terça-feira, 5 de junho de 2012

GP do Canadá pode ser decisivo para Schumacher*

* Por Lívio Oricchio


Em entrevista exclusiva ao Estado, na China, em abril, Michael Schumacher, da Mercedes, não escondeu sua alegria por, depois de dois anos de muito trabalho, desde a volta à Fórmula 1, finalmente dispor de um carro capaz de lhe permitir lutar pelas vitórias.

É o recordista absoluto de vitórias na Fórmula 1, nada menos de 91, todas conquistadas na sua primeira fase na competição, de 1991 a 2006. O segundo na lista é Alain Prost, distante, com 51. Nos 44 GPs que disputou desde 2010, do retorno ao Mundial, o alemão ainda não conseguiu chegar ao pódio.

Domingo, Schumacher vai se apresentar no GP do Canadá, sétima etapa do campeonato. Aquele otimismo de Xangai, segunda prova do calendário, deu lugar, hoje, a certa apreensão. Nico Rosberg, companheiro de Mercedes, já venceu corrida, na China, foi ao pódio, em Mônaco, e soma 59 pontos, quinto na classificação.

Já Schumacher, tudo o que conseguiu foi terminar duas vezes na décima colocação, Malásia e Bahrein, e soma apenas 2 pontos, 18.º na classificação.

Quem conhece Schumacher sabe que busca com elevado interesse os motivos de tamanha diferença de desempenho para o companheiro. “O dia que eu passar a perder a concorrência com meu parceiro vou entender que está na hora de parar de correr”, sempre afirmou.

O contrato desse notável piloto alemão, sete vezes campeão do mundo, que, aos 43 anos, ainda consegue deixar jovens de imenso talento para trás, como em Mônaco, ao estabelecer brilhantemente a pole position, acaba no fim da
temporada. A renovação do compromisso com a Mercedes, empresa que pagou para ele estrear na Fórmula 1, em 1991, pela Jordan, depende, essencialmente, dele próprio e não da montadora.

Poucos acreditam ser possível a Nobert Haug, diretor da equipe, procurar Schumacher para lhe dizer que o contrato não será estendido por falta de resultados. Cabe ao próprio piloto avaliar e anunciar sua decisão à Mercedes. Está nas suas mãos. As últimas informações dão conta de que Schumacher recebe menos do que se imaginava: € 10 milhões (cerca de R$ 25 milhões) por ano. Não significa um problema para a Mercedes.

Mas para prosseguir competindo na Fórmula 1 Schumacher precisa, consigo próprio, de bem mais que apenas os dois pontos obtidos em seis corridas, principalmente por Rosberg se posicionar até como candidato ao título, diante do bom carro da Mercedes. Sua diferença para Fernando Alonso, da Ferrari. o líder, não é grande. O espanhol soma 76 pontos, 17 a mais de Rosberg. A decisão de prosseguir ou parar de competir dependerá do que Schumacher conquistar daqui para a frente no campeonato.

E o GP do Canadá representa um belo cenário para começar a se impor novamente na Fórmula 1. Seu retrospecto nos 4.361 metros do circuito Gilles Villeneuve impressiona: venceu a prova sete vezes. Nenhum outro piloto nunca ganhou o mesmo GP em sete ocasiões. E o recorde de Schumacher é ainda maior: oito vitórias no GP da França.

Senna foi primeiro em Mônaco em seis oportunidades.

Ao tentar compreender o porquê de enfrentar dificuldades para fazer sucesso hoje na Fórmula 1, Schumacher com certeza retrocedeu ao período de maiores conquistas de um piloto no Mundial. De 2000 a 2004 o alemão, então pela Ferrari, ganhou cinco títulos mundiais seguidos.

Encontrou nos pneus uma das razões. “Pilotamos como se estivéssemos sobre ovos”, disse, referindo-se ao fato de os pneus Pirelli serem concebidos para resistir a poucas voltas, visando atender o interesse dos promotores de tornar as corridas menos previsíveis. O piloto da Mercedes é incapaz de admitir que a idade avançada é também um fator limitante.

Nas entrevistas, os vários acidentes em que se envolveu desde a volta à Fórmula 1 não se relacionam à perda de lucidez, discernimento. Para ele, sua capacidade de compreender numa fração mínima de segundo tudo o que o cerca, aos 43 anos, e responder motoramente com precisão, também num espaço de tempo quase não mensurável, é a mesma da época em que literalmente dominava a Fórmula 1.

Schumacher se lembra, com certeza, e deve sentir saudades, do tempo em que havia dois fornecedores de pneus na Fórmula 1, Bridgestone, da Ferrari, por exemplo, e Michelin, da Williams, McLaren, Renault, times que criaram
alguma resistência para a Ferrari. A concorrência exigia pneus de máxima performance e a última coisa que os pilotos pensavam, diante de ser possível a parada para reabastecimento de combustível, era economizar os pneus.

Schumacher foi capaz de proezas que o tornaram único nessa filosofia de competição, caracterizada por o carro estar sempre leve e com pneus de aderência mais prolongada que hoje. Vale recordar que desde 2010 o reabastecimento de gasolina está proibido. Os carros começam as corridas com algo como 170 quilos de combustível.

“Eu lhe dizia, pelo rádio, Michael, você tem 18 voltas para abrir 14 segundos de determinado adversário para nossa estratégia dar certo. Às vezes eu não achava possível, mas Michael ia lá e conseguia. Foi o piloto que
mais me impressionou dentre todos os que trabalhei”, dizia Ross Brawn, diretor técnico da Ferrari, hoje na Mercedes.
Por isso é tão difícil para Schumacher, agora, aceitar o fato de ter de administrar o desgaste dos pneus para conquistar resultados. Nunca fez. Vai contra o instinto desenvolvido no seu auge como piloto e mesmo antes, na sua formação técnica.
O que não é o caso da maioria dos seus concorrentes, a começar dentro de casa, com Rosberg. E depois Sebastian Vettel, da Red Bull, e Lewis Hamilton, McLaren, pilotos que iniciaram suas carreiras quando havia um fornecedor apenas de pneus, Bridgestone, a partir de 2007, substituído pela Pirelli, no ano passado. Para eles, racionalizar o consumo dos pneus não representa nenhum choque com o que faziam. Começaram na Fórmula 1 quando essas eram as regras.

Para Schumacher ter de se adaptar a essa nova realidade, novidade absoluta para si e capaz de explicar muitas das suas dificuldades, é um imenso desafio. Deve estar refletindo consigo próprio se é isso mesmo que deseja ao regressar à Fórmula 1.

Na conversa com o Estado, na China, falou: “Voltei à Fórmula 1 exclusivamente porque amo correr”. Só que há dúvidas se, de fato, está se divertindo. Não lhe é mais permitido expressar o que mais o diferenciava de todos os pilotos: a extraordinária capacidade de completar as 70 voltas de uma corrida, em média, em ritmo de classificação.

Nenhum comentário:

Postar um comentário