E o Schumacher não vai mais voltar. Ouvi de muita gente que a tal dor no pescoço pode ser traduzida por "não me deixaram andar na F60 e, sem saber o que vou encontrar, tô fora!". Quanta gente gostaria de gritar bem alto que o alemão amarelou! Rubinho, por exemplo, não perdeu a chance (claro, nem eu deixaria passar essa), mas foi até discreto ao dizer via twitter que "tem mais coisa aí do que um simples pescoço". Eu também acredito. Quando mostrou todo aquele entusiasmo de aceitar prontamente o convite de Montezemolo, perdeu rapidamente quase 4 quilos e se afundou nos treinos no simulador da Ferrari, Schumacher não sabia que o pescoço iria incomodar? Sabia, mas a Ferrari contava com uma medida de exceção para o alemão treinar um dia inteiro com a F60. E isso foi negado por três equipes: Williams, Red Bull e Toro Rosso.
Nada a estranhar. Se este mesmo pedido foi negado ao jovem espanhol Jaime Alguersuari, que nunca havia pilotado um F1 antes de entrar na pista da Hungria para fazer o primeiro treino livre na sexta-feira, por que agir diferente com o maior piloto de todos os tempos pelo simples fato de as regras não serem as mesmas do seu tempo?
O problema está exatamente aí. O maior campeão da história não quis assumir o papel de um piloto normal. Mesmo que ele conseguisse entrar na pista e andar rápido, havia o risco de não ser tão rápido quanto Kimi Raikkonen. A asa dianteira móvel, o pneu slick e o KERS são novidades que ele pegaria fácil em dois dias de treinos. Mas para encontrar o limite de um carro com a pressão aerodinâmica diminuída drasticamente, como aconteceu este ano, ele precisaria mais tempo. Por ser o Schumacher, de três a quatro corridas. Claro, o mundo poderia alegar que não seria obrigação de um piloto que está fora desde o final de 2006 andar junto do pessoal da frente. Mas o cara se chama Schumacher, e não há como imaginá-lo aceitando uma situação dessas.
Alain Prost é um dos velhos campeões que também voltou e deu certo. Mas ele não tinha 40 anos de idade e só ficou parado oito meses. Antes de voltar, pode treinar muito, o que hoje não é permitido, e para pilotar um carro imbatível como era o Williams de 93. Mesmo assim, sofreu para reencontrar o nível de competitividade, sentiu dores por muito tempo e fez muito exercício para o pescoço. O interessante é que, na tentativa de justificar a decisão de Schumacher, Prost acabou revelando duas novidades. A primeira é que em 94 a McLaren o chamou para ocupar o lugar de Senna e ele chegou a fazer três testes antes de desistir. Treinando com o carro, ele diz ter recuperado a velocidade, mas não sentiu recuperada a capacidade de lidar com a pressão. A outra do Prost é que a Ferrari tentou fazer com que ele corresse junto com Schumacher em 96 para fazer papel de segundo piloto e ajudar o alemão a ser um campeão. Boas histórias para se aprofundar na hora de escrever meu livro.
Mas a historia atual também dá um bom capítulo. Michael tinha concordado em correr por lealdade à Ferrari e ao amigo Massa. Mas, no fundo, estava dando asas ao sonho que Alain Prost confessa ter sentido porque a F1 continuou presente na vida dele muito tempo depois do adeus. Schumacher pode ter sentido tudo isso no momento em que recebeu o convite da Ferrari. Mas, desta vez, ele sofreu uma derrota antes de entrar na pista.
Que pena! É mais uma grande questão envolvendo Schumacher que deixa todos nós sem resposta. Sem muitas respostas. O alemão conseguiria andar à frente de Kimi Raikkonen? Como seria a disputa com Lewis Hamilton, com quem ele nunca correu? Como seria uma eventual briga de posição com Rubinho?
* Por Reginaldo Leme
Na realidade, essas são mais perguntas que ficarão sem resposta.
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