quinta-feira, 15 de setembro de 2011

A cereja podre do bolo*

* Por Victor Martins

A Indy pode indiretamente confessar nesta terça-feira à tarde seu maior fiasco nos últimos tempos, ao mudar no desespero as regras de um jogo definido há quase seis meses, teoricamente bem bolado, mas pessimamente bem jogado. A corrida que prometia dar US$ 5 milhões a cinco ‘forasteiros’ escolhidos a dedo na verdade vai apenas deixar Dan Wheldon como candidato a metade do prêmio — a outra parte será sorteada a um fã.

Entre março e abril, a Indy lançou o interessante desafio: será que existe algum piloto de fora capaz de sentar a bunda nos velhos monopostos feitos pela Dallara e ganhar a prova final de Las Vegas? Para atiçar, garantiu a maior bolada da história a quem conseguisse. O esquema estava todo preparado: entre julho e agosto, testes com os cinco eleitos pela categoria seriam realizados e teriam o tricampeão Dario Franchitti como uma espécie de técnico e preparador.

De início, a Indy ganhou certa popularidade e foi aplaudida pela proposta. Em Indianápolis, nomes como Alessandro Zanardi e Jacques Villeneuve eram tidos como certos. Dois dos maiores sucessos da história da categoria nos anos 90, o provável retorno de ambos já apontaria por si a tacada certeira. Só que a Indy se esqueceu de uma coisa: dá trabalho às equipes colocar um carro extra na pista. Zanardi só se arriscaria a voltar se fosse pelas mãos da Ganassi. E Villeneuve, igualmente, pela Penske — ainda mais depois dos convites que a equipe lhe fez para fazer corridas pela Nationwide, o campeonato de suporte da Nascar.

Ganassi e Penske, como bem se sabe, são as duas principais equipes da Indy e estão novamente lutando para fazer um de seus pilotos campeão — os mesmos do ano passado, Franchitti e Will Power, respectivamente. Ainda que os US$ 5 milhões sejam altamente tentadores, seria de certa forma imprudente que ambas passassem a dedicar seu tempo também para acomodar um astro e perder o foco na disputa pelo título. Com o passar do tempo, foi ficando muito mais claro que Chip e Roger sentiam muito, mas se viam obrigados a declinar do desafio. Da mesma forma, Zanardi desistiu e Villeneuve pôs-se a declarar que jamais voltaria à Indy no estado em que se encontra.

Na miúda, o presidente Randy Bernard tentou manter a proposta instigando gente da Nascar, como Scott Speed e Joey Hand. Speed passou dias turbulentos em Indianápolis com a equipe Dragon, notoriamente não conseguiria se classificar para a corrida e foi substituído às pressas por Patrick Carpentier. Hand, com trocadilho embutido, não iria dar uma mão ao negócio. Foram, então, para cima de Travis Pastrana, nome forte do mundo dos X-Games. Mas ele fraturou o pé e o tornozelo numa competição de motos em julho. Bernard viu-se numa zica do pântano.

Porque, se um dia falaram que a lista de candidatos chegou a 13, não havia mais ninguém interessante para desafiar o grupo da Indy. Agosto se foi, o tal teste agendado não foi realizado, disseram aqui e ali que fariam um anúncio no começo de setembro e, depois de uma visita ao GP da Itália da F1, Bernard marcou um anúncio para hoje. Wheldon, vencedor das 500 Milhas em maio, será o único que terá o direito de ganhar o superprêmio, e tão logo os colegas souberam, reclamaram.

O primeiro a bradar foi Tomas Scheckter: “Então eu posso disputar os US$ 5 mi de Vegas?”, e nisso Graham Rahal o apoiou. O sul-africano, que fez provas esporádicas pela Dreyer & Reinbold e SH, parceira da KV, começou a pedir aos seguidores no Twitter que fossem encher os pacová da Indy para aprovarem sua candidatura. Bruno Junqueira foi outro a falar, em tom de brincadeira, que a Newman-Haas poderia lhe dar um carro. Entrei em contato com o brasileiro, que disse: “A categoria não ia deixar eu competir pelos US$ 5 mi, mas agora com o Wheldon correndo, acho que mereço uma chance também.”

Da mesma forma, os pilotos que não participam regularmente do campeonato vão se sentir lesados — mesmo que não seja a melhor palavra para definir. A lista destes apresenta Paul Tracy, Ho Pin-Tung, Giorgio Pantano e, agora, João Paulo de Oliveira. Fazer de Wheldon um astro, ainda mais um piloto que já ganhou a Indy 500 e que é o responsável pelo desenvolvimento do chassi Dallara do ano que vem, é a pior saída que Bernard e seu grupo poderia ter encontrado, representando a cereja ao marraschino do bolo para uma temporada que beirou o desastre em termos esportivos — leia-se Brian Barnhardt, chefe de operações e diretor das provas. Para agradar, ou que ponha estes no mesmo balaio ou que se premie o vencedor, seja quem for.

A Indy, no afã de se restabelecer como categoria séria nos Estados Unidos, começa a dar tiros no pé — os primeiros foram a manutenção de Barnhardt e a decisão de tirar da internet as imagens dos treinos e da corrida. Bernard, trazido a peso de ouro para ser o bate-estaca na cagada construída por Tony George, tem igualmente mirado nos dedos certeiramente, bom caubói que é. Assim que acabar o ano, seria de ótimo grado o presidente pegar o que foi 2011 e usá-lo como ‘turning point’, como dizem por lá, para começar a dar uma dentro, aproveitando a mudança dos carros. Do contrário, vai dar voz a quem insiste, com razão, em ver a várzea que está tornando a simpática categoria.

3 comentários:

  1. bom texto!! bem engraçado tb!!rsrs

    ..aquilo sempre foi uma várzea mesmo!!mas mesmo assim eu curto bastante!!rsrsr

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  2. conseguiram estragar um evento que tinha tudo para ser histórico... parabéns!!! (mas mesmo assim eu curto bastante tb, hehe)

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  3. Vixi, pela lambança retratada aí, deve ter algum ex-dirigente da CBA na diretoria da Indy, dando muitos conselhos....

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