. Eles sabem o quanto a entrada de Barrichello pode trazer investimento publicitário à categoria.

Em relação a Rubens, talvez a Stock não seja uma opção tão ruim assim. Para um piloto que nunca correu de turismo, largar duas vezes entre o top 10 nas três primeiras corridas não é um desempenho de se jogar fora. Correr em casa, com tempo de acompanhar o cotidiano dos filhos e estar mais em contato com o público brasileiro, fora sua vocação a aguentar a mídia mais “torcedora” do país, são fatores extremamente importantes.

Além disso, quem não quer ganhar bem para correr e não pagar bem para o mesmo? Claro, existe a pequena possibilidade de Barrichello continuar nos Estados Unidos, mas simplesmente ele não tem dinheiro suficiente para cavar uma vaga por lá. O próprio veterano, nas entrelinhas, admite a situação.

“Uma coisa é certa: não quero começar o ano com meio orçamento. Consegui ter uma boa vida com tudo que fiz na minha trajetória, mas não posso me dar ao luxo de fazer isso com minha família e comigo: começar uma temporada e não saber se poderei terminá-la. Especialmente quando tenho boas ofertas na mesa para fazer outras coisas”, admitiu, em entrevista ao site “Speedtv.com”.

Portanto, em vez de perder as unhas para arranjar um patrocinador e correr em meia dúzia de ovais desgastados, numa categoria quase desprezada pelo público americano, por que não tentar algo em seu próprio país? E ainda com um felpudo salário?

Sim, Barrichello teria outras opções. Sou um daqueles que defendo o melhor caminho técnico para um piloto. E, para o recordista da F1, talvez o Mundial de Endurance ou a DTM alemã fossem opções mais adequadas ao seu estilo de pilotagem e à sua formação como piloto. Imaginem o velho Rubens brigando por algo em Le Mans, única prova tradicional do automobilismo em que um brasileiro nunca ganhou?

Seria ótimo. Mas as duas categorias – em especial a DTM – são muito fechadas às decisões das montadoras. E nem Mercedes, Audi, Toyota ou BMW parecem interessadas no potencial de Barrichello. Assim, é provável que o veterano tente sua sorte aqui no Brasil.

Um comentário:

  1. E o Barrichello também não ia querer correr de turismo fora do país, ficar longe da família se não fosse por algo que ele realmente tivesse paixão... a Formula 1. Na Indy ele ainda podia se dar ao luxo de fazer as provas e ficar na sua casa na Flórida... na DTM ou Le Mans... não teria isso. E o cara é apaixonado pelos filhos.

    Adriano S.

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