quinta-feira, 30 de julho de 2009

INDY...NO RIO E A VALORIZAÇÃO DO AUTOMOBILISMO BRASILEIRO

Li esta notícia no Blog Victal:

A Indy está próxima de anunciar que vai fazer sua prova no Rio. A vantagem sobre Ribeirão Preto é grande, agora. Um pica-pau valente comentou que Terry Angstadt, presidente comercial da categoria, já saiu falando para equipes e pilotos que a corrida brasileira deve ser realizada nas rual da capital fluminense.

E tem outra: a prova ainda pode acontecer em fevereiro. Tem quem defenda sua realização logo após o Carnaval, ou no dia 21 ou 28.


Dai fui um pouco mais a fundo, e verifiquei um desabafo, do pessoal do SOS Autodromo do Rio:

Tudo começou em 2007, antes do anúncio oficial da parceria com a IRL, quando Brasil e Estados Unidos assinaram um acordo de cooperação de desenvolvimento de biocombustíveis.

A APEX procurou vários empresários brasileiros do setor para representá-los no exterior, uma espécie de empresa de lobby comercial, bancada pelo governo, para promover seus produtos.

Até aí não teria nada demais se não tivessem tentado dar um passo maior que as pernas, querendo forçar os EUA a baixar suas alíquotas protecionistas para beneficiar os produtores de cana do Brasil.

Diante da negativa inicial do governo norte-americano, que ainda era o de George W. Bush, os empresários decidiram dar uma cartada alta, e iniciaram conversações com a direção da Indy Race League (IRL), para vender o combustível para a categoria. Imaginavam assim que conseguiriam dobrar a resistência do governo diante do lobby que seria feito através da publicidade do combustível brasileiro, lembrando que a crise já estava começando a fazer seus estragos e o povo norte-americano começava a sentir seus efeitos.

Em novembro de 2008, no apagar das luzes do governo Bush, a UNICA (União da Indústria de Cana de Açúcar) assinou contrato com a IRL, através da APEX, que a representa, e com isso a agência governamental virou a principal patrocinadora da IRL em 2009, aparecendo em todos os releases como "major sponsor". Dessa forma, a APEX passou a ser conhecida pelos norte-americanos como uma empresa de fornecimento de combustíveis, o que ela não é , e com isso temos o governo brasileiro bancando corrida de carro no exterior para simular que está exportando combustível, só que na verdade uma verdadeira briga de foice é travada nos bastidores para que os EUA baixem a alíquota de importação de biocombustíveis, e enquanto isso os carros da IRL vão andando com etanol norte-americano mesmo, só que pago com dinheiro brasileiro.

O governo brasileiro já enterrou nessa brincadeira uma pequena fortuna, cerca de uns 20 milhões de dólares, isso apenas na Indy, pois a mesma agência já bancou um desfile de moda de um estilista famoso e até mesmo a ida de publicitários brasileiros a Cannes. No momento, a trupe da APEX está mabembando pelos EUA com um motor-home acompanhando as etapas da IRL, mostrando aos rednecks do interior dos EUA as riquezas do Brasil. Eles chamam isso de lobby, eu chamaria de farra com o dinheiro público.

Isso é um absurdo, enquanto que no Brasil os pilotos sofrem para conseguir patrocinadores, o governo esbanja para promover uma categoria estrangeira em dificuldades financeiras, nem mesmo a lei de incentivo ao esporte nos ajuda, com suas complicações jurídicas, controlando cada centavo declarado, passando por quinhentas mãos antes do contrato ser liberado, enquanto que o governo pode gastar desbragadamente sem prestar contas a ninguém.

Engana-se quem pensa que a IRL vem investir aqui, ela quer é dinheiro. Como já coloquei no post anterior, o investimento inicial para trazer a categoria para cá começa em 40 milhões de dólares, podendo passar de 100 milhões, só para trazer carros e equipamentos, pagar hotel, alimentação, tudo. Para se ter uma idéia, uma das condições é que se pague 150 mil dólares por equipe que venha para cá, livre de quaisquer despesas, são mais de 300 mil reais POR EQUIPE, apenas de cachê para os gringos pisarem na Terra Brasilis com suas possantes máquinas. Isso sem falar da questão de preparação do local da prova, que poderia custar outro montante de dinheiro ainda sequer estimado.

Quem pagaria esse valor? O Governo? Patrocinadores amparados pela lei de incentivo ao esporte? E como ficam os pilotos brasileiros? De pires na mão atrás de patrocinadores que nunca vêm porque a desculpa que dão para não investir é que "não dá retorno", "não aparece na TV", e o que dizer a Bandeirantes que corta as corridas da Indy para transmitir jogo de futebol e mesa redonda? É assim que querem promover corrida no Brasil?

Já que o país tem esse dinheiro pra investir em promoção de esporte, porque ninguém prestigia o automobilismo brasileiro que desde 1977 anda alimentado a álcool? Porque a Petrobrás e essa tal de UNICA, não abraçam o esporte que nos deu oito títulos mundias de F1, só para citar de memória, porque se for somar todas as categorias internacionais teríamos dezenas?

Na verdade é que acabou o dinheiro do mundo para ficar esbanjando sem retorno, seja para corrida de carro, olímpiada, copa do mundo, tudo isso custa caro demais porque tem gente demais ganhando demais, as coisas poderiam ser mais simples, mas não, tudo tem que ser grandioso, megalômano, super, hiper, mega, ultra, chega uma hora que o dinheiro acaba e não há como esconder.

Eles não estão interessados no nosso etanol, eles já produzem bastante, devidamente subsidado pelo governo deles, o que eles vêm buscar aqui é dinheiro de patrocínio, e para isso não se inibem em querer confiscar o Aterro do Flamengo para fazer uma corrida, pensando assim em atrair anunciantes brasileiros para injetar recursos para que possam sobreviver mais um ano e quem sabe assim superar a crise economica.

Isso tudo pode ser letra morta daqui a uma semana, quando será anunciado o calendário de 2010 da categoria, mas ajudou a ver a ponta do iceberg de como o governo gasta o seu dinheiro, e em quais prioridades ele aplica.


Quanto mais se aproxima o anúncio, maior sente-se o cheiro da podridão...

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