quarta-feira, 12 de agosto de 2009

O FIM DA ACTION POWER

Excelente e bombástica matéria publicada pelo site Grande Premio a respeito do fim da Action Power:

"Para mim, chega". Esta foi a decisão de Paulo de Tarso após o incêndio que consumiu três carros e toda a estrutura da Action Power na madrugada do dia 6 de julho na Régis Bittencourt, quando o time voltava para Curitiba depois da vitória em Interlagos, no domingo. A perda e a oficina vazia motivaram o patriarca do clã dos Marques a deixar o automobilismo nacional, ao menos como chefe e mantenedor de equipe.

Paulo recebeu o Grande Prêmio em sua casa, na capital paranaense nesta semana, e revelou em detalhes as razões para tal decisão. Além disso, Tarso também falou sobre os prejuízos, avaliados em quase R$ 3 milhões, contou que não recebeu ajuda da Stock Car e até deu conselho para que ninguém entre no automobilismo.

"Vou deixar, sim. Na realidade, é bastante desgastante você ter um trabalho de longa data, construir uma equipe e levá-la para frente com dificuldades, porque o automobilismo é bastante ingrato. Você tem 99% de decepção e 1% de alegria, e ver tudo isso se desmanchando em um momento só, é difícil", afirmou Paulo, ao ser questionado sobre a decisão de encerrar as atividades como chefe de equipe.

"Foi tudo destruído. E agora para reconstituir tudo isso é uma outra história. Fiquei um pouco afastado de tudo para tomar essa decisão. Como tenho uma vivência nos Estados Unidos, viajei para lá e passei uns 20 dias refletindo sobre tudo que havia acontecido e a conclusão foi de que, para mim, já chega disso tudo", completou.

Perguntado se o caminho tomado agora realmente era definitivo, Tarso declarou: "O automobilismo é um vício. E a gente, na verdade, nunca deixa de ver. Vê na televisão, e os amigos são do meio. Por prazer, até gostaria de participar de uma corrida de endurance aqui no Brasil ou nos Estados Unidos. Mas como dono de equipe, manager (empresário), que é o que fazia até agora, isso eu não quero mais", desabafou.

De Tarso não mediu precisamente os prejuízos. "Mas tinham três carros, além da carreta, claro. Também tínhamos ferramentas, material de precisão e equipamentos eletrônicos. Então, para reconstruir tudo aquilo, nós precisaríamos de cerca de R$ 3 milhões e mais uns seis meses de trabalho para repor, porque os componentes mecânicos e técnicos não são coisas que podemos adquirir facilmente no mercado."

Por ser só a JL a fabricante, "não tínhamos carros disponíveis para que nós pudéssemos disputar essa corrida de domingo, por exemplo". "Aí você pensa em outras coisas, como molas, materiais de medição, de telemetria, geometria, equipamentos de box. Quer dizer, são coisas que você vai comprando ao longo dos anos e em outros países. Mesmo que eu tenha todo esse dinheiro em mãos hoje, não conseguiria comprar tudo aquilo. Além disso, muita coisa foi feita artesanalmente, com tecnologia própria, como a construção do carro, que foi feito com material para isolamento térmico, acústico e de segurança", ressaltou.

Paulo tem uma das histórias mais ricas do esporte brasileiro. Foi piloto, dono de equipe e empresário do filho Tarso Marques, quando o jovem piloto resolveu correr na F1. O paranaense começou muito cedo e competiu em Curitiba e no Rio Grande do Sul na década de 70. Foi campeão paranaense de Stock Car em 1990 e do Brasileiro no ano seguinte. A equipe na Stock surgiu em 1988. E por ela passaram alguns dos grandes nomes da categoria como Wilson Fittipaldi, Ingo Hoffmann, Xandy Negrão, Cacá Bueno e os dois filhos Tarso e Thiago Marques. O curitibano também teve equipe na F-Chevrolet e na F3 Sul-americana. Além de produzir carros para outras divisões.

Em Pinhais, cidade metropolitana de Curitiba, é onde se localiza a empresa de Paulo, que, além da equipe, possui outros setores ligados ao automobilismo. "Nós temos uma estrutura grande. Isso porque a empresa não é focada somente na Stock Car. Lá nós temos carros de outras categorias, temos um setor de desenvolvimento de tecnologia voltado para as montadoras, além do departamento de design e de reconstrução e remodelação de carros antigos. Esses setores são independentes da equipe de Stock Car, por isso vão continuar a funcionar normalmente. Porque a Action Power é apenas uma divisão da nossa empresa que é a Marques Motorsport. E Action Power era a paixão. Nós fazíamos isso por gosto e não pela parte financeira", disse.

