segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Grosjean reabre o campeonato*

* Por Lívio Oricchio


Se o GP da Bélgica, ontem, no desafiador circuito de Spa-Francorchamps, pudesse ser definido em uma frase, seria: “Romain Grosjean reabre o campeonato”. O renascido Jenson Button, da McLaren, venceu a emocionante 12.ª etapa do calendário, como parecia possível depois de estabelecer a pole position, sábado.

Mas há uma relação direta entre a segunda colocação do combativo Sebastian Vettel, da Red Bull, depois de largar apenas em 11.º, e o acidente provocado por Grosjean na largada. Kimi Raikkonen, da Lotus, completou o pódio em terceiro, mas se esperava mais da equipe. Foi o terceiro pódio seguido do finlandês.

O resultado de ontem deixa Vettel a apenas 24 pontos do ainda líder Fernando Alonso, da Ferrari, 164 a 140, uma das muitas vítimas de Grosjean, ontem. E restam ainda oito provas para o encerramento da temporada. A próxima é já domingo, na também veloz pista de Monza, na teoria, não favorável de novo à Ferrari. A vantagem anterior de Alonso era de 40 pontos para o então segundo colocado no Mundial, Mark Webber, agora terceiro, 132, com o sexto lugar na Bélgica.

O francês da Lotus desta vez se superou, mais que nos seis acidentes que provocou ou se envolveu este ano. Em Spa, Grosjean tirou da prova Alonso, Lewis Hamilton, McLaren, e Sérgio Perez, da surpreendente Sauber, ainda antes da primeira curva. Mais: o choque generalizado entre os carros comprometeu a corrida do arrojado Kamui Kobayashi, companheiro de Perez, por danificar o seu modelo C31. Era excelente segundo no grid.

O comportamento desmedido de Grosjean, não apenas em Spa, lhe custou caro: os comissários lhe aplicaram ontem a suspensão de um GP, mais uma multa de 50 mil euros (R$ 125 mil). Assim, não corre na Itália, no fim de semana. O belga Jerome D’Ambrosio, terceiro piloto da Lotus, deverá substituí-lo.

Button estava feliz como poucas vezes, apesar de já ter até mesmo vencido o Mundial, em 2009, com a Brawn GP. “Quando eu era pequeno, assistia às corridas e ficava encantado com este lugar. Hoje faço parte da sua história. E é um circuito que todos adoram. É mesmo especial vencer aqui.” Apesar de ter apenas 101 pontos, sexto na classificação, o inglês não se vê fora da luta pelo título. “Vimos hoje como as coisas mudam rápido na Fórmula 1.” Enquanto nas últimas três etapas Button somou 51 pontos, nas seis anteriores havia feito apenas sete.

Mas se existe alguém que já abriu luta direta a Alonso é o atual bicampeão do mundo, Vettel, apesar do discurso dissuasivo. “Não me atenho aos pontos do campeonato, faltam muitas corridas, ainda, mas, claro, é melhor ter reduzido a diferença para Fernando.” Vettel disputou grande prova. Realizou manobras espetaculares, como as ultrapassagens em Michael Schumacher, da Mercedes, Bruno Senna, Williams, e duas vezes em Felipe Massa, da Ferrari, todas no mesmo local, a freada do último S, conhecido como Bus Stop.

“É, mas em 2010 eu tirei Jenson da prova lá também”, disse, rindo. Foi um erro grave do jovem alemão. “Às vezes funciona, como hoje, às vezes não. Liguei para Jenson para pedir desculpa.” O inglês estava ao seu lado na entrevista e riu. Vettel desmentiu, desta vez, a ideia que se fez dele de não ser tão eficiente quando larga atrás.

As mudanças introduzidas na Lotus de Raikkonen e a velocidade demonstrada na Hungria, GP anterior ao da Bélgica, faziam acreditar que o finlandês pudesse lutar pela vitória em Spa, onde venceu em quatro ocasiões. “Não tinha velocidade para acompanhar Jenson. Aqui, depois de algumas voltas, o carro tornava-se instável, escorregava.” O campeão do mundo de 2007 fez uma ultrapassagem espetacular em Schumacher, na 31.ª volta de um total de 44.

Os dois desceram quase lado a lado a reta que antecede as duas curvas ultravelozes, Eau Rouge e Raiddilon, contornadas a 290 km/h. Num show de coragem e habilidade extremas, o finlandês não reduziu a velocidade e superou o alemão. Vettel acabou na sua frente, em segundo, no fim, por ter optado pela estratégia de um pit stop apenas, como Button, enquanto todos os demais que marcaram pontos realizaram duas paradas.

Raikkonen descreveu a proeza em Spa: “Como aumentamos a pressão aerodinâmica para reduzir o desequilíbrio do carro, minha velocidade na reta diminuiu. A chance de ultrapassar Michael era usar o kers (sistema de recuperação de energia) antes da Eau Rouge, não na reta. Sabia que ele poderia com o DRS (flap móvel) voltar a me ultrapassar, mas consegui ampliar um pouco a distância entre nós e deu certo.”

O piloto da Lotus é o quarto no Mundial, com 131 pontos, também candidato ao título. Depois do GP da Bélgica, a expectativa de a definição do campeonato se estender até a última ou penúltima etapa ganhou ainda mais força.

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