Nuno Cobra deu uma longa entrevista ao Portal IG, falando de Ayrton Senna, Rubens Barrichello, Michael Schumacher e preparação física. A entrevista completa, você pode ler aqui.
Destacamos as principais falas de Nuno Cobra, que vemos aqui a seguir:
Por que ele (Ayrton Senna) se interessou a começar a preparação física?
Ele achava que tinha problema no coração enquanto estava na Fórmula 3 Inglesa, por isso me procurou. Não aguentava nem uma corrida de 20 voltas e saía esgotado. E eu, que pouco acompanhava automobilismo, nem o conhecia.
No primeiro encontro ele me perguntou se eu poderia ajudá-lo, já que em algumas corridas ele saía de dentro do carro desmaiado. Aquele corpo franzino, bem fraco naquela época. Fizemos alguns exames e falei pra ele que o coração estava forte, ótimo. Só precisávamos trabalhar mais, estava atrofiado, ele tinha pouca resistência aos esforços físicos.
E como foram os primeiros meses de trabalho?
O começo em 1984 foi no Clube Pinheiros, enquanto eu treinava meus alunos de lá. Era o único tempo que eu poderia atendê-lo, junto com alguns tenistas. Mas a insistência dele foi algo que me impressionou. Ele queria de qualquer jeito melhorar aquela condição. Ele, um piloto começando na Fórmula 1, ficava em uma sarjeta atrás das quadras, que até ficou conhecida como a “Calçada do Ayrton” lá. Passava quarenta, cinquenta minutos e ele esperava pacientemente e não saía de lá até que eu pudesse atendê-lo.
No primeiro ano dele na Fórmula 1, ele me contava que ainda desmaiava depois de algumas corridas, tamanho o esforço. Na África do Sul, por exemplo, ele chegou a desmaiar. Em Silverstone, ele também acabou passando mal. Mas o dom do “fazer” que ele tinha foi ajudando muito com o tempo.
Nessa preparação ele comentava sobre o mundo da F1?
Às vezes, sim. Em 1986, enquanto nos preparávamos perto de Londres, aconteceu algo curioso. O Enzo Ferrari cansou de ir atrás dele para convencê-lo a ir para a Ferrari. Ele ainda não era campeão, mas já tinha vencido corridas e a equipe viu o talento dele.
Além disso, o fator financeiro era muito forte nas propostas. Mas não era o suficiente para ele. O Ayrton me dizia que não aceitava, pois queria primeiro ser campeão algumas vezes da Fórmula 1, para depois ir para a Ferrari conquistar mais títulos. Naquela época, o carro da equipe estava em baixa. Mas era um plano que ele tinha.
Ele já chegou a contar como via a rivalidade com o Alain Prost?
Claro, ele falava sim. Para ele, o Prost era espetacular. Ele se esforçava muito para poder bater esses caras, principalmente o Prost. Nos piques que dávamos, ele se cansava, mas dizia que se lembrava do Prost e tirava determinação para continuar, para chegar na F1 “matando” esses caras, no bom sentido. Nisso, o Prost acabou sendo até motivador para o Ayrton.
Você chegou a trabalhar com o Rubens Barrichello, que agora está lá. Como vê ele hoje, aos 40 anos de idade?
Hoje vejo o Rubinho na Indy e ele parece uma criança. Recentemente, ele comentou que está conseguindo correr, fazer exercícios, graças ao trabalho que fizemos lá atrás, isso é muito gratificante. Ele ficou comigo pouco menos de dois anos, mas conseguimos um ótimo trabalho.
Infelizmente, o Rubinho não conseguiu se tornar um campeão da Fórmula 1. Na minha opinião, ele era muito melhor que o Schumacher. Se eles combatessem em condições iguais, o Rubinho que seria sete, oito vezes campeão mundial. Ele acertava o carro para o Schumacher.
E o Schumacher? A idade está pesando?
A idade não conta tanto assim, não. Um corpo de 40 anos produz a mesma quantidade de substâncias que um de 20. A preparação muda bem pouco. Agora, o Schumacher está mostrando quem ele verdadeiramente é. Apenas comum.
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