quinta-feira, 12 de julho de 2012

O Pastor selvagem*

* Por Luis Fernando Ramos


Vamos lembrar de cabeça, correndo o risco de esquecer alguma coisa: Pastor Maldonado foi vítima da agressiva pilotagem de Lewis Hamilton no GP de Mônaco do ano passado; depois se envolveu num inexplicável bater de rodas com o mesmo Hamilton na classificação do GP da Bélgica, meses depois, quando um achou que havia sido atrapalhado pelo outro; o mesmo aconteceu com Sérgio Perez em Mônaco neste ano, e foi para abrir caminho em um treino livre (!); em Valência, ele voltou a se encontrar com seu “karma” Hamilton e arruinou a corrida do inglês; no último domingo em Silverstone, novo choque com Perez, só que desta vez durante a corrida, uma manobra desastrada que tirou o mexicano da prova.

Cinco incidentes em uma temporada e meia de Fórmula 1. Neles, há um Pastor Maldonado barbeiro, um vítima de barbeiragens e um que se envolve em incidentes de corrida. Incidentes distintos que envolvem distintas decisões dos comissários. Às vezes o barbeiro não é punido, as vezes a vítima perde posições no grid da prova seguinte.

Qualquer um que entende de psicologia canina, sabe: se eu treinasse um cão dessa forma (ora punindo ora premiando o mesmo comportamento), teria um exemplar neurótico, inseguro e que não sabe como se comportar. Confesso que o comportamento de Pastor Maldonado nas pistas me lembra um pouco disso (fora delas é um cara muito bacana e cortês na hora das entrevistas). Como me lembrava o de Hamilton no ano passado, por exemplo. Existem pilotos mais arrojados que outros na hora da disputar e, por arriscar mais, eles são mais propensos a erros.

A imagem de Maldonado ganha ainda uma mancha a mais por seu passado: quando corria na World Series, em Mônaco, ignorou completamente um trecho de bandeiras amarelas e acabou machucando um fiscal que estava na pista retirando um outro carro. Queriam baní-lo do esporte ali mesmo. Mas, pelo que me disseram, Pastor tratou de custear o tratamento do sujeito, reconheceu ter cometido um erro gravíssimo e jurou seguir sua carreira sem fazer mais uma bobagem dessas. Perez, que não é bobo, sabe dessa história e foi esperto ao jogar na imprensa que ele “coloca a vida dos outros em risco” para despertar esse fantasma do passado.

Ainda acho tudo muito exagerado. Maldonado pode ser agressivo demais, cometer erros demais, bater demais. Mas o maior prejudicado disso tudo é ele. Na soma de pontos perdidos em todos os incidentes em que ele se envolveu, o próprio venezuelano foi quem mais perdeu. Normalmente, pilotos aprendem rapidamente com isso. Neste caso, está demorando um pouco mais.

Ao invés da FIA, quem tem de lhe dar um corretivo é a Williams. Deixar claro para ele que, se tivesse tido paciência de esperar uma ou duas voltas até que os pneus se aquecessem, ele poderia tentar passar o mexicano numa condição para uma manobra mais segura, com menos riscos. E, talvez, puní-lo de alguma forma internamente. Jogador de futebol sempre sente quando fica sem “bicho” ao final da partida.

O único risco para o futuro de Maldonado, e para quem convive com ele na F-1, é se o time continuar a tratá-lo como o cliente rico que pode fazer tudo. Muitas vezes, esta é a impressão que fica para nós que vemos de fora.

Um comentário:

  1. melhor um "selvagem" do que um "bundão" na pista... mas essa é apenas a minha humilde opinião!!!

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