sexta-feira, 25 de maio de 2012

Barrichello, 40*

* Por Rodrigo Mattar


Como todos os que estão na minha faixa etária, acompanhei toda a carreira de Rubens Barrichello dentro do automobilismo. Tive o exemplar da Auto Esporte com a cobertura do Campeonato Brasileiro de Kart de 1982, em Foz do Iguaçu, onde o menino, ainda com nove para dez anos, ensaiava seus primeiros passos rumo à Fórmula 1. Muitas reportagens nos anos 80 destacavam aquele garoto que era um demônio nos micromonopostos, apostando que seu futuro seria brilhante.

Como todos os que assistiram a primeira corrida do Brasileiro de Fórmula Ford em 1989, nas ruas de Florianópolis, no feriado de 21 de abril, ficamos todos impressionados. Estreia com vitória? Mas que atrevimento! E ficou nisso: Rubens foi 4º colocado naquele campeonato e rumou, ainda menor de idade, valendo-se de um interessante subterfúgio, para poder correr na Fórmula Opel Europeia.

O subterfúgio de Rubens é uma semelhança que existe entre ele e o escriba aqui. Eu nasci no mesmo dia que minha mãe. Barrichello, no mesmo dia que o pai, que também se chama Rubens e é 22 anos mais velho: foi com a carteira de motorista de Rubão que  o garoto, antes dos dezoito, assinou com a Draco, acelerou e venceu na competição europeia.

Como todo mundo em 1991, comemorei um ano de títulos do Brasil nas principais categorias na Europa. Fórmula 1, Fórmula 3000 intercontinental, Fórmula 3 inglesa… lá estava a bandeira verde-e-amarela tremulando no alto do pódio e Barrichello, 19 anos, repetia Emerson, Pace, Piquet, Serra, Senna e Gugelmin, ganhando a tradicional competição de base do automobilismo internacional, derrotando o amigo Gil de Ferran.

Como todo mundo, achei que Barrichello venceria a Fórmula 3000, como fizera na F-Opel e na F-3, mas nos desiludimos porque um certo Luca Badoer andou como nunca naquele ano de 1992 e venceu. Mas não é preciso comparar os currículos dos dois na Fórmula 1. É?

Bem… Rubens chegou aos 20 anos (de idade) na categoria máxima e por lá ficaria, se deixassem, outros vinte. Faltou um só. Foram 19 temporadas, 323 GPs disputados, onze vitórias, catorze pole positions, 17 voltas mais rápidas e 68 pódios. Aos olhos de muitos, pode não parecer um cartel brilhante, mas perto da maioria absoluta, Barrichello fez muita coisa interessante dentro da Fórmula 1.

Só que, como todo mundo, achei que ele seguiria o legado de Emerson, Piquet e Senna. Achei mesmo. Talvez tenha faltado um “algo mais” na trajetória dele na Fórmula 1. Ou, por exemplo, não ter sido companheiro de Michael Schumacher. Ou, por outra, não ter se submetido ao escândalo de 12 de maio de 2002, onde todo mundo – inclusive ele – se queimou.

Rubens deixou para trás a Fórmula 1 e chegou à Fórmula Indy com o entusiasmo de um menino. Não está numa equipe com vocação vencedora, mas está aprendendo rápido. Domingo próximo, vai largar na 10ª posição do grid de largada das 500 Milhas de Indianápolis. É bom lembrar que Emerson Fittipaldi, quando correu lá pela primeira vez alinhou em 23º e Nelson Piquet, em sua única aparição no mítico oval estadunidense, partiu de décimo-terceiro. Rubens não deveu em nada a nenhum dos grandes campeões brasileiros da F-1 no quesito posição de grid. Mas a gente sabe, ele sabe, que a corrida é outra história.

Rubens Barrichello… este homem capaz de criar um paradoxo entre os fãs no automobilismo. Amado por uns e odiado por outros na mesma medida. Mas, no fundo, um homem que nunca deixou de ser feliz com o que melhor sabe fazer: acelerar. Sempre.

Parabéns, Rubens! Bem-vindo ao time dos “enta”.

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