Com os filhos tão envolvidos ainda no automobilismo, Paulo contou que recebeu o apoio da família. "E eu tive o apoio da família. O Thiago (Marques) até está em outra equipe. E o Tarso também vai reiniciar em outro time na próxima corrida. Eles já correram na minha equipe. Então, quer dizer, o trabalho deles é bastante independente do meu. Eles me apoiaram, porque acharam que foi a melhor decisão."

Indagado pelo GP sobre as causas do acidente e se houve alguma tentativa de ajuda por parte da Stock Car, Tarso respondeu que "os levantamentos que foram feitos pela Polícia Rodoviária Federal, pela companhia de seguro e pelos peritos que nós mandamos verificar no local chegaram à conclusão que o motorista da carreta utilizou muito os freios traseiros na descida da serra, o que causou o superaquecimento dos freios e pegou fogo, e isso se espalhou para os pneus."

"Rapidamente queimou tudo porque dentro existiam mais pneus, combustível, borracha, fibra de vibra, e não teve nem jeito de combater isso. Muita gente tentou ajudar, mesmo a empresa responsável pela rodovia, mas não foi possível pelo que me disseram. Tanto que ficou tudo lá na estrada. Não veio nada para cá (Curitiba). E eu fiquei sabendo pela manhã, na segunda-feira. Nós tínhamos uma reunião aqui em Curitiba, quando me ligaram. A falta de informação aumentou ainda mais o nervosismo. Nós ficamos sem nada, depois daquela vitória em Interlagos. É triste", revelou.

A Stock Car não ajudou em nada, financeiramente. "Não houve esse tipo de negociação", contou. "O que existiu, lógico, foi o sentimento de solidariedade da organização, das outras equipes e dos patrocinadores. Mas quando chega no aspecto financeiro tudo fica mais difícil, inclusive os acordos, porque as contas continuam. O carro, por exemplo, é pago em parcelas, e nós temos de pagá-las ainda. Temos de pagar os motores que queimaram, porque os motores não são nossos. Os pneus que estavam lá", contabilizou.

"É uma situação que nós ainda estamos administrando. Mas não fizemos nenhuma negociação especifica. Também não sei se seria cabível, porque é uma coisa tão grande, e acho que a categoria nem teria estrutura para isso", acrescentou.

Por fim, De Tarso não soube dizer o que vai fazer a partir de agora. "Talvez ficar na praia em Miami... (risos). Não sei ainda muito bem. Vou deixar passar o tempo. Porque o tempo é que organiza os pensamentos e cabeça para ver o que vou fazer no próximo ano. Vamos ver. Talvez até alguma dentro do automobilismo mesmo, mas nos Estados Unidos. Porque é difícil dizer que nunca mais. Porque sai e volta. Você tem exemplos aí. O próprio Schumacher agora. Mas nós tivemos o Emerson, Niki Lauda. Por isso, é muito complicado. Mas eu não quero mais fazer o que estava fazendo, porque além de desgastante, não é um bom negócio do ponto de vista financeiro. Você ter uma equipe não é algo economicamente viável. É um desgaste tremendo, que te esgota."

3 comentários:

  1. acho que isso é só a pontinha do iceberg... essa mania de grandeza megalomaníaca da stock vai quebrar muitos mais!!!

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  2. Uma judiação, pilotos e equipes já lutam tanto contra diversos revezes da profissão, e agora mais essa...
    Mais uma equipe que se vai, infelizmente, de uma forma triste.
    Concordo também com a opinião do Igor.
    E lembrando a coluna do Téo José postada dias atrás, cadê a federação, com todo o dinheiro que arrecada, pra dar apoio numa hora dessas?

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  3. e aí junta-se aquele outro post que fala da Stock em Salvador e seus preços além da comparação de quanto sai para ir assistir a uma corrida lá fora com muito mais entretenimento e conclui-se o motivo de tanto desgaste citado pelo Paulo de Tarso... triste, mas verdadeiro!!!

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