quinta-feira, 12 de julho de 2012

Webber vence, Alonso se aproxima do título*

* Por Lito Cavalcanti


A cada corrida, os adversários se distanciam do líder

Ainda não chegamos à metade do campeonato; até agora, foram disputadas nove de um total de 20 corridas – e por isso, apenas por isso, não se pode dizer que Fernando Alonso tem o título quase assegurado. Mas se alguém quiser assumir o risco de dizê-lo, não lhe faltarão ótimos, fortes argumentos. Nas nove etapas supracitadas, o espanhol marcou pontos nas nove; por duas vezes, foi o vencedor; em outras três, foi ao pódio como segundo ou terceiro colocado.

Isso tudo, diga-se, quando ainda não tinha um carro que se comparasse aos da oposição, o que hoje, claramente, não acontece mais. Prova disso se tem em uma breve consulta à tabela de pontos. Se sua média total do ano é de 14,333 pontos por prova, nas últimas cinco etapas, quando ele foi ao pódio em quatro, essa média sobe para 17,2. Ou seja, desde Barcelona, quando a Ferrari introduziu seu pacote aerodinâmico. De lá para cá, Pat Fry e Nikolas Tombazis vêm trabalhando de forma incansável e eficaz, e um carro que foi inicialmente considerado um desastre é hoje pelo menos o segundo melhor em termos de velocidade e o primeiro em consistência.

Estas considerações podem parecer exageradas após uma prova em que a Ferrari foi derrotada. Mas será que são mesmo? Vejamos com atenção. Se a Ferrari, ou qualquer outra equipe, consegue conquistar um segundo e um quarto lugares em um dia em que Mark Webber em particular e a Red Bull em geral estão tão fortes, imagine-se o que ela pode conseguir nos dias em que tudo funcionar bem. Nem precisa dizer que sem Alonso, que já tem assegurada uma vaga entre os grandes nomes de todos os tempos, nada disso seria possível.

Quando se analisa o quesito pilotos, a coisa pende ainda mais para os lados de Maranello. Primeiro, porque já vão longe os dias de sofrimento de Felipe Massa. Se ele ainda não voltou a seus melhores dias, está pelo menos em um estágio altamente competitivo. Desde Mônaco ele vem mostrando velocidade e consistência. Sim, houve o deslize no Canadá, uma rodada boba que o relegou ao 10º lugar quando tinha condições de chegar entre os cinco primeiros; mas desde então tem tirado bom proveito do carro que tem.

Nesta etapa inglesa, mais do que o quarto lugar (que ajudou a Ferrari a superar Lotus e McLaren e chegar ao segundo posto no campeonato de construtores), seu início de corrida, à frente de Sebastian Vettel, foi inegavelmente a causa do alemãozinho não ter tirado o segundo lugar de Alonso – nas últimas 10 voltas, Vettel não fez nenhuma acima de 1min36s, enquanto Alonso fez apenas uma na casa de 1min35s. Mesmo assim, ainda havia 1s776 a separá-los na bandeirada final. Foi exatamente por não conseguir superar Massa que Vettel decidiu antecipar para a 10ª volta sua primeira troca de pneus. Não bastasse isso, Massa ainda impôs a Michael Schumacher uma ultrapassagem que lhe valeu como uma redenção.

A ironia do domingo foi o bom desempenho de Felipe ter induzido a Ferrari a adotar uma estratégia de pneus que custou a vitória a Alonso. A chuva da sexta-feira havia impedido as equipes de avaliarem a duração dos pneus macios, tarefa a ser executada in extremis durante o início da prova. Por isso, Alonso largou com os duros, mais previsíveis, e Felipe com os macios. E como o brasileiro fez sua melhor volta com aqueles pneus exatamente na última passagem antes da troca, os engenheiros concluíram que poderiam antecipar em duas voltas a primeira troca de Alonso para marcar Webber, que já surgia como forte ameaça.

O que os engenheiros de Schumacher não consideraram foi que, nas 12 voltas que fez atrás de Schumacher, Massa andara um segundo abaixo do seu potencial, o que resultou em enorme economia dos pneus. Para sua surpresa, quando Alonso os colocou, na 37ª volta, nem mesmo o carro mais leve e a pista mais emborrachada permitiram aos pneus macios suportarem o ritmo de que Alonso precisava. E os 4s440 que ele tinha de vantagem antes da troca só duraram 11 voltas. Mas nem por isso o espanhol perdeu o bom humor. Afinal, ser segundo em um dia em que deveria ter sido terceiro é sempre motivo de comemoração. E se Webber lhe tirou sete pontos, Vettel, Hamilton e todos os outros ficaram para trás.

De todos, por sinal, só Webber tinha o que comemorar. Primeiro, por ter confirmado que, em Silverstone, não tem para ninguém – nas três últimas vezes que a F1 havia corrido em Silverstone, ele havia conquistado um segundo lugar, uma vitória e um terceiro (isso porque recebeu ordem dos boxes para não atacar o segundo lugar de Vettel). Mesmo batido no qualify (por apenas 0s047, diga-se), o australiano estava nitidamente pronto para mais uma vitória. E tão saboroso quanto o primeiro lugar foi bater o arquirrival Vettel no grid, na bandeirada e na classificação do campeonato, onde aparece com 16 pontos a mais do que o alemãozinho. Com quem, aliás, vai conviver mais um ano. Assim que desceu do pódio, o chefe Christian Horner lhe estendeu um papel onde se lia a renovação de seu contrato por mais um aninho...

