segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

COMO A FERRARI AINDA SUPERA A RED BULL EM PREMIAÇÕES*

* Por Jonathan Noble, da AUTOSPORT

Enquanto as equipes da F1 se preparavam para seu último trabalho oficial de 2011, em Interlagos, no último domingo, você poderia estar pensando que, no super rico mundo da velocidade, seria a atual bicampeã mundial Red Bull que andaria pelo paddock ostentando o status de equipe mais premiada do grid no aspecto financeiro.

Afinal, os números da equipe ao longo desses dois anos foram inalcançáveis e nenhum rival ficou sequer próximo de tais resultados.

Em 2010 e 2011, a Red Bull conquistou tanto os campeonatos de pilotos como os de construtores, assim como venceu 23 dos últimos 40 GPs, sendo 13 dos últimos 20. Este ano, o time também esteve presente em quase todos os pódios, exceto em Abu Dhabi.

Mesmo com tanto sucesso, não é a Red Bull que figura no topo de premiações da F1, nem mesmo a McLaren, sua adversária mais próxima nesta temporada. Graças à natureza distorciva do ultra secreto Fundo de Premiação da F1, é novamente a Ferrari quem adentrará as férias de fim de ano contente por abocanhar a maior fatia do bolo, apesar de ter vencido apenas uma corrida e terminado o ano em terceiro no campeonato de construtores.

Historicamente, a maneira como os recursos são repartidos é mantida sob sigilo. Tanto as escuderias quanto Bernie Ecclestone jamais revelaram detalhes sobre as regras de distribuição.

Depois de extensiva pesquisa entre várias fontes do paddock, uma pequena olhada nos documentos repassados aos times, que detalham os ganhos, e alguns pequenos acenos aqui e ali, surgiu uma formulação mais clara de como o dinheiro é dividido.

Estimando os ganhos

É claro que, sem acesso pleno aos regulamentos de premiação, ao Pacto de Concórdia ou os contratos que Ecclestone possui sobre a renda total do esporte, é impossível dar uma resposta definitiva sobre o funcionamento exato do sistema de premiação.

De qualquer forma, podemos calcular estimativas baseadas nos ganhos previamente confirmados e assim, ao menos, vislumbrar como funciona essa estrutura.

De acordo com documentos de domínio público, a renda total da F1 em 2010 foi de US$ 1 bilhão (quase R$ 1,85 bilhão), com um total de US$ 658 milhões sendo destinados às equipes, por meio do Fundo de Premiação. Com a renda da categoria crescendo a cada ano e a estimativa de que a elevação será de 5% em 2011, podemos deduzir que o montante destinado aos times deve ficar próximo a US$ 691 milhões.

O valor definitivo só será fechado quando a contabilidade anual da FOM for apresentada, antes do encerramento do próximo ano financeiro. Portanto, os valores finais podem variar, tanto para mais quanto para menos, mas os critérios de rateio dos ganhos entre as equipes permanecerão os mesmos.

Como a Ferrari sai do ano com a maior premiação?

O ponto-chave que envolve a premiação da Ferrari é o fato de ela cultivar o status de equipe mais importante da F1. A "incomparável" contribuição histórica, a consistente presença no grid e a força da marca implicam que, a partir do momento em que os recursos de premiação são disponibilizados, imadiatamente 2,5% já vão para Maranello.

Dessa forma, o bônus inicial da Ferrari, de um total hipotético de US$ 691 milhões, será de US$ 17,3 milhões, antes mesmo de contabilizarmos aquilo que conhecemos como direitos de "Categoria B", baseados no número de títulos conquistados, que garantem aos italianos mais US$ 16 milhões.

Isso significa que a Ferrari entrou em 2011 com uma premiação já garantida que poderia chegar a US$ 33,3 milhões.

Além disso, o terceiro lugar no campeonato de construtores alavancou ainda mais os ganhos, já que as escuderias recebem dois pagamentos diferentes quando terminam entre os dez primeiros.

Os dois tipos de remuneração, separados em categorias denominadas "Coluna 1" e "Coluna 2", contam com 50%, cada, do total do fundo, já descontados os montantes destinados a pagamentos para a "Categoria B", que são as equipes campeãs mundiais (Ferrari, Red Bull, McLaren, Mercedes, Renault e Williams) e os bônus oferecidos para Virgin e Hispania, que ficaram de fora dos dez primeiros e receberam US$ 10 milhões cada.

Os pagamentos da "Coluna 1" são feitos de forma equânime, 10% para cada equipe, e você passa a ter esse direito quando participou pelos menos dos últimos dois ou três mundiais.

Calculando o pagamento baseado nos ganhos projetados para 2011, a "Coluna 1" deve render cerca de US$ 31 milhões para cada time.

