quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

O QUE PODEMOS CONCLUIR DOS TESTES EM JEREZ*

* Por Jonathan Noble, do AUTOSPORT.com

O jogo anual de adivinhação da F1 já começou. A conclusão do primeiro teste da pré-temporada nos liberou os primeiros tempos de volta para nos debruçarmos sobre e agora podemos começar a deduzir onde cada um se posiciona na ordem de forças.

Assim como em todos os anos, é quase impossível chegar a uma resposta definitiva acerca de quem saiu de Jerez com vantagem, já que não se sabe quanto combustível cada carro carregava em sua melhor volta, qual era o nível de degradação dos pneus naquele momento e como estavam as condições da pista.

De qualquer forma, esta primeira semana nos possibilitou ao menos começar a montar as peças do quebra-cabeças. Para fazer isso, tivemos que olhar para além da folha de tempos: precisamos observar os carros na pista, verificar as expressões corporais nos boxes e paddocks, e ouvir o que as pessoas tinham a dizer.

O que relataremos agora é o que apreendemos dos primeiros quatro dias de testes da F1 2012.

1º. A Ferrari ainda tem muito trabalho pela frente

Há poucas dúvidas de que os principais comentários em Jerez eram sobre a Ferrari. Depois de serem tão incisivos em suas declarações sobre disputar o título em 2012 e construir um carro com traços radicais, a equipe se viu pressionada a manter o foco para assegurar que o modelo se mostraria vencedor logo de cara.

A julgar pelas evidências dos tempos de volta e pelo humor que permeou a equipe, isso ainda não aconteceu. Mas não significa que a campanha já esteja anulada.

A impressão dada pela própria Ferrari é que o carro em si está "ok", mas talvez o time esteja tendo dificuldades para encontrar todo seu potencial de velocidade. Houve conversas repetidas sobre experimentações, novas configurações e necessidade de análises mais aprofundadas.

Outras sugestões dão conta de que eles estão sofrendo bastante para deixar o carro bem acertado em todos os elementos de uma volta completa. Quando eles privilegiaram as entradas de curva, o contorno e a saída ficaram bem prejudicados. Ao privilegiarem o contorno, houve problemas com os outros dois elementos, e assim por diante.

Pelo lado positivo, a equipe está confiante por finalmente ter conseguido solucionar os problemas de aquecimento de pneus que tanto prejudicaram a performance em 2011.

Um teste ruim não destrói uma temporada e, se um time tem condições de conseguir reverter a situação antes de Melbourne, esse time é a Ferrari. Mas não há dúvidas de que a batata estará assando em Maranello pelas próximas semanas.

2º. Sem surpresas para Red Bull e McLaren

Com o lançamento dos novos carros, as equipes puderam enfim ver o que as concorrentes prepararam ao longo de todo o inverno [europeu] pela primeira vez. É um dos momentos mais tensos do ano e, por isso, houve um certo alívio entre os integrantes de Red Bull e McLaren. As duas escuderias parecem ter alcançado as plataformas que precisavam para os testes restantes.

Para a McLaren, isso representa um grande salto com relação a 2011, quando teve de buscar uma difícil recuperação de um carro mal nascido.

Na Red Bull, obtivemos todas as indicações dão nota de que o conjunto é forte. Avaliando pelo que foi mostrado dentro das pistas, o RB8 parecia muito estável, tanto em curvas de alta quanto de baixa velocidade.

E, para um time que opera em uma política deliberada de mimizar qualquer coisa, o fato de que pilotos e demais membros estavam com um sorriso de canto de rosto enquanto falavam sobre o carro foi um grande indicativo de como estão as coisas.

3º. A Lotus pode ter acertado a mão

É sempre um grande erro basear-se demais nos tempos finais desses testes (é só lembrar que, há 12 meses, o mais rápido em Jerez foi Rubens Barrichello), mas não há nada que fuja muito da impressão de que a Lotus está no páreo.

O novo E20 pareceu muito confiável e consistentemente forte na folha de tempos, tanto com Kimi Raikkonen quanto com Romain Grosjean. A equipe conseguiu se aproximar bastante daquilo que desejava alcançar em seu programa de testes e é possível sentir entre eles um ar de confiança.

Isso não indica que a Lotus emergiu como a grande desafiante da Red Bull, mas, se eles conseguirem aprimorar a base que conquistaram até agora, não dá para dizer que não vão retornar pelo menos ao mesmo nível de força do começo de 2011.

4º. Um novo velho Kimi está de volta

Quanto mais muda, mais ele permanece o mesmo. Kimi Raikkonen aparenta estar mais brando e mais maduro desde a última vez que frequentou o paddock da F1.

Ciente de que deve aproveitar sua chance ao máximo, Kimi dá sinais de um novo homem: totalmente contagiado pela nova oportunidade, afiado para realizar o mesmo trabalho que relutou em fazer na sua última temporada na categoria e determinado em não deixar que os chistes vindos de fora das pistas o distraiam.

Mas, ainda assim, ficaram muitas características que nos acostumamos a ver no velho Kimi. Ele continua sem muita paciência para perguntas entediantes de jornalistas. Nas coletivas para a imprensa, respondia às sondagens já manjadas com pouco mais do que alguns resmungos, embora demonstrasse muito mais disposição quando questionado sobre algo inteligente.

Será divertido ter o novo velho Kimi de volta e ainda melhor se ele puder brigar na parte de cima do grid.