O que certamente deixa Vettel ainda mais abalado é ter feito apenas 39 pontos nas últimas quatro corridas, enquanto o australiano fez 68. Isso em um período em que a Fórmula 1 passou por circuitos tão diferentes entre si quanto Mônaco, Canadá, Valência e Silverstone. Na verdade, desde o começo do ano, Webber se diz bem mais à vontade sem o difusor soprado que deu a Vettel enorme supremacia em 2011. Segundo o australiano, neste ano ele tem em mãos um carro semelhante a todos que havia guiado antes em sua carreira, o que não sentia no modelo do último ano. Vettel, ao contrário, havia se adaptado à perfeição a ele, e hoje sente falta da extraordinária aderência proporcionada pela passagem dos gases do escapamento pelo difusor.

Este parece ser também o problema da McLaren, que em Silverstone, logo em Silverstone, atingiu seu pior desempenho da temporada. Louvados como probabilíssimos vencedores antes da corrida pela imprensa inglesa, Lewis Hamilton e Jenson Button tiveram um fim de semana digno de pesadelos. Button sequer conseguiu chegar ao Q2, e não fez segredo de que não conseguia dirigir aquele carro. Oitavo no grid, oitavo na chegada, Hamilton ainda deu a impressão de que podia sonhar com um lugar no pódio. Começou a corrida com pneus duros e manteve bom ritmo, mas com os macios só conseguiu dar sete voltas. Quando voltou aos duros, era apenas o 12º e, na bandeirada, era oitavo, a mesma posição em que largou.

Em sua avaliação pós-corrida, Button dizia ainda confiar em uma reação porque a McLaren é uma das melhores equipes do mundo. Mas disse também que seu carro era mais lento que os Sauber nas curvas de alta velocidade e que os Williams nas de baixa. Verdade. Como se viu quando ele chegou perto de Bruno Senna, que disputava o nono lugar com o Force India de Nico Hulkenberg, e lá ficou. Mesmo tendo sido dele a velocidade mais alta da tarde, com 310,2 quilômetros por hora – estranhamente, bem mais do que Hamilton, que registrou modestos 300,5, a 13ª marca do dia.

Em termos de voltas mais rápidas, o vexame é ainda maior: Button 14º, 1min36s086, e Hamilton 15º, 1min36s173. Por falar nisso, a melhor foi de Kimi Raikkonen, 1min34s661, e a segunda de Romain Grosjean, 1min34s884. Webber, o vencedor, fez a 4ª, 1min34s934, pior que a do Vettel, a 3ª com 1min34s897. Massa fez a 5ª, 1min35s041, e Alonso a 7ª, 1min35s385. Mas se as Lotus de Raikkonen e Grosjean são tão rápidas, por que não venceram nenhuma corrida até agora? Ora, nem mesmo uma pole position conquistaram. O que há de errado?

A pergunta não é nova, e a resposta começa a tomar forma: por causa dos pilotos. Não passa um qualify em que Grosjean não cometa um erro. Às vezes pequeno, perceptível apenas aos cronômetros; outras vezes grandes, enormes, como o deste sábado, no fim do Q2, quando jogou seu Lotus na banca de areia e acabou prejudicando Bruno Senna e enxovalhando a passagem de Alonso para o Q3. Ao ver a bandeira amarela erguida, Senna aliviou o acelerador e desperdiçou uma volta que mostrava nos dois primeiros setores melhora suficiente para deixá-lo entre os 10; Alonso tirou minimamente o pé e melhorou seu tempo. Ao ser questionado, bastou mostrar que não havia melhorado o tempo do terceiro setor em relação à volta anterior para convencer de que nada fez de errado os comissários esportivos, como sempre altamente convencíveis quando a Ferrari está no meio de qualquer enrosco.

Na corrida, porém, Bruno mostrou que, quando consegue dominar sua ansiedade, vai bem. Sua corrida foi boa no começo, ótima no final, quando venceu a disputa com o promissor Hulkenberg. É exatamente este domínio da ansiedade que vem à tona quando se procura o que vem mantendo os rápidos e confiáveis Lotus longe das vitórias. Pelo menos no caso de Grosjean, que teve mais um incidente de primeira volta que o relegou ao último lugar na terceira volta – se de lá ele chegou ao sexto na bandeirada, restam poucas dúvidas de que tinha carro para lutar pelo primeiro lugar. Já Raikkonen, que também raramente consegue largar nas duas primeiras filas do grid, se mostra tímido, até intimidado, na primeira volta. Invariavelmente, perde posições e faz turnos iniciais para lá de discretos. Daí para a frente, costuma crescer, mas aí a vaca já foi para o brejo e as críticas ganham volume e intensidade a cada corrida. Ao ponto de muitas vozes já afirmarem em alto e bom tom que será de Grosjean, e não do campeão mundial de 2007 a primeira vitória dos belos carros negros.

Ele que se cuide, porque já tem gente de olho no seu lugar. Quem? Ora, basta dar uma olhada nas corridas da GP2, onde o baiano Luiz Razia mostra qualidades antes despercebidas, raras e valiosas. De novo líder do campeonato, ele soma agora seis pontos de vantagem sobre seu maior rival, o italiano Davide Valsecchi. Ambos dividem a ribalta das tardes de sábado e manhãs de domingo, Razia com quatro vitórias e Valsecchi com três. E ainda tem uma meninada fortíssima, onde se destacam o inglês James Calado, o mexicano Esteban Gutierrez e o brasiliense Luís Felipe Nasr, todos material à altura da Fórmula 1.

Se cuida, Raikkonen...

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