* Por Andrei Spinassé (Folha de São Paulo, 01/03/2010 - Caderno Esportes)
Quase 74 anos antes de a Indy realizar uma corrida de rua em São Paulo, uma prova urbana mobilizou a capital paulista e teve um fim trágico. Foi disputado em 12 de julho de 1936 o GP Cidade de São Paulo, a última grande competição desse tipo com a participação de famosos pilotos internacionais de que se tem registro.
Muito atrás nas disputas automobilísticas do Rio, que desde 1933 tinha o Circuito da Gávea, São Paulo não realizava corridas havia algum tempo. Foi por isso que a prefeitura paulistana decidiu promover o GP Cidade de São Paulo. A ideia era que os pilotos que participavam do Circuito da Gávea corressem no Jardim América. Nos preparativos da prova foram adquiridos 8.000 m de cordas, para separar carros de espectadores, e montadas arquibancadas para 7.000.
Seis pilotos que haviam corrido no Rio competiram: os italianos e ferraristas Carlo Pintacuda e Attilio Marinoni, a francesa Mariette Hélène Delangle, a Hellé Nice, ex-dançarina e acrobata, e três argentinos. Entre os brasileiros estavam Manoel de Teffé e Francisco Landi, mas com carros inferiores aos dos estrangeiros. Atual presidente da Federação de Automobilismo de São Paulo, Rubens Carpinelli, 82, 8 à época, viveu intensamente aqueles momentos. "Na escola só se falava na corrida."
A pista montada no Jardim América tinha 4.250 m, longas retas seguidas de "cotovelos" e 60 voltas. Na avenida Brasil ficavam torre de cronometragem, tribuna e arquibancadas. A organização limitou em 20 o número de pilotos e o grid foi definido por sorteio. Por regulamento, os carros deveriam ser pintados com as cores do país de cada competidor. Rubens Carpinelli, professor de matemática de Emerson Fittipaldi na escola, morava em Pinheiros e foi a pé com seu pai. "Os bondes que serviam aquela região passavam lotados horas antes. Todos temiam não achar um bom lugar nas calçadas -nenhum era marcado."
Os carros largaram às 9h30 para um público de 100 mil. "Todos foram para ver uma novidade, algo que não imaginavam poder ver em São Paulo." Como já era esperado, Pintacuda disparou na frente e teve tempo de fumar cigarros durante paradas para reabastecimento e ajudar seu companheiro Marinoni, que havia rodado, empurrando-o com seu próprio Alfa Romeo. Às 11h57, a dobradinha foi confirmada.
Na reta final, Hellé Nice e Teffé disputavam a terceira posição, e o brasileiro estava à frente. A francesa tentava a todo custo a ultrapassagem, mas foi surpreendida por um obstáculo e freou bruscamente. Há duas versões: um fardo de alfafa foi jogado à sua frente ou um homem atravessou a pista. Ela bateu num volume de alfafa, foi lançada ao ar e salva por um soldado.
"Ficou um clima de desolação", falou Carpinelli. Após o acidente, uma multidão invadiu a pista, e os outros pilotos evitaram uma tragédia de proporções ainda maiores. Como saldo, seis pessoas morreram e 34 ficaram feridas.
Ainda houve, em 1949, uma prova no Pacaembu, mas sem a participação de estrangeiros.
sai zica!!! sem carros na grade dessa vez...
ResponderExcluirEu conhecia essa história, mas em mil novecentos e bolinha, pela organização e segurança que se tinha, até que morreu pouca gente, a tragédia poderia ter sido maior.
ResponderExcluirÉ triste falar isso, mas é verdade.