quinta-feira, 27 de outubro de 2011

CAMINHO DAS ÍNDIAS: IMPRESSÕES DA PISTA*

* Por Lívio Oricchio

Percorri parte da pista a pé e depois com o arquiteto Heman Tilke, seu projetista. Completamos várias voltas com seu carro. Numa delas encontramos Felipe Massa e seu irmão, Dudu, de bicicleta, e conversamos rapidamente.

Quem vê o desenho do traçado de 5.125 metros e 16 curvas no papel não compreende a sua verdadeira dimensão quanto à espetacularidade. As curvas 1, no final da reta dos boxes, a 3, depois de um trecho curvo em aclive em aceleração plena e anterior à reta, a 4, no fim da reta de pouco mais de mil metros, e a 16, a última antes da reta dos boxes, apresentam largura pouco maior de 20 metros. Há várias opções de trajetória.

“Tudo foi concebido para facilitar as ultrapassagens e dificultar sua defesa”, explicou Tilke. “Você não pode seguir a trajetória normal quando há um adversário próximo.” Massa confirmou: “É preciso esperar os carros na pista, mas parece que será impossível não acontecer ultrapassagem aqui”. Além da natureza do traçado, haverá duas zonas de uso do flap móvel (DRS), a partir do segundo terço da grande reta e na reta dos boxes, o que tende a tornar a manobra menos difícil também.

O asfalto é bom, uniforme, pouco ondulado, mas com certeza haverá muita reclamação quanto ao nível de aderência. Baixo, em especial neste primeiro ano. Ontem o estavam lavando, mas mesmo assim deveremos ver vários carros desgarrando pela pouca aderência somada aos pneus duros disponibilizados pela Pirelli no GP da Índia.

Não gostei de algumas áreas de escape, em especial de dois “S” maravilhosos, de alta, compreendido pelas curvas 6 e7 e 8 e 9 . A barreira está muito próxima para a velocidade da passagem dos carros. “Fizemos estudos de simulação e essa distância para o escape nos pareceu satisfatória”, respondeu Tilke. Tenho dúvidas. Lembrou Suzuka. Penso que os pilotos vão reclamar do pit lane. É estreito.

Bruno Senna também percorreu o circuito e disse: “É muito legal. Rápido, com umas mudanças rápidas de direção interessantes, sobe, desce.” Tilke me disse que originalmente o terreno era plano. “Deslocamos milhares de metros cúbicos de terra para criar esses desníveis.” De uma das arquibancadas pode-se ver boa parte da pista, como Interlagos. Trata-se da arquibancada que se estende ao lado dos S de alta.

Na sequência desses S há uma curva, a 10, com alguma similiaridade com a famosa 8 de Istambul e o Sol do antigo traçado de Interlagos. Curva longa, veloz, e de dois raios. Bastante interessante.

Tomara que já sexta-feira, depois dos primeiros treinos livres, a forte impressão positiva inicial seja ratificada.

Mas se o traçado sugere ser seletivo, desafiador, em especial por ser relativamente curto se comparado com outros recentes também, a porção de trás, boxes e escritórios, apesar de novos gerou muitas críticas. Desta vez não quanto a funcionalidade, que é boa, segundo Dick Stanford, da Williams, por exemplo. Mas no que diz respeito ao acabamento e à limpeza. É impressionante como tudo ainda está sujo e como não houve cuidado com a construção.

“Há fezes de rato para todo lado. Nos entregaram sem lavar. Passar a fiação para nossos equipamentos foi um problema”, comentou um integrante de escuderia, sem desejar ser indentificado. “É novo, mas parece que já ousamos há dez anos”, definiu Stanford.

Tilke também sentiu a reação de indignação dos profissionais da Fórmula 1 diante da despreocupação com higine. Evitou se manifestar. Limitou-se a explicar: “Nós fizemos o projeto e assessoramos a obra. Não somos os responsáveis pela construção.”

Ao longo do fim de semana trago mais informações. Faz calor. Apesar do outono, uma simples camiseta resolve.

Narain Karthikeyan me disse que venderam 85 mil ingressos para a prova até agora. “Espero que o evento possa criar motorsport na Índia. Temos dois caminhos. O da China, onde todo dinheiro vai para a Fórmula 1 e não existem categorias no país, ou da Malásia, onde a Fórmula 1 serviu de inspiração para a criação do motorsport e hoje há competições regulares lá. Espero que enveredemos pela opção da Malásia.”

O indiano não se contém. “Estou ansioso. Obrigado por ter vindo à Índia”, disse aos raros jornalistas que hoje visitaram o autódromo.

Ah, a Índia é uma nação de contrastes, tendo por base o que vi até agora. Ainda mais fortes que no Brasil. Viaja-se de um extremo ao outro, com relação a tudo, com enorme facilidade, basta se deslocar um pouco por Nova Delhi e sua periferia. Ao mesmo tempo e, como sempre, muito enriquecedora a oportunidade de conhecê-la.

Concordo que é necessário desembarcar com a mente bem aberta. Mas se depois de mais de 20 anos viajando pelo mundo ainda não aprendi isso então não evolui nada. Não julgue nada. Assimile o que lhe agrada e respeite e deixe de lado o que não corresponde aos nossos valores básicos, como é o caso aqui, sem se deixar atingir. Essa a lição que a extraordinária experiência da Fórmula 1 me ensinou.

2 comentários:

  1. por enquanto tá todo mundo falando bem do traçado de buddh... nessa madrugada poderemos tirar as primeiras conclusões sobre mais um tilkódromo na F1!!!

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  2. A "higiene" indiana já é bem conhecida, mas lavaram a pista, como ele disse aí.
    Parabéns pra mim, se eu não tivesse cobrado isso no post do vídeo da volta na pista aí embaixo...

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