quinta-feira, 14 de junho de 2012

Quanto vale o show?*

* Por Luis Fernando Ramos


Como já havia colocado no meu texto de domingo sobre o GP do Canadá, Lewis Hamilton deixou de lado as especulações sobre seu futuro na McLaren para vencer pela primeira vez no ano e reassumir a liderança do Mundial de Pilotos. Uma atitude que, no fundo, o fortalece bastante nas negociações com a equipe.

O contrato atual de Lewis Hamilton foi assinado em 2007, em condições anteriores ao “setembro negro” de 2008 quando a economia mundial iniciou uma crise em bola de neve depois da insolvência do banco norte-americano Lehman Brothers - crise que hoje paira como um abutre faminto sobre a União Europeia.

Há algumas semanas já circula nos bastidores a intenção da McLaren em ajustar o contrato do inglês à nova realidade econômica da Fórmula 1. Algo que foi confirmado numa entrevista de Ron Dennis para a Sky antes da corrida de domingo. “Ele está no final de um contrato que foi assinado em um momento quando a economia estava um pouco diferente. Agora tem que haver um equilíbrio”, pregou o chefão do Grupo McLaren, que estava presente no circuito.

Mas o momento não é da equipe fazer exigências. Enquanto os mecânicos e engenheiros acumulam erros graves nos finais de semana de corrida - nas paradas de boxes ou no erro de cálculo de combustível na classificação de Barcelona, que jogou a pole de Hamilton no lixo -, o piloto mantém a cabeça fria para somar os melhores resultados possíveis e não atacou o time em nenhum momento, algo que fazia sem cerimônia no ano passado.

E se esta liderança atual é mais de Hamilton do que da McLaren, o piloto ganha ainda mais força diante do momento horrível que vive Jenson Button. Seu desempenho no Canadá foi abaixo da crítica, como havia sido em Mônaco. Ainda que a equipe tenha assumido sua parcela de culpa no resultado pelos problemas mecânicos que deixaram Button parado nos boxes na maior parte dos treinos livres de sexta-feira, já está claro para todos em Woking que apenas um de seus pilotos tem chances de vencer o Mundial neste ano.

O que fazer num momento destes? Bancar o durão e correr o risco de enfezar o craque do time? Ou abrir os cofres para segurar sua estrela e abrir mão de uma quantia que seria empregada, de forma importante, no desenvolvimento do carro? É uma equação difícil.

Pessoalmente, acho que se Hamilton optar por buscar outra equipe de ponta para ganhar muito bem, poderia encontrar lugar apenas na Red Bull. A Mercedes adoraria tê-lo, mas os diretores de Stuttgart controlam a torneira da F-1 com enorme pragmatismo. A Ferrari tem Alonso e não há lugar para o inglês ali.

Mas a relação do campeão de 2008 com a McLaren é intrínseca e acho que eles encontrarão um denominador comum: não o corte que Ron Dennis gostaria e nem o contrato polpudo com que os novos empresários do piloto sonham. E acho que vão achar uma solução para o impasse até Silverstone, em menos de um mês. Aí, com ambas as partes livres de um possível conflito interno, não vai ser fácil segurar Hamilton.

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