* Por Leonardo Felix
Vivendo uma das piores -- se não a pior delas -- crises econômicas de sua história, a Espanha já começou a acusar o golpe também na esfera esportiva.
A nova grande potência do esporte mundial deu pequenos indícios de que não sairá ilesa desses tempos em que o país está perto da bancarrota, com taxas astronômicas de desemprego e dívida pública. Em vista esse preâmbulo, a F1 também não passará incólume.
Coincidentemente ou não, os organizadores dos GPs da Europa, no circuito de rua de Valência, e da Espanha, em Barcelona, indicaram na mesma semana que podem pedir a revisão de seus contratos junto à FOM para continuarem no calendário.
"Os grandes eventos estão sob total e absoluta revisão. Eles não são viáveis da forma como são realizados agora", disse recentemente o vice-presidente da província da Comunidade Valenciana, Jose Ciscar, ao jornal El País.
"Existem alguns contratos que são mais caros para manter do que para quebrar", completou o ministro da economia da Catalunha, Andreu Mas-Colell.
A imprensa espanhola se divide entre o choque de realismo e o pesar da ostentação. Ser o único país a ter dois GPs na F1 é algo notório, opíparo, mas a atual situação econômica do país inviabiliza completamente tal panorama. Por outro lado, Valência já deu indícios de que não aceitaria um sistema de revezamento com Barcelona para sediar a prova a cada dois anos.
Aliado a isso, especialistas dizem que quebrar contratos assim com alguém como Bernie Ecclestone não é a alternativa mais sagaz. Calculista, o mandatário da F1 nunca entra onde sabe que não vai ganhar e, quando perde, nunca sai sem deixar feridas em quem lhe desbancou.
Atualmente, Valência paga € 20 milhões ao ano para receber o GP, enquanto Barcelona arca com € 17 milhões. Fora os demais gastos para atender a todos os padrões exigidos pela categoria.
Até o momento, Ecclestone pouco se manifesta sobre o assunto e, fingindo que nada está acontecendo, vai querer o cumprimento dos contratos. É típico do ex-vendedor de automóveis ignorar e sobrepujar as dificuldades alheias se a situação estiver positiva para ele. Para Bernie, a crise só passa a existir se o número de zeros em sua conta corrente não for agraciado com o milagre da multiplicação.
Caso perceba que não tem saída a não ser renegociar, o empresário não irá fazê-lo sem sua tradicional perspicácia. Colocar os organizadores em conflito e ameaçar ficar com apenas uma etapa para pressioná-los a oferecer mais dinheiro é uma alternativa.
Outra possibilidade, essa mais plausível: conseguir viabilizar um sistema de revezamento, pelo qual os circuitos pagarão menos, mas, no fim das contas, os lucros serão maiores. Por exemplo, em vez de gastar €20 milhões ao ano, Valência dispendiaria € 25 milhões a cada dois anos pela prova. Barcelona, por sua vez, pagaria € 20 milhões a cada biênio. Para as cidades, representaria um sensível corte de custos, mas, para Ecclestone, significaria um aumento médio de € 4 milhões ao ano na arrecadação, além de abrir vaga para um dos outros tantos locais ávidos por fazer parte da categoria.
Crise econômica é algo que, definitivamente, não faz parte do cotidiano de alguém como Bernie Ecclestone.
Valência pode sair do calendário, seria um favor. Pistinha chata e sem graça!
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