terça-feira, 14 de abril de 2009

A F-1 NA SUA ESSÊNCIA

Passando pela comunidade F-1 do orkut, me deparei com um tópico sobre a estória da corrida que deu o primeiro título à Fangio, e de tão incrível, resolvi transcreve-lá pra cá e compartilhar com vocês.
Muito, muito interessante.

A malandragem que rendeu o primeiro título de Fangio.
O argentino Juan Manuel Fangio ganhou cinco títulos em sua vitoriosa carreira na Fórmula 1, mas talvez o mais difícil de todos tenha sido o primeiro deles. Em 1951, o argentino corria pela equipe Alfa Romeo, que usava carros construídos antes da II Guerra Mundial e se preparava para deixar as pistas no fim daquele ano. A adversária de Fangio era uma escuderia novata chamada Ferrari, cujo desempenho começava a despertar a paixão dos fanáticos torcedores italianos.

No início da temporada, Fangio e a Alfa levaram vantagem. O argentino venceu o GPs da Súíça e da França e abriu vantagem no campeonato. Na Bélgica, o triunfo ficou com o companheiro de Fangio, o italiano Giuseppe Farina. A partir do GP da Inglaterra, porém, a Ferrari reagiu. Em Silverstone, o argentino José Froilan Gonzalez conquistou a primeira vitória da hoje lendária escuderia do cavalinho rampante. Na sequencia, o italiano Alberto Ascari, principal piloto da Ferrari, ganhou com tranquilidade os GPs da Alemanha e da Itália.

A sétima e decisiva prova do campeonato seria na Espanha. A corrida foi marcada para o circuito de rua de Pedralbes, localizado no subúrbio de Barcelona e que hoje está desativado. Fangio tinha dois pontos de vantagem para Ascari, mas o favoritismo era todo o italiano. No treino classificatório, Ascari sobrou e estabeleceu a pole position com quase dois segundos de vantagem sobre o adversário. Fangio precisava reagir e, ao lado do chefe de equipe Gioacchino Colombo, bolou a estratégia que lhe renderia o título.

A Ferrari tinha um carro mais rápido, leve e econômico do que o da Alfa, de modo que Ascari precisaria fazer menos paradas de pit stop do que Fangio. Então, quando os carros já estavam sendo alinhados no grid, veio a surpresa: o Alfa de Fangio apareceu com dois tanques de combustível extras. Isso significava que o argentino seria capaz de fazer a corrida inteira sem parar para reabastecer, o que anularia uma das principais vantagens da Ferrari.

A equipe de Ascari entrou em pânico. Era preciso reagir de alguma maneira. E assim, para aumentar a performance em pista, a Ferrari optou por colocar todos os seus carros com rodas de aro 16, menor do que o usual. Um erro catastrófico, e que custaria o título de Ascari. Fangio, com suas rodas de aro 18, largou bem e acompanhou o ritmo do italiano nas primeiras voltas. Logo tudo correria a favor do argentino.

Na sexta volta, a Ferrari começa a perceber que havia cometido um erro trágico: o italiano Piero Taruffi encosta nos boxes com um pneu furado. Uma volta depois, é a vez de Luigi Villoresi. Mais um giro e quem vai para os pits é Ascari, que perde muito tempo e volta no meio do pelotão. Ainda antes da metade da corrida, Gonzalez também sofre um furo e é obrigado a encostar nos boxes.

A rotina da Ferrari seria a mesma até o fim da corrida: seus pilotos paravam constantemente nos pits, com problemas incorrigíveis de pneu. Enquanto isso, Fangio disparava na ponta. Então, quando já estava tranquilo na liderança, o argentino vai aos boxes da Alfa Romeo e realiza um pit stop. Os mecânicos da Ferrari não acreditam no que estão vendo. Num "blefe" genial, Fangio e a Alfa largaram com os dois tanques de combustível extra vazios. O argentino perdeu tempo nos pit stops, mas já havia induzido a Ferrari ao erro que faria toda a diferença.

Na bandeirada, ao fim de 70 voltas, Fangio venceu com 54 segundos de vantagem para Gonzalez. Farina, na outra Alfa, terminou na terceira posição, seguido pela Ferrari de Ascari. Pela primeira vez na carreira, Juan Manuel Fangio era campeão mundial de Fórmula 1. Uma conquista que se tornaria rotina nos anos seguintes, quando o lendário "El Maestro" levou um total de cinco troféus de campeão.


Cada um tira a conclusão que quiser sobre o ocorrido, mas não usaria o adjetivo malandragem do titulo, mas sim, jogada de mestre, ou ainda, blefe, como diz o texto.
O mais importante é que, além de genial pra época, esse tipo de manobra representava a mais pura essência da competitividade, onde o improviso, genialidade, versatilidade, e as vezes até um pouco de loucura, foram caracteristicas marcantes por anos e responsáveis pelo sucesso da categoria.
Hoje, com essa F-1 tão elitizada e engravatada, isso se perdeu. Se o mecânico estiver com o tênis desamarrado, a equipe é punida. Saiu do ponto e vírgula da regra, a casa cai. Pisou na linha, é desclassificado. Cortou a zebra, é penalizado com tempo. E etc, etc, etc.
A verdadeira essência da F-1, aquela magia que tanto falamos por aqui, parece não ter mais importância face ao capitalismo que imperou na categoria, e ao emaranhado de regras que podam os (poucos) gênios atuais.
Infelizmente.

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