segunda-feira, 26 de setembro de 2011

A CIRANDA DA WILLIAMS*

* Por Luis Fernando Ramos

O mercado de pilotos anda muito tranquilo neste ano. As quatro principais equipes do grid estão fechadas para o ano que vem e, de momento, existe apenas três vagas no pelotão intermediário, sendo que as duas da Renault estão condicionadas à incerteza da volta de Robert Kubica e com outros três nomes claros para ocupá-las: Vitaly Petrov, Bruno Senna e Romain Grosjean.

Assim, a concentração dos outros nomes disponíveis no mercado está no assento ocupado no momento por Rubens Barrichello. Em tempos recentes, a porta de entrada da fábrica em Grove parece mais agitada que o Picadilly Circus no centro de Londres. Relatos dão conta de que Adrian Sutil e Kimi Raikkönen foram fazer uma visita aos diretores da equipe. Giedo Van der Garde, Charles Pic e um ou dois (de novo, dependendo de Kubica)que sobrarem do trio Petrov/Senna/Grosjean também estariam na briga. O mesmo Nick Heidfeld esteve hoje no paddock de Cingapura - e duvido que tenha sido para buscar vaga na Hispânia ou na Virgin.

Claro que essa ciranda deixa muita gente confusa e tem saído na imprensa do mundo todo muita besteira escrita por gente sem responsabilidade. Ouvi o maior número de fontes possíveis aqui em Cingapura e uma coisa é certa: a Williams está longe de decidir. Outro fator importante: dá para restringir bastante esse número de candidatos.

Van der Garde não interessa muito ao time. O dinheiro que ele pode trazer é estipulado em torno de 3 milhões de Euros e ninguém ali é bobo de ter um orçamento um pouquinho melhor com dois pilotos novatos e não espetaculares. Maldonado ainda passou no escrutínio do time nessa sua primeira temporada e provou que o título da GP2 no ano passado foi fruto mesmo de um processo de amadurecimento. Mas o errático holandês, que teria apoio do sogro que é dono da confecção McGregor, não tem nem mesmo o título da categoria de acesso como carta de recomendação. Pior: foi superado pelo companheiro de equipe nas duas últimas temporadas.

Na última foi por Charles Pic. Os indícios são de que o francês teria dinheiro para trazer para a Fórmula 1 e, vá lá, fez um trabalho razoável em seu segundo ano na GP2. Seria uma aposta em um novato melhor que Van der Garde, mas esbarraria na mesma questão: será que a Williams desperdiçaria o primeiro ano com os motores Renault tendo o esforçado Maldonado como líder e um novato a seu lado?

A questão do trio ligado à Renault é mais complicada. Se Kubica voltar com a mesma qualidade que tinha no primeiro teste de pré-temporada em Valência, dias antes do seu forte acidente no rali, ele está garantido. Mas nem mesmo o maior dos devotos do Papa João Paulo II acredita que o polonês volte tão bem em tão pouco tempo. Todos gostaríamos que o milagre acontecesse, mas a impressão no paddock é que 2012 é cedo demais.

Dito isso, há uma tendência da Renault em manter sua dupla de pilotos atual, Senna e Petrov, cujo trabalho que estão fazendo agrada o time. Sobraria Grosjean. A Gravity aposta que o francês teria apoio da Renault e poderia trazer consigo um desconto no fornecimento de motores para a Williams, mas ninguém da montadora francesa sinaliza que o apoio ao piloto local é uma realidade. Esse desconto é algo que Grosjean, pelo menos por enquanto, não tem para oferecer. Um caminho possível para o campeão da GP2 seria a Virgin, no lugar de Jerome d’Ambrosio. Mas Grosjean corre atrás de patrocinadores franceses e, se conseguir, pode ser uma alternativa que interesse à Williams.

Sobre Heidfeld, não é preciso gastar muitas linhas. Mesmo que se oferecesse para correr de graça, não seria atrativo para a Williams trocar um piloto com qualidade e experiência comprovada como Barrichello por um de qualidade e experiência discutíveis como Heidfeld. Seu desempenho na Renault não agradou apenas à Renault, mas ao paddock em geral, e sua força no mercado é muito baixa.