5º. Vamos nos acostumar rapidamente aos novos bicos feios


Quando as capas eram retiradas de cima de cada um dos novos carros nas últimas semanas, todos olhavam basicamente para a mesma coisa: os bicos em degrau.

Fãs, pilotos, chefes de equipe e jornalistas não se mostraram nada empolgados com o que ficou conhecido como "a regra feia". Desde então, as opiniões sobre o tema se resumiram apenas a qual carro possuía o bico com o pior desenho.

É importante ressaltar que as fotografias tendem a acentuar a feiura dos degraus. Quando vemos ao vivo, nas pistas ou nos boxes, os bicos não ficam tão ofensivos aos olhos quanto nas imagens.

Portanto, assim como as largas asas dianteiras pareciam tão estranhas no começo de 2009, mas rapidamente foram assimiladas, a tendência é que deixemos de lado o choque inicial que levamos ao conhecer os carros de 2012 na mesma velocidade.

Dito isto, talvez o bico "retrô" da McLaren sirva apenas como um sopro para lembrarmos "como eram bonitos os carros da F1".

6º. A Pirelli está próxima de conquistar seus objetivos

Há doze meses, havia uma tremenda incerteza sobre o impacto que a chegada da Pirelli causaria na F1.

Agora, com um ano completo de experiência, a fabricante italiana está com mais confiança para compreender suas exigências. Foi por isso que o estafe da fornecedora deixou Jerez bastante otimista com relação aos resultados da semana.

A geração mais mole dos pneus aparenta ter entregue exatamente o que era previsto: maior estabilidade traseira e uma diferença de desempenho em torno de oito décimos com relação aos mais duros, que é o que a marca italiana considera o ideal para embaralhar as estratégias em 2012.

Ademais, os pneus parecem mais fáceis para aquecer, algo que ajudará equipes como a Ferrari, que enfrentaram tantos problemas para deixar os compostos mais duros na temperatura ideal durante a temporada passada.

7º. Mark Webber espantou seus fantasmas de 2011

Mark Webber precisava de uma boa pré-temporada e foi isso o que ele conseguiu. Desde que chegou em Jerez, era possível observar o brilho em seus olhos, algo que não era manifestado por ele desde 2010.

A vitória no fim de 2011 no Brasil ajudou, mas o clima e a preparação no verão australiano também colaboraram. Ele voltou mais disposto do que nunca, depois daquilo que ele mesmo considerou suas melhores férias pós-temporada.

O melhor de tudo é que Webber se mostrou bem contente com o RB8. Esta será uma grande temporada para a Austrália e Mark sabe que precisa fazer melhor do que no ano passado.

Quem sabe a pressão de olhar para trás e ver dois jovens velozes como Daniel Ricciardo e Jean-Éric Vergne na co-irmã Toro Rosso não seja o estímulo que ele precisa para voltar a desafiar o companheiro Sebastian Vettel.

8º. O desenvolvimento dos escapamentos será agressivo

Um dos aspectos mais fascinantes na parte criativa da F1 é que cada equipe aproveita qualquer aspecto do carro no limite do regulamento, sempre com o intuito de encontrar aqueles décimos de segundo que fazem a diferença.

Assim, depois que os engenheiros descobriram o quanto podem manipular os gases expelidos pelo carro para melhorar a aerodinâmica e a velocidade, graças aos difusores soprados, eles nunca mais vão deixar de interpretar o regulamento dos exaustores ao extremo. Isso já aconteceu em 2012, com os novos escapamentos em formato de periscópio.

Jerez nos deu a primeira amostra do quão fascinante será a batalha técnica nesta área ao longo do ano. As soluções trazidas por Ferrari e McLaren provocara o franzir de algumas sobrancelhas. Entretanto, o diretor de provas da FIA, Charlie Whiting, não se opôs às inovações.

Os desenhos das duas equipes podem ser os caminhos a serem seguidos. Por isso, podemos esperar soluções agressivas sendo apresentadas por outras equipes durante a campanha.

9º. A Caterham amadureceu como um time de F1

Apesar de um problema incipiente de ignição sofrido no primeiro dia, que custou um tempo considerável, o restante do programa da Caterham em Jerez deixou a escuderia bastante otimista.

A equipe verde e dourada esteve consistente na pista, testando o novo Kers como um time já experiente no manejo do sistema. Jarno Trulli chegou a sugerir que este foi o melhor primeiro teste do qual ele se lembra em toda sua carreira.

Como nem a Marussia e nem a HRT irão colocar seus bólidos de 2012 para andar antes da última rodada de treinos, a Caterham mostrou que está pronta para se desgarrar de vez de suas duas companheiras quase novatas e começar a brigar contra os times já estabelecidos.

10º. Realmente não há muito tempo até Melbourne

Quando a Mercedes anunciou, em dezembro, que iria procrastinar o debute de seu carro de 2012 para o segundo teste da pré-temporada, parecia algo não muito fora dos protocolos, já que McLaren e Red Bull já haviam adotado estratégia semelhante no passado.

Mas a realidade deu as caras na última semana e cada equipe, enfim, se atentou para o fato de que não há muito tempo restante até Melbourne. Restam somente oito dias de testes e, com a expectativa de muito frio para a primeira rodada em Barcelona, daqui a alguns dias, pode-se dizer que há apenas uma bateria realmente válida pela frente.

Isso significa que a pressão está sobre a Mercedes, que precisa atingir o nível desejado de performance até o fim deste mês. Se as outras equipes estão nervosas pelo fato de haver tão pouco tempo, em Brackley, sede da equipe da estrela de três pontas, até as borboletas devem estar agitadas.

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