* Por Lívio Oricchio
O tema do momento na Fórmula 1 é pneu. Há quem critique a política da Pirelli de reduzir a uma margem bastante restrita a sua base de operação, instante em que a aderência é máxima, como fez Michael Schumacher no GP de Bahrein. E existem os quem veem o complexo desafio de as equipes descobrirem como acertar o carro para melhor explorar as potencialidades dos pneus, nessa pequena janela disponível, como um bem para a Fórmula 1.
Curiosamente é a opinião do companheiro de Schumacher na Mercedes, Nico Rosberg, para se ter uma ideia do quanto é subjetivo o julgamento. Para Rosberg, essa é a principal razão de termos quatro vencedores diferentes de quatro times distintos nas quatro primeiras etapas do campeonato. Ele próprio primeiro colocado no GP da China por uma combinação de motivos, como sempre, mas dentre os de maior relevância a forma como explorou os pneus italianos.
No ano passado, o de reestreia da Pirelli na Fórmula 1, depois de 20 anos ausente, pilotos e seus engenheiros viram logo nos primeiros testes que a degradação dos pneus seria elevada, por solitação de Bernie Ecclestone, promotor do show. E foi assim até o fim do ano. Mas além dessa característica, o que se conhecia até então sobre o comportamento dos pneus não mudou radicalmente. Os pneus se desgastavam mais, as corridas teriam três e até quatro pit stops, diante de apenas um no campeonato anterior, o último da Bridgestone na Fórmula 1.
Este ano está diferente. A degradação dos pneus continua alta, propositadamente, a fim de manter a disputa menos previsível, opção bem aceita, em geral, no ano passado. Mas há elementos novos nessa história. A Pirelli introduziu outras variáveis a essa equação que determina o melhor comportamento dos pneus. Eles se tornaram muito mais sensíveis. Em 2011, mesmo que a temperatura do asfalto variasse alguns graus, a aderência não crescia demais ou mesmo gerava perda significativa de desempenho.
Este ano, alterações nas condições da pista, mesmo não relevantes, implicam severas mudanças no comportamento dos pneus e, claro, dos carros. Conversei com Gary Anderson, ex-projetista da Fórmula 1 e hoje comentarista de TV, no circuito de Sakhir: “Outros fatores que condicionam, este ano, reações inesperadas dos pneus e por vezes profundamente distintas de como se comportavam: pequenas variações na pressão adotada pelo time, sutis diferenças no acerto mecânico e no conjunto aerodinâmico”.
Anderson disse-me mais: “Você encontrar a combinação de ajustes mecânicos, aerodinâmicos e a própria pressão que os pneus vão te oferecer o melhor da aderência, aquela em que você será bem mais eficiente que seus adversários, e provavelmente ganhar a prova, é bastante difícil, pelo número impensável de combinações”. Schumacher definiu a situação como “um jogo de sorte e azar”.
Essa realidade explica em grande parte a Sauber ter sido a mais veloz no GP da Malásia, quando Sergio Perez não venceu por ter cometido um erro, a Mercedes sumir e ganhar a etapa de Xangai e a Lotus desafiar Red Bull, McLaren e Mercedes, quase da mesma forma vencendo, em Bahrein.
Minha opinião?
Do ponto de vista da competição esportiva, não há dúvida de que os pneus Pirelli versão 2012 atendem integralmente o objetivo do promotor do espetáculo, como no ano passado. Muita gente, dentre eles eu, torce para o GP da Espanha, dia 13, chegar logo. A temporada está emocionante.
Mas se pensarmos puramente no desafio de engenharia que representa a Fórmula 1, tudo o que envolve um projeto fazer sucesso ou fracassar, a genialidade exigida de seus homens e os imensos recursos técnicos e financeiros necessários para dar certo, os pneus passarem a ter tamanha importância no resultado final não me parece compatível com o que vimos até hoje.
Prefiro a opção adotada pela Pirelli em 2011, quando tínhamos pneus de elevada degradação, mas sem a extrema suceptibilidade deste ano, e apesar da dominância de Sebastian Vettel e da Red Bull, assistimos a provas memoráveis. Foi uma decisão corajosa da Pirelli e que deu muito certo.
Para os engenheiros havia mais lógica nesse mecanismo fundamental numa concorrência técnica e hoje quase ausente: causa e efeito. Eu e muita gente da Fórmula 1 espera que as novas versões de pneus que a Pirelli está desenvolvendo resgatem um pouco mais da previsibilidade de como vão se comportar, sem que, com isso, deixem de oferecer o seu melhor e razão principal de o espetáculo ter crescido tanto.
Roque. Belo post.
ResponderExcluirOscar Ulisses e Lívio Oricchio, são feras..aqui no RJ, temos o hábito de escutá-los nas transmissões de F1 na Radio Glo... e seus comentários refletem a opinião de muitos que não tem voz e rabo preso. falam, criticam, aplaudem e sem puchar o saco.
A FIAT do Brasil que o digo...aquela M. que aprontaram com Rubinho mandando tirar o pé em Indianápolis/EUA para o shumacher...os dois falaram verdades que até hoje incomoda os diretos da fábrica mineira.