Podemos falar de Kimi Raikkonen, o assunto da semana. Um nome atrativo, campeão do mundo, um retorno que daria o que falar. Mas sua contratação não seria lógica. A ideia de que ele possa atrair patrocínio é fantasiosa. A Ferrari pagou 20 milhões ao finlandês para ele ficar em casa em 2010 porque sua falta de motivação era evidente. No WRC, a Red Bull não precisou mais de uma temporada para abandonar um piloto que não se esforça um dedo para participar de ações de marketing. E a realidade de patrocínio na F-1 é cada vez mais complicada. Sem falar na questão da motivação. Depois do ano de estreia na Sauber, Raikkonen só pilotou carros capazes de ganhar corridas. Todos apostam que, se fosse para a Williams, perderia o interesse pelo trabalho em poucas etapas. Algumas pessoas no time de Grove também acham isso.

Uma possibilidade é se Kimi se dispor a ganhar o mesmo que Barrichello pediu para a equipe - e se a decisão da Williams for a favor do finlandês. É improvável que ele baixe seu preço e aceite ganhar muito menos em relação ao que já ganhou na McLaren e na Ferrari. Mas não impossível. Neste ano, o “homem de gelo” gastou bastante dinheiro para correr o WRC com sua própria equipe. Pode ser.

Também se fala em Adrian Sutil. Com cinco temporadas de experiência e trazendo apoio de empresas alemãs, o piloto ainda impressionou o paddock de forma geral neste ano ao equilibrar a briga com Paul di Resta - que, apesar de novato, é um piloto bem avaliado no paddock. Só que, desde Monza, o alemão e seu empresário negam qualquer contato com a Williams. Pessoas próximas aos dois acreditam que receberam um “não, obrigado” em Grove. A ver.

No time de Vijay Mallya, tudo aponta para a permanência de Paul di Resta, que traz consigo um desconto no valor dos motores Mercedes. A outra vaga estaria sendo disputada com afinco por Sutil e Nico Hülkenberg. Sutil traria mais dinheiro que o compatriota, algo que agrada a um pão-duro notório como Mallya. Mas o time pode estar disposto a apostar no potencial de crescimento de Hülkenberg. A maioria das pessoas com que eu falei acham pequenas as chances do piloto que sobrar ir parar na Williams.

Se eu, ou alguém, apontar qualquer medida para as chances da permanência do brasileiro no time, estaria chutando no escuro. O que eu posso dizer é que sinto ele claramente incomodado com a indefinição. Igualzinho ao Barrichello que acompanhei na fase final do campeonato de 2008. Mesmo assim, no ano seguinte Ross Brawn fez a opção pela sua experiência e velocidade. No meio dessa ciranda confusa, pode ser que a Williams faça o mesmo para o ano que vem. Pode ser. Estes são os valores que ele tem para oferecer. Além de muito comprometimento. Ontem fui fazer mais uma volta correndo pelo circuito de Marina Bay e, ao final, passei pelos boxes vendo o trabalho frenético dos mecânicos nos carros. Era quase três da manhã e em apenas em uma garagem havia um piloto acompanhando o que era feito e discutindo soluções com os engenheiros. Era Barrichello.

Quando sai a decisão em Grove? Não sei. Só espero que seja antes do GP do Brasil. Se for a favor de Sutil ou de Raikkonen, ou de Hulkenberg, ou de Heidfeld, ou de Grosjean, ou de Petrov, ou de Senna, ou de Van der Garde, ou de Pic, ou, sei lá, de Nigel Mansell, seria muito legal que Barrichello pudesse ter a chance de uma despedida com o público de Interlagos.

3 comentários:

  1. despedida do barrica em interlagos.. e por outro lado um bruno senna afiado e e tendo q mostrar serviço..até q veio bem a calhar ser a ultima corrida do ano..vai ser emocionante..

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  2. Caraca, show de análise!
    Bom pra quem fica especulando, já elimina muita gente dessa ciranda.

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  3. tá difícil, o cenário lembra muito 2008... tb acho que veremos (outra) despedida do barrichello em interlagos!!!

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