Depois disso, há o pagamento da "Coluna 2", rateado de acordo com a performance de cada escuderia no ano anterior. De acordo com os documentos, a atual distribuição funciona em um nível percentual próximo a esse: primeiro lugar = 19%; segundo = 16%; terceiro = 13%; quarto = 11%; quinto = 10%; sexto = 9%; sétimo = 7%; oitavo = 6%; nono = 5%; décimo = 4%.

Portanto, o terceiro lugar da Ferrari rendeu 13% dos estimados US$ 310 milhões da "Coluna 2", que representam US$ 40,3 milhões.

Isso significa que a premiação total da Ferrari na temporada 2011 deve ficar próxima a US$ 104,6 milhões, somando os US$ 33,3 milhões da premiação da "Categoria B" pelo histórico, os US$ 31 milhões da "Coluna 1" e os US$ 40,3 milhões da "Coluna 2".

O valor ultrapassa as premiações que McLaren e Red Bull, as duas equipes que terminararam o ano à frente, ganharam.

Usando os mesmos cálculos, podemos mensurar que os prêmios da McLaren - US$ 31 milhões da "Coluna 1", US$ 4,2 milhões da "Categoria B" e US$ 49,6 milhões da "Coluna 2" somam US$ 84,8 milhões.

Para a Red Bull, os US$ 31 milhões da "Coluna 1" mais US$ 3,2 milhões da "Categoria B" e US$ 58,9 milhões da "Coluna 2" devem render algo em torno de US$ 93,1 milhões.

Por que a Red Bull não está infeliz

Depois da temporada que a Red Bull teve, o time poderia se achar no direito de sentir que é injusto ter vencido tudo e ver a Ferrari ganhar US$ 10 milhões a mais em prêmios. No entanto, há uma visão pragmática com a qual os rivais encaram o dinheiro extra que a Ferrari ganha: cada um no grid reconhece o valor de ter o Cavalinho Rampante lá.

O bônus mágico de 2,5% aos italianos, visto como fator chave para todas as equipes que querem colocar em prática o novo Pacto de Concórdia, deve ajudar a Ferrari a dar o pontapé inicial antes de qualquer outra para a aprovação do novo acordo.

Ter o time de Maranello por perto é sempre bom para a F1 como um todo, e, invariavelmente, impulsiona os demais ganhos do esporte, o que representa um incremento nos cofres de todos. O chefe da Red Bull, Christian Horner, contou ao AUTOSPORT.com no Brasil, na última semana, que não tem nenhuma queixa a respeito da posição financeira privilegiada da Ferrari.

"É melhor ter a Ferrari aqui do que o contrário", explicou. "Ferrari e F1 são sinônimos e, para nós, o prestígio de vencer em uma categoria que tem a Ferrari é imensuravelmente maior do que se não houvesse essa equipe", comparou.

"Historicamente, eles são a escuderia mais significante e é compreensível que seus termos comerciais sejam um pouco diferentes dos outros", defendeu.

Quando perguntado se não havia um sentimento de frustração ao ver uma concorrente regozijar de mais prestígio nas premiações, Horner respondeu: "Eu acho que, obviamente, eles têm um ótimo acordo, mas essa é a forma como a coisa funciona".

"Conseguimos superá-los nos últimos três anos, por isso não vejo a situação como um problema. Você tem que reconhecer e ser respeitoso com a marca Ferrari e seu patrimônio. Nós preferiríamos, de longe, correr em um campeonato com a presença deles e é um grande privilégio bater uma equipe como a Ferrari", completou.

Mais vencedores e perdedores

A maneira como o Fundo de Premiação funciona implica que terminar a temporada em uma boa colocação é absolutamente vital. E, olhando para os vencedores e perdedores de 2011, há alguns outros detalhes interessantes.

Continuando a usar o mesmo método de cálculo, a temporada de sucesso da Force India, pulando do sétimo para o sexto lugar, propiciou aos indianos um acréscimo de US$ 6,2 milhões em sua premiação.

Já a Williams foi a única escuderia a ter ganhos menores entre 2010 e 2011, já que sua queda do sexto ao nono lugar no campeonato representou uma diminuição de US$ 12,4 milhões no percentual de participação na "Coluna 2".

Mas a maior vencedora foi a Lotus, que finalmente entrou na lista principal. O décimo lugar no campeonato de construtores acarretou um adicional de US$ 31 milhões ao caixa da futura Caterham, além dos previstos US$ 12,4 milhões como última colocada da "Coluna 2".

Não havia segredos do porquê o chefe da equipe, Tony Fernandes, estar agonizado para ver logo o término do GP do Brasil, já que ele externara que seria "crucial" para o time garantir em Interlagos o décimo lugar na tabela.

Quando Fernandes deixou o paddock, no domingo à noite, provavelmente estava mais feliz até do que a Ferrari...

4 comentários:

  1. Vergonhoso como dita o dim...dim...Agora, ganhar da Ferrari realmente no mundo dos negócios não tem preço...rs..rs...rs...

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  2. É assim que a coisa funciona!!
    Mas o comentário do Horner sobre ganhar da Ferrari, foi fantástico